O retorno ao país de Sabino Augusto Montanaro, ministro do Interior da ditadura de Alfredo Stroessner, reabriu feridas e desencadeou uma série de mobilizações contra os crimes cometidos pelo Estado.
O golpe militar no Paraguai completa 55 anos nesta segunda (4) e sua trágica memória não poderia estar mais viva. O retorno ao país de Sabino Augusto Montanaro, ministro do Interior da ditadura de Alfredo Stroessner, reabriu feridas, provocou reações e desencadeou uma série de mobilizações em defesa de justiça nos crimes cometidos pelo Estado.
Refugiado em Honduras há 20 anos, Montanaro chegou ao Paraguai na madrugada da última sexta (1º). Depois das manifestações pelo Dia do Trabalhador, um grupo de militantes de partidos de esquerda e ativistas de direitos humanos se dirigiu ao Sanatório Adventista, onde Montanaro estava internado sob custódia policial. Houve conflito com a Polícia Nacional no momento em que o ex-ministro era transferido para um hospital policial. Desde sábado à noite, ativistas fazem vigília em frente à instituição.
Considerado uma das figuras públicas do regime de Stroessner, Montanaro era o responsável pelas ordens de tortura e execução e também teria tido envolvimento com a Operação Condor.
Ele decidia sobre a vida e a morte das pessoas. Perseguia abertamente os que pensavam diferentes, afirma Guillermina Kanonifof, viúva de Mário Schaerer Prono, assassinado pelo regime aos 23 anos. Ela conta que em duas ocasiões falou com o então ministro Montanaro. Numa dessas vezes, ele disse que mataram meu marido porque ele constituía um perigo para a paz da república, conta.
Nesta segunda, Guillermina reabriu seu caso na justiça. Vítimas da ditadura, familiares de desaparecidos e ativistas dos direitos humanos acertaram reabrir demandas judiciais contra o ex-ministro e esperam que outros casos apareçam agora que ele se encontra no país. O desejo é de que Montanaro possa dizer onde estariam enterrados os desaparecidos da ditadura militar.
Espero que este senhor esteja em condições de dizer onde estão nossos desaparecidos, afirmou Rolando Goiburu, filho de Agustín Goiburu, médico e dirigente político desaparecido em 1997 no marco da Operação Condor.
Apesar da idade avançada do repressor, a expectativa é que ele seja condenado por crimes de lesa-humanidade, sendo levado a Tacumbú, prisão comum de Asunción. Este não é um caso qualquer. É um caso paradigmático, afirma o advogado Martin Almada, ativista dos direitos humanos.
A incerteza diz respeito ao estado de saúde de Montanaro. Aos 86 anos, ele sofre complicações da velhice. Familiares das vítimas acreditam que ele esteja sendo sedado para que seja declarado em estado de demência e não precise prestar esclarecimentos à justiça. Uma enfermeira particular, de Honduras, estaria cuidando de Montanaro. Rolando Goiburu esteve no quarto onde está internado e diz que o ex-ministro estava lúcido, porém dava sinais de que havia sido sedado.
No sábado, o presidente paraguaio Fernando Lugo recebeu vítimas e familiares na residência oficial da presidência e anunciou a constituição de uma comissão para recuperar bens mal-havidos por integrantes da ditadura militar. Martin Almada anuncia para esta segunda a ocupação de uma mansão pertencente à família de Stroessner, onde espera criar uma universidade popular.
Daniel Cassol
Assunção, Paraguai
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