Esse artigo [abaixo] do NYT sobre Rússia e Irã não traz sequer uma fonte para a 'informação' que vem na manchete, já logo repetida no primeiro parágrafo:
Irã revoga licença para que Rússia use base aérea: "Moscou traiu nossa confiança"
BEIRUTE, Líbano - Na 2ª-feira o Irã revogou a licença para que aviões russos voassem missões de bombardeio em território sírio a partir de uma base iraniana, apenas uma semana depois de ter aberto esse extraordinário acesso, dizendo que o Kremlin teria divulgado de modo inaceitavelmente indiscriminado e arrogante o privilégio.
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O ministro da Defesa do Irã, general brigadeiro Hossein Dehghan, acusou a Rússia de ter divulgado excessivamente o acordo, chamando a atitude de "quebra de confiança" e de "pouco cavalheiresca". O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Bahram Ghasemi, disse a jornalistas em Teerã que a permissão era temporária e "pelo menos por hora, acabou."
Não aparece aí uma única fonte que diga que o Irã "revogou" alguma coisa ou "anulou a permissão". Nem é tão surpreendente que essas coisas tenham sido ditas no Irã. Mas como é possível que o NYT'declare' tudo isso, por conta própria?!
Eis o que realmente aconteceu:
A Rússia vinha usando a base aérea iraniana em Hamadan para pousos e decolagens desde pelo menos novembro passado. É ponto de passagem e base para reabastecimento de voos da Rússia à Síria e foi usado para reparar aviões russos com um ou outro problema técnico ou mecânico:
Um bombardeiro russo Su-34 pousou na Base Aérea Hamadan dia 23/11/2015. O mais provável é que o Su-34 estivesse em rota para a Síria e teve algum problema técnico e optou por pousar em segurança em Hamadan. Ali foi atendido por uma equipe técnica que chegou dia seguinte, 24/11/2015, a bordo de um avião cargueiro IL-76, e fez os reparos necessários. Os dois aviões decolaram da base aérea Hamadan.
No início desse mês, a Rússia enviou bombardeiros de longo curso para Hamadan. Ali foram reabastecidos e armados com grandes cargas explosivas. Voaram dali à Síria, viagem curta, para destruir posições da al-Qaeda na província de Idlib. A Rússia, como o Irã, sabiam, evidentemente, que os governos 'ocidentais' veriam os bombardeiros pousados na base. São aviões gigantes, facilmente identificáveis em imagens de satélites. Para evitar qualquer uso propagandístico da questão, russos e iranianos divulgaram publicamente a movimentação.
O Irã opõe-se tradicionalmente, muito fortemente, a presença de tropas estrangeiras em seu território. Um grupo de 20 políticos conservadores da oposição usaram o anúncio da presença dos aviões russos para questionar o governo "moderado" de Rohani. Ontem, o ministro da Defesa do Irã lamentou que o anúncio feito pelos russos, com pleno conhecimento dos iranianos, de que a base havia sido 'emprestada' tivesse sido feito com excessivo alarido e absolutamente sem qualquer restrição. Por causa disso, o ministro teve de responder questionamentos do Parlamento e nenhum ministro, em país algum, gosta disso.
Mas em momento algum de sua fala o ministro iraniano disse que alguma coisa teria sido "revogada". Entrementes, e sem qualquer relação com essa questão, os bombardeiros russos voltaram para casa, depois de cumprida a primeira rodada das missões a serem voadas a partir de Hamedan.
Tudo, até aí, foi puramente uma questão da política interna do Irã e o governo Rouhani precisava apenas acalmar a oposição. O ministro da Defesa fez comentários sobre estilo, não sobre conteúdo de movimentos e ações. Que o NYT ponha a noticiar que o Irã teria "revogado" alguma coisa é e continua absolutamente inexplicável.
Os jatos e bombardeiros russos logo estarão de volta a Hamedan, provavelmente com anúncios menos espalhafatosos. Aqui está a confirmação disso, de um dos políticos de mais alto escalão no Irã:
O presidente do Parlamento Iraniano repetiu que os voos de aviões russos continuarão a decolar da base aérea Nojeh, em Hamadan.
Ali Larijani manifestou-se sobre o caso na sessão de abertura do Parlamento, na manhã de 3ª-feira, ao responder a comentários do deputado Mahmoud Sadeghi.
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Em resposta aos comentários do deputado, Ali Larijani destacou que os jatos russos continuam a cumprir missões militares para as quais decolam da base iraniana: "O Irã mantém a cooperação com a Rússia na luta contra o terrorismo, e a aliança entre os dois países beneficiará os muçulmanos na região."
Como tantas outras matérias ditas 'jornalísticas' sobre Síria e Irã, também essa matéria do NYTaproxima-se mais de pura ficção, que de fatos.
Para conhecer a realidade da guerra em curso, em campo, matérias não jornalísticas, baseadas em conhecimento histórico e local consistente são muito mais úteis que qualquer coisa que se possa encontrar nos veículos da mídia-empresa 'ocidental' dominante. Para compreender realmente os conflitos e as alianças em construção e em andamento, muito melhor se dedicar a ler coisas como Washington's Sunni Myth and the Middle East Undone [em tradução (NTs)]. Aquela, sim, é informação valiosa, útil, necessária e que se recomenda vivamente, em vez do des-jornalismo e das des-notícias de des-informação, do NYT [e de O Estado de S.Paulo, de Rede Globo, de Folha de S.Paulo, de revistas Veja & coisa e tal, então, nem se fala! (NTs)]. ******
New York Times (NYT): mentiras sobre o Irã e
'notas' sobre 'conflito' com a Rússia... sem fontes!
23/8/2016, Moon of Alabama
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