A Bolívia começa a campanha pelo referendo de 21 de fevereiro, quando se decidirá se Evo Morales e Álvaro García Linera poderão se candidatar a um novo mandato presidencial, a partir de 2020. Trata-se de uma reforma da Constituição, já aprovada pela Assembleia Nacional, submetida agora a um referendo popular.
Por Emir Sader. 03-01-2016. Rio de Janeiro - Brasil
Trata-se de submeter ao povo o direito a seguir governando quem promoveu a mais gigantesca transformação econômica, social, política e cultural que o país viveu em toda a sua história. De país pertencente ao grupo dos mais pobres do continente, junto com Honduras e Haiti, a Bolívia se transformou no caso mais extraordinário de sucesso no continente, em todos os planos.
Basta recordar que a Bolívia tinha 63% de sua população sumida na pobreza, dos quais 37% eram extremamente pobres. Cada boliviano devia quase US$ 600, por uma dívida contraída por sucessivos governos com um montante total de US$ 5,14 bilhões. O investimento público chegava a apenas US$ 629 milhões. O PIB era de US$ 9 bilhões. Os recursos naturais do país tinham sido entregues a grandes empresas transnacionais.
Nos quase dez anos do governo de Evo Morales, a extrema pobreza foi reduzida pela metade, de 37% a 18% da população. As reservas internacionais aumentaram até chegar a US$ 15 bilhões. O país deve cada vez menos, diminuindo sua dívida pública de 74,3% a 35,2% do PIB. O investimento público aumentou de US$ 629 milhões para US$ 24,56 bilhões. O PIB boliviano aumentou quatro vezes, passando de US$ 8 bilhões em 2005 para US$ 34 bilhões.
A Bolívia tinha apenas 558 ambulâncias; agora dispõe de quase o triplo: 1.440. A mortalidade materna era de 29 mães por cem mil nascidos vivos. Agora diminuiu para quase nove. Os bolivianos dispõem agora de um subsídio pré-natal, podem ser atendidos por 221 novos estabelecimentos de saúde. 100% dos bolivianos dispõem de serviços de saúde.
O salário mínimo passou de 440 pesos bolivianos a 1.656, com um aumento de 380%. Mais de 42% dos bolivianos recebem bônus, que melhoram suas condições de vida. 100% dos bolivianos contam com agua potável, com serviços de comunicação telefônica e de internet, com serviços de energia elétrica e de luz, estão conectados por meio de sistemas de comunicação fluvial e de satélites.
Enquanto os grandes proprietários rurais tinham 39,24 milhões de hectares, o governo de Evo distribuiu 23 milhões de hectares para comunidades, 19 milhões para camponeses interculturais e 7,5 milhões para empresários.
As empresas multinacionais ficavam com 82% da produção de hidrocarbonetos, deixando para o Estado apenas 18%. O Estado boliviano passou a deter 100% das riquezas nacionalizadas.
A Bolívia se tornou um território livre de analfabetismo, mesmo sendo um país em que falam tantos idiomas distintos, como o castelhano, o aymara, o quéchua, o guarani, entre tantos outros.
O Congresso Nacional boliviano está composto por uma maioria de mulheres, entre as quais predominam as indígenas.
É por todas essas razões e pelo que se programa realizar até 2025 que Evo Morales começou a campanha pelo seu direito a se candidatar a um novo mandato de 2020 a 2025.
O governo enfrenta resistências, especialmente depois que foi revelado um caso de corrupção no Fundo Indígena, comprometendo dirigentes do governo, alguns próximos pessoalmente do próprio Evo. Tudo está sendo rigorosamente investigado, os acusados perderam seus cargos e vários deles já estão na prisão. Mas a direita se aproveitou para desatar uma nova campanha discriminatória contra a imagem dos indígenas, retomando seus velhos preconceitos, tentando com isso afetar a imagem do próprio Evo.
As pesquisas, que dão apoio amplamente majoritário ao governo, até o começo da campanha não favoreciam o sim à nova reeleição de Evo. Mas o clima começa a mudar conforme Evo e Álvaro García Linera saem por todo o pais - são os únicos governantes que já visitaram praticamente todos os municípios da Bolívia - difundindo seus argumentos e seu plano de concluir essa etapa de formidáveis transformações da Bolívia até 2025.
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