No último dia 21, realizou-se em Córdoba, Argentina, a XXX Cúpula de Chefes de Estado e Governo do Mercosul. Embora tenha durado apenas um dia, a Cúpula teve resultados bastante importantes, e mostrou que o Mercosul continua crescendo, apesar de alguns problemas.
A Cúpula contou com os presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Chile, Bolívia, Cuba, e o ministro de relações exteriores do México, que discutiram alguns problemas que afetam as relaçoes entre os países da região, e assinaram vários acordos.
Um dos problemas mais graves é o conflito entre a Argentina e o Uruguai. As relações continuam tensas, devido às construção de duas fábricas de papel em território uruguaio, próximo à fronteira argentina. O governo de Montevidéu não abre mão das instalações das fábricas, o maior investimento que este país já recebeu, enquanto Buenos Aires alega que as fábricas contaminarão território argentino. O caso atualmente se encontra arbitrado pela corte internacional de Haia, e não há previsão de que seja solucionado em breve.
Outro problema foi a decisão do presidente boliviano Evo Moralez de nacionalizar o petróleo e aumentar o preço do gás vendidos às Argentina e ao Brasil. O presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, reclama por causa das perdas de investimentos feitos pela estatal petrolífera Petrobrás, além do aumento do combustível que isso gera aos consumidores. Já o presidente argentino, Néstor Kirchner, resolveu a questão de maneira diferente: para manter o preço interno do gás aos consumidores de seu país, aumentou em 100% o preço do gás que é exportado ao Chile. O que, obviamente, tem gerado protestos por parte do governo de Michele Bachelet, que acusa a Argentina de violar contratos.
Porém, não se pode negar os avanços do Mercosul, que são talvez maiores que os problemas. É a primeira vez que a Venezuela participa como membro pleno do bloco, e o presidente deste país, Hugo Cháves, voltou a reiterar a inteção de construir um gasoduto ligando a Venezuela ao Brasil e à Argentina. A entrada da Venezuela ao Mercosul tem grande importância econômica, considerando que é a terceira maior economia da América do Sul e o quinto maior produtor de petróleo do mundo.
Outro anúncio importante foi a confirmação de que o México tem intenção de em breve integrar o Mercosul como membro associado, num brevíssimo discurso (de apenas 30 segundos) do ministro mexicano do exterior, Luiz Ernesto Derbez. Segundo ele, o atual presidente do México, Vicente Fox, pretende visitar a América do Sul e assinar o acordo para ingressar no Mercosul antes ainda do término de seu mandato.
Também foi assinado um acordo de relações preferenciais com Cuba, que economicamente não gera grandes mudanças, já que quase todos os países da América do Sul têm acordos bilaterais com o país governado por Fidel Castro. Mas é um ato político de grande significado, pois contraria a decisão norte-americana de endurecer o bloqueio econômico contra a ilha caribenha, e dificulta a tentativa de George Bush de isolar esse país.
Por fim, decidiu-se criar um banco sul-americano para financiar obras de infra-estrutura e investimentos em produção, similar ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) que atua no Brasil há décadas.
Tudo isso mostra que o Mercosul, apesar de alguns problemas, está crescendo, com a entrada de novos membros, e fortalecendo a integração entre aqueles países que já o compõem. A agência de notícias argentina DyN fez uma observação muito justa: Paradoxalmente, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), tão promocionada pelos Estados Unidos e tão resistida por alguns líderes da região, vai tomando forma em outro sentido, mas sem as imposições do país do norte.
Carlo MOIANA
Buenos Aires
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