O assassinato do ex-Presidente Saddam Hussein em Bagdade foi talvez o pior exemplo de cegueira política demonstrada mais uma vez pelo incompetente e incapacitado regime de Bush.
Desde o início, a guerra no Iraque careceu de um preceito fundamental: a legalidade. Desde o início, o tribunal estabelecido para julgar Saddam Hussein e outros membros do Governo Baatista careceu de um preceito fundamental: a legitimidade, opinião expressa por numerosos peritos internacionais.
Desde o início, a política externa seguida pelo regime de Bush (as mentiras de Colin Powell na ONU, as fantasias e disparates de George Bush, que não só sabia que o Iraque tinha ADM mas até sabia onde estavam, a campanha choque e pavor que não foi menos do que um acto de chacina criminosa), provou ser inteiramente fora de passo com o resto da Humanidade, uma espécie de espasmo hitleriano que afecta o nosso planeta de tantos em tantos anos.
O acto criminoso de invadir uma nação soberana fora dos auspícios da ONU, de escolher como alvos estruturas civis com equipamento militar, de retirar de funcionamento o Estado, de forma tão irresponsável, enviou a sociedade iraquiana três séculos pata trás em três anos. As mulheres, por exemplo, perderam quaisquer direitos que ganharam sob o Governo de Saddam, e agora nem sequer podem sair de casa sem temerem pelas vidas (quantas são decapitadas em plena luz do dia por não usarem o véu?) e a religião já não é um assunto particular mas sim uma causa para ser morto, enquanto os Curdos pela primeira vez lutam para manter a lei Sharia fora da sua Constituição.
Bem-vindos ao Iraque de George Bush.
A violência sectária aumenta dia após dia e as baixas civis chegam a proporções chocantes dezenas de milhares por ano. Neste cenário, o que pretendia o regime de Bush ganhar com o assassinato de Saddam Hussein de forma tão bárbara, na véspera de uma celebração religiosa?
Será que o Presidente norte-americano acredita que duas acções más criam uma certa? Ele deveria saber Saddam Hussein foi enforcado por assinar 148 mandatos de execução por alta traição, enquanto George Bush assinou 152 mandatos de execução quando era Governador de Texas por crimes menores.
Com a comunidade Sunita a deplorar este acto criminoso e cruel e alguns sectores da comunidade Xiita a celebrarem, quanto mais perto da guerra civil quer o Bush empurrar a sociedade iraquiana?
A rapidez com que despacharam o Saddam Hussein para o além levanta a suspeição que Washington tinha algo a esconder. Por quê é que só mostraram pequenos extractos do julgamento? Por quê é que Saddam não tinha o direito de se defender plenamente? Por quê é que ninguém ouviu o lado dele? Quem vendeu as armas para ele? Quem vendeu o gás? Sob as órdens de quem? Foi mesmo o Governo do Iraque que atacou os Curdos ou foi algum estado vizinho com uma questão curda a resolver numa altura em que seria mais fácil passar a culpa a outro?
São perguntas às quais nunca saberemos as respostas porque o Governo dos Estados Unidos da América não tinha a coragem de encarar a verdade. O assassinato de Saddam Hussein foi por isso um acto criminoso de cobardia, criando um mártir onde teria sido tão fácil deixar um monstro.
Este acto sórdido demonstra e realça as características criminosas e assassinas de George Bush, o homem, e a Presidência dos Estados Unidos da América. Afinal o monstro se senta na Oval Office.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
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