Por PEDRO VALLS FEU ROSA
Você sabe o que é benzeno? Segundo uma enciclopédia que consultei, trata-se de um líquido tóxico cujos vapores, se inalados, causam tontura, dores de cabeça e até mesmo inconsciência. A longo prazo seus vapores causam sérios problemas sanguíneos, tal como a leucopenia.
O benzeno é uma substância utilizada como solvente de iodo, enxofre, graxas etc., sendo ainda matéria-prima na produção de compostos como plásticos, gasolina, borracha sintética e tintas. Trata-se, finalmente, de uma substância comprovadamente carcinogênica.
Você sabe o que é uma substância carcinogênica? Segundo um dicionário de termos médicos que consultei, "trata-se de uma substância com potencial cancerígeno, isto é, que tem como propriedade o potencial de desenvolvimento de câncer, como a nicotina, o benzeno e as radiações".
Há algum tempo li uma séria e muito bem produzida reportagem sobre a presença do benzeno em alguns refrigerantes. Sim, em alguns daqueles refrigerantes que consumimos todos os dias. Foram comprovadas, nestes, quantidades de benzeno até quatro vezes superior ao limite máximo permitido pela lei.
Cito um pequeno trecho da longa reportagem: "Uma análise desenvolvida pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor Pro Test, e publicada pela Folha de São Paulo, descobriu em sete das 24 marcas de refrigerantes investigadas substância cancerígena, o benzeno. Os outros 17 rótulos apresentam compostos que causam osteoporose, alergia, diabetes e hipertensão".
Em alguns países isto daria margem a um escândalo de graves proporções, a exames complementares imediatos com resultados amplamente divulgados e ao eventual recolhimento dos produtos que podem induzir câncer das gôndolas dos supermercados, dos bares e dos restaurantes. Seguir-se-ia uma apuração rigorosa e, constatada a falta, a responsabilização impiedosa dos eventuais culpados. Afinal, o cenário é gravíssimo: trata-se de bebida servida a toda a população, inclusive às nossas crianças.
Vamos a alguns exemplos. Lá no Japão, há poucos meses a empresa Fujiya viu-se obrigada a retirar do mercado e a não mais vender os bolos que produzia - a fiscalização sanitária japonesa descobriu que estavam sendo utilizados alguns ingredientes com o prazo de validade esgotado. Não adiantou a empresa sustentar que todos os seus produtos estavam próprios para consumo, conforme comprovado por testes de laboratório. Não, não é esta a questão: nestes assuntos, o que importa é uma palavra denominada "confiança" - afinal, falamos dos alimentos que consumimos.
Na Inglaterra, há um ano, a presença de salmonela em algumas barras de chocolate fabricadas pela empresa Cadbury causou a pronta retirada de todas as unidades da marca expostas em lojas e supermercados - um volume de produtos avaliado em torno de US$ 50 milhões.
Nos Estados Unidos, no ano de 2003, a empresa Phillip Morris foi multada em US$ 10 bilhões. O motivo: vendeu cigarros light como sendo menos nocivos. Ainda naquele país, em 1999, autorizou-se a venda de um dado medicamento contra inflamações chamado Vioxx. Um ano depois, esta droga foi associada à elevação do risco de ataques cardíacos. No ano de 2002, a viúva de uma das vítimas processou a empresa, e foi indenizada em US$ 26 milhões. Pouco depois, após sucessivas derrotas no Judiciário, o laboratório ofereceu a 47 mil outros parentes de vítimas, identificadas em cerca de 6,4 mil processos, um valor total de US$ 4,85 bilhões.
Enquanto isso, no denominado "Terceiro Mundo", até onde sei, continuam os refrigerantes objeto de tão detalhada denúncia, baseada em exames de laboratório, absolutamente impávidos e à venda em qualquer esquina. Aqui, na dúvida, que continuem as vendas!
Diante de tal quadro fico a pensar, parodiando Euclides da Cunha, que o pobre tem mesmo que ser um forte!
PEDRO VALLS FEU ROSA é Desembargador do Poder Judiciário Brasileiro, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, Sudeste do Brasil.
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