Rafael Correa, presidente do Equador, condecora Manuela Sáenz, uma das maiores heroínas da História, com motivo do 185º aniversário da Batalha de Pichincha, que deu a independencia a Quito da Espanha. É uma maravilhosa homenagem a Manuela Sáenz e a todas as mulheres, resgatando o momento atual que o país vive.
Rafael Correa, presidente do Equador, condecora Manuela Sáenz, uma das maiores heroínas da História
Manuela Sáenz: Valentia e paixão na luta pela libertação das Américas
"Manuela Sáenz, se ontem foste a luz morena do Pichincha, hoje és, e para sempre, Generala da República do Equador", afirmou o presidente do Equador, Rafael Correa, em discurso que publicamos na íntegra...
Desde os primeiros dias do governo da Revolução Cidadã iniciamos uma espécie de balanço e reparação do que o Neoliberalismo havia produzido com sua ignominiosa prepotência, selvageria e insensibilidade.
Em 15 de janeiro dissemos: que ninguém tenha dúvida, nosso governo será bolivariano e alfarista (referência a Eloy Alfaro, líder da revolução liberal no Equador). Hoje, 24 de maio, ao comemorar 185 anos da Batalha de Pichincha, começamos a ajustar contas com a História.
O nome de Manuela Sáenz foi escondido, vilipendiado, esquecido por décadas e décadas. As cartas íntimas, diários e documentos foram ocultados por mais de 130 anos. Para muitos, não cabia enaltecer a figura de quem lhes parecia mais concubina e adúltera que a expressão mais pura da revolução, da coragem, da independência e do amor.
Essa Manuelita Sáenz Aizpuru, que padeceu a pecha social de ser filha ilegítima, entregue, de acordo com as convenções da época, ao Monastério de Santa Catalina, órfã de mãe, ganhou o carinho de sua madrasta e o amor de seu pai, Simon Sáenz. Os registros de sua infância a mostram brincando no jardim, com olhos vivos e curiosos, solta e bela em seu espírito insubordinado, como antecipando o que seria a prática de sua vida: a curiosidade, a valentia e a paixão.
ORDEM DE CAVALEIRA DO SOL
Após seu casamento, Manuela reside em Lima e nessa cidade se inicia sua cruzada libertária. Influi para que o batalhão espanhol Numancia rompa as amarras com os conquistadores e forme parte das fileiras patrióticas. Sua atividade conspirativa lhe valeu o reconhecimento do General José de San Martín, que a condecorou com a Ordem de Cavaleira do Sol.
Fez amizade com Rosita Campuzano, de Guaiaquil, companheira de amor e ideais de San Martín. De volta a Quito, e com os acontecimentos da Batalha de Pichincha, Manuela se incorpora à luta ao se apresentar para colaborar com o exército independentista. Participa no auxílio aos feridos e, após a capitulação espanhola, faz amizade com o Marechal Sucre. Conhece Bolívar em 16 de junho de 1822, e se inicia um dos mais belos romances de nossa história.
Em setembro de 1823, Bolívar se encontra em Lima e ao interar-se de um motim em Quito, escreve a Manuela expressando sua preocupação e admiração por dissolver "... com a intrepidez que te caracteriza, esse motim que emperrava a ordem legal estabelecida pela República..."; assim mesmo pede que venha imediatamente a Lima para assumir a Secretaria da Campanha Libertadora e de seu arquivo pessoal, e ordena ao Coronel O´Leary realizar os arranjos necessários para a chegada de Manuela e sua incorporação ao Estado Maior Geral com o posto de soldado de cavalaria.
Em 9 de junho de 1824, Bolívar, do Quartel Geral de Huaraz, convida Manuela a marcharem juntos para Junín. A resposta de Manuela, dada em 16 de junho, revela sua maneira orgulhosa e altiva: "... meu amado, as condições adversas que se apresentam no caminho da campanha que você pensa realizar, não intimidam minha condição de mulher, pelo contrário, eu as desafio. Que pensa você de mim? Você sempre me disse que tenho mais calças que qualquer de seus oficiais. Ou não?..."
Tantas coisas fez Manuela pela libertação. Organizou, junto a Bolívar, o que ela chamou "um verdadeiro comissariado de guerra". Coletava sucata, confiscava sinos, extraía pregos de estanho dos bancos, tudo para a fabricação de armamentos. Organizou a construção de oficinas para fiar lã para os uniformes da tropa. Bem, podemos dizer que nosso programa Fiando o Desenvolvimento, tem sua patrona e madrinha na figura de Manuela.
Apesar dos conselhos de Bolívar, e das sugestões a Sucre para que se encarregasse pessoalmente do cuidado com Manuela nos dias da Batalha de Ayacucho, ela contradisse a ordem de se resguardar, e a carta de Sucre a Bolívar evidencia o heroísmo de nossa Manuela. Sucre Escreve: "... incorporando-se desde o primeiro momento à divisão de Cavalaria e logo à de Vencedores; organizando e proporcionando o apetrechamento das tropas, atendendo os soldados feridos, enfrentando-se a tiros sob o fogo inimigo, resgatando os feridos... ; Dona Manuela merece uma homenagem em particular por sua conduta, pelo que rogo a Sua Excelência que lhe outorgue o grau de Coronel do Exército Colombiano".
Bolívar, entre feliz e orgulhoso, comunica a Manuela sua surpresa de que "...minha ordem de que te conservasses à margem de qualquer encontro perigoso com o inimigo, não foi cumprida, mas, apesar de sua desobediente conduta, estimula e enobrece a glória do Exército Colombiano, para o bem da 'pátria e, como exemplo soberbo da beleza, impondo-se majestosa sobre os Andes'. Minha estratégia deu-me a razão de que tu serias útil ali; enquanto recolho orgulhoso no meu coração o estandarte do teu arrojo para nomear-te como se pede, Coronel do Exército Colombiano".
Após a morte do Libertador, e exilada em Paita, Manuela recebe visitas de Garibaldi, Herman Melville, Simón Rodríguez, González Prada. Sua lealdade ao Libertador a acompanhou até os terríveis dias em que uma epidemia de difteria terminou com a existência física de nossa Manuela, em novembro de 1856.
Pablo Neruda dedicou a Manuela a formosa e triste elegia: A Insepulta de Paita, onde diz, neste breve fragmento: "Esta foi a mulher ferida. Na noite dos caminhos teve por sonho uma vitória, teve por abraço a dor, teve por amante uma espada. Tu foste a liberdade, Libertadora enamorada".
Manuela está na evocação de Garcia Márquez, que, ao contar as últimas horas de Bolívar a descreve: "Fumava um cachimbo de marinheiro, se perfumava com água de verbena, que era uma loção de militares, se vestia de homem e andava entre soldados, mas sua voz afônica seguia sendo boa para as penumbras do amor".
Manuela: Tu és a luz desperta dos tempos escuros. És nossa compatriota e nosso destino. Hoje és memória viva da Liberdade. Hoje és o espelho em que outras mulheres se miram e se agigantam.
O governo da Revolução Cidadã, confesso em sua adesão à figura de Manuela, se orgulha em contar em seu gabinete com mulheres patriotas que dirigem os destinos de seus ministérios com a maior consagração e devoção pelo povo equatoriano.
Está conosco a memória de Guadalupe Larriva, incomparável companheira socialista.
Os programas e projetos do governo vão dirigidos para a mulher, para sua sobriedade e sabedoria no manejo de recursos, para sua condição de mães e protetoras do lar.
A maior homenagem a Manuela se expressa nos projetos para dotar de trabalho e salário digno as mães solteiras; na proteção às mulheres vítimas de maltrato familiar e violência doméstica; em dotar de condições de dignidade humana mulheres que padecem privações de sua liberdade; na entrega de microcréditos para que as mães dirijam a economia e as pequenas unidades de produção familiar.
O tributo a Manuela se manifesta na Campanha Nacional de Saúde, Solidariedade e Responsabilidade Social, em que as mulheres e mães são as co-autoras do bem-estar social; na Comissão da Verdade, que esperamos informará, enfim, o paradeiro de filhos desaparecidos a suas desesperadas mães; na entrega do Bônus de Habitações; no orgulho das mães trabalhadoras, com quem tivemos o privilégio de desfilar no Primeiro de Maio.
O reconhecimento à memória de Manuela se traduz na melhoria salarial das mães e mulheres que realizam trabalho doméstico; na desventura das mães que sofreram pela fumigação e a desatenção do Estado; nas mães Tagaeris e Taromenanis, e demais nacionalidades e povos, sempre oprimidos e postergados.
Este é o maior manifesto à memória de Manuela: A consagração diária e permanente a lutar pelos despossuídos e pelas reivindicações das mulheres, de Matilde Hidalgo, Manuela Cañizares, Manuela Espejo, Nela Martínez, Dolores Cacuango, Alba Calderón, e de todas as mulheres anônimas de nossa história passada e presente.
Nada vai frear o ímpeto da memória. Nenhuma conspiração vencerá este povo que caminha altivo para a liberdade. Nenhum complô poderá com a vontade indômita dos cidadãos e cidadãs desta terra sagrada. Nenhuma conspiração artificiosa e desleal voltará a submeter o povo equatoriano. Nenhum ardil poderá emboscar esta insurreição e a decisão livre e soberana de amar nossa própria História, nossos próprios heróis, nossa própria vida.
Manuela Sáenz: Se ontem foste a luz morena do Pichincha, Soldado de Cavalaria do Exército Maior Independentista , Cavaleira do Sol, Libertadora do Libertador, Coronela do Exército Grancolombiano, Insepulta de Paita, hoje és, e para sempre, Generala da República do Equador.
És tudo isso, mas nunca será suficiente para tua estatura indomável, generosa e libertária.
Generala Manuela Sáenz! Até a vitória sempre!"
Ler original em Hora do Povo
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