As jaulas de Trump e uma civilização que desmorona
Há tempos pessoas que lidam com o pensamento afirmam que estamos atravessando uma crise de civilização. As referências da humanidade para conviver em sociedade dissolveram-se no ar. Agora impera o salve-se quem puder dos países dominantes ou hegemônicos, isto é, Europa e Estados Unidos, além dos núcleos dos bem estabelecidos em outros lugares do mundo, como no Brasil.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Acontece que o resto da humanidade vive na instabilidade social, econômica, política e militar. As guerras no Iraque, Afeganistão, Síria, a instabilidade na Venezuela, as tragédias socioambientais e humanitárias, levam multidões a buscar outros lugares para sobreviver. A ONU fala em mais de 240 milhões de migrantes internacionais nesse momento da história.
Para sobreviver em seu "apartheid" os Estados Unidos fazem muro que os separa do México e do resto da América Latina, os israelenses dos palestinos, as cercas europeias dos países africanos e do Oriente Médio. É a tentativa desesperada de continuarem estáveis num mundo em transe.
Até para quem está acostumado a lidar com situações macabras e desumanas, chama a atenção as crianças enjauladas, filhas de imigrantes nos Estados Unidos. Um país que já foi o defensor dos direitos humanos não faz mais questão alguma de manter as aparências e dispensar um trato digno de humanidade a crianças ainda em situação de colo.
Não há como salvar uma burguesia internacional num mundo caótico. Mais cedo ou mais tarde as fronteiras cairão. A tendência é que a humanidade mergulhe cada vez mais na instabilidade, nos fluxos migratórios, na construção de muros, nas guerras, na eliminação de milhões de pessoas, até reencontrar um equilíbrio mínimo em nova etapa sobre a Terra.
A poda dos direitos, a relativização até da democracia burguesa, a indiferença com os descartados da Terra, fará com os corações endureçam, as políticas de autopreservação se estabeleçam. Porém, nada garante que os bem estabelecidos estarão seguros das hordas humanas que circularão pela face da Terra.
Sempre haverá nas periferias da humanidade aqueles que solidarizam com os descartados, sempre haverá rebeliões justas e com causa. É inútil pensar em ilhas de segurança num mundo instável. Por isso, também sempre haverá mentes e corações propondo um mundo mais inclusivo, com lugar para todos, verdadeiro caminho da paz.
A história dirá.
OBS: os militares brasileiros estão criando grupos de soldados para combater núcleos de instabilidade interna numa projeção de 50 anos. Estão cientes que o Brasil dos descartados também reagirá. Portanto, a estratégia dos militares - e da burguesia nacional - é combater os descartados, não propor um país mais inclusivo para todos os brasileiros.
Roberto Malvezzi (Gogó) é bacharel em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. É assessor de Movimentos e Pastorais Sociais.
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