OPINIÃO: Na Grécia surgiu um Syriza que anulou o desacreditado Pasok, adoptando a agenda deste último. Em Portugal, foi o PS que se preveniu e prepara a sua sobrevivência cooptando a esquerda parlamentar. Dois caminhos diferentes para uma normalização neoliberal em tempos de crise duradoura.
Contra todas as expectativas (nossas também), gerou-se um governo PS, apesar do medíocre resultado eleitoral de António Costa, só possível com o apoio, o não desapoio ou ainda, a neutralidade da "esquerda" BE/PC, para além do berloque "Os Verdes".
Cabe aqui uma referência à campanha de desinformação do duo dos ressabiados Passos/Portas secundados pelo imputado burlão Marco Antonio Costa. A acusação de "esquerda radical" ao BE/PC é de todo descabida porque dirigida a formações sociais-democratas fora do tempo, sem críticas ao capitalismo, que cultiva hierarquias e autoridade, crentes no keynesianismo, ou mesmo num neoliberalismo reformado, de "face humana", na democracia de mercado, com eleições que reciclam no poder os mesmos do costume. Digamos que são conservadores ma non troppo.
A acusação de "esquerda radical" é uma atualização pela direita trauliteira e pós-fascista actual, dos medos incutidos em 1975, num povo semi-analfabeto e beato, deliberadamente assustado com a ideia de que os comunistas "comiam criancinhas"; hoje, os portugueses não são semi-analfabetos mas, despolitizados o suficiente para não reagirem a tão grosseira propaganda. Nem a mansa imprensa, naturalmente, reage a tamanha falsificação.
Aliás, essa falta de radicalidade da dita esquerda é bem clara pelo facto de, após decénios de prática favorável ao capitalismo por parte do PS, continuarem a considerá-lo como uma força política de esquerda.
Há um começo histórico para essa atitude que remonta ao período que se seguiu às primeiras eleições, em 1975. O PC tinha então enorme influência no poder e procurava adiar as eleições sine die; aquelas acabaram por se realizar, deram um resultado decepcionante para o PC e os seus apêndices (MDP e FSP) e um larga vantagem ao PS. Como não podia negar essa realidade, o PC avançou com a ideia de que havia uma maioria (PS+PC) favorável ao socialismo (?), uma maioria de esquerda, no que foi mais ou menos seguido, por outros grupos que se alimentavam da mitologia "socialista". Mesmo depois do golpe de 25 de novembro, essa ideia da maioria de esquerda manteve-se, numa atitude messiânica que foi alicerçando esse mito conservador de que o PS é progressista por mais que os seus comportamentos, em regra de caráter anti-social, tenham invalidado mudanças substantivas a favor da multidão. Como Costa irá provar.
Isso teve desde sempre o mal disfarçado intuito, hoje concretizado, de estabelecer uma osmose, entre a direita e a esquerda do sistema partidário, a manutenção do actual regime de capitalismo low cost e de uma "democracia" na qual à esmagadora maioria está vedado o acesso a responsabilidades políticas; e ainda, que permita o regular acesso ao pote e às mordomias, pelos caciques dessa esquerda. Nessa continuada política passaram decénios a branquear a atuação da direita, posicionando-se ao lado de uma das alas do partido-estado, contra a outra, como um pêndulo; ora estiveram ao lado de Passos para derrubar Sócrates, como de Costa para afastar Passos, com o programa a seguir dentro de momentos.
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