A crise governamental georgiana que acompanhamos atualmente embora não reflita a realidade da dinâmica do sistema internacional, reflete problemas regionais que não tem contribuído e nem contribuirão para o desenvolvimento da Geórgia e do seu relacionamento com os países vizinhos.
Observamos constantemente a necessidade de ações conjuntas, parcerias econômicas e junções de posições políticas em fóruns internacionais, representadas através de blocos de países, organizações e empresas, isso decorrente do efeito da interdependência política e econômica das nações. Na União Européia as últimas adesões e o debate acerca da possível adesão da Turquia, refletem a emergência da cooperação estratégica em uma época de incertezas políticas e econômicas, como evidenciado na crise no Oriente Médio e a ameaça do terrorismo, a política belicosa norte-americana aliada a sua desaceleração econômica.
Mesmo na América latina com a postura ofensiva do presidente venezuelano Hugo Chaves, temos a percepção por parte dos membros do Mercosul da importância da sua participação como parceiro econômico, nesse sentido o debate para sua adesão plena ao Mercosul está em andamento.
No leste europeu a Rússia tem se engajado firmemente, inclusive como item prioritário na sua política externa, no desenvolvimento do relacionamento político e econômico com os países vizinhos componentes da CEI Comunidade dos Estados Independentes, buscando um fortalecimento e cooperação econômica, com desenvolvimento político e democrático, posicionando-se consistentemente diante de questões estratégicas regionais. Uma cooperação regional fortalecida é imprescindível para um posicionamento frente aos EUA e sua proposta de implantação do seu escudo antimíssil, do Oriente médio no processo de estabilização de Israel e na questão nuclear iraniana, e no que tange a expansão da OTAN para o leste europeu e Ásia Central.
Portanto a posição ofensiva de Mikhail Saakashvilli afirmando que os problemas georgianos são exclusivamente culpa da Rússia é incoerente, naturalmente suas acusações visam desviar o foco das atenções internacionais da precariedade de sua administração a qual somente piorou os níveis de desenvolvimento social e governamental georgiano, bem como desestabilizou as repúblicas da Abkhazia e Ossétia do Norte. Naturalmente a Rússia preocupa-se com a possibilidade de independência de Kosovo, pois semelhantemente à Chechenia a independência de qualquer um desses atores causaria um efeito dominó na região o que desestabilizaria qualquer processo de desenvolvimento, mergulhando a região em uma grave crise. Mesmo a busca de apoio ocidental por parte desses interessados, particularmente o americano, é altamente precipitado, pois esse tipo de aporte financeiro ou político não se comprovaram eficazes em outras partes do mundo, como exemplo no Afeganistão, Iraque e Sudeste Asiático.
Por isso a percepção do grau de interdependência entre os países da CEI e o grau de importância para o desenvolvimento da região é imprescindível para o desenvolvimento conjunto e o fortalecimento de posições dessas nações no cenário internacional, a população georgiana já percebeu isso visto que apóia a aproximação com a Rússia, resta ao governo georgiano desvincular-se de sua visão imprecisa da ajuda internacional e perceber a necessidade da cooperação regional.
Dimas Melo
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