Jogos Pan-Americanos: Entrevista com Ministro de Esporte do Brasil

Há pouco menos de dois meses para a realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, o ministro do Esporte Orlando Silva concedeu entrevista ao Em Questão. Nascido na Bahia em 1971, Orlando Silva assumiu o cargo em 31 de março de 2006. Abaixo, os principais trechos da entrevista, onde o ministro fala sobre a importância dos Jogos e o legado que a iniciativa deixará ao Brasil.


Em Questão - Sr. ministro, como estão os preparativos para os Jogos Pan-Americanos nesta reta final?
Orlando Silva - O governo brasileiro tem trabalhado muito para garantir o sucesso do Pan. É uma oportunidade que o País tem para demonstrar sua capacidade de realizar um grande evento esportivo internacional, inserir o Brasil no circuito esportivo internacional e, por fim, vai estimular mais a população brasileira a ter na atividade física uma referência positiva para uma melhor qualidade de vida.


EQ  Quais são as dimensões de uma competição como o Pan?
OS - O Pan-Americano é o segundo maior evento multi-esportivo do mundo, com mais de 5.500 participantes, em número de países (42 países), número de modalidades (34 modalidades), e ainda teremos aqui todo programa olímpico de verão dos jogos da China, ou seja, mais 28 modalidades e mais 5 modalidades não-olímpicas. Envolve a atuação de 21 ministérios, direta ou indiretamente, além de órgãos da Presidência da República e inúmeras empresas públicas e autarquias (O governo federal investe R$ 1,8 bilhão na competição, cujo custo total é de R$ 3,6 bilhões).


EQ - Podemos ver o Pan como um pré-vestibular para a Copa do Mundo de Futebol (O Brasil é candidato a sediar a Copa do Mundo de 2014)?
OS - Seguramente, inclusive Joseph Blatter, presidente da Fifa, esteve aqui no Brasil no final do mês de setembro, e ele próprio falou que o sucesso do Pan vai ser mais uma demonstração que o Brasil dará sobre sua capacidade em sediar um Mundial.


EQ - O Pan vai deixar um legado importante ao Rio de Janeiro.
OS  Pela sua própria dimensão, é um legado importantíssimo. Além de motivar a população a praticar esportes, fazer atividades físicas, o Pan-Americano gera empregos, vai deixar um legado também para a segurança pública no Estado. É uma maneira de, através do esporte, desenvolvermos o nosso País.


EQ - Na sua avaliação, quais serão os benefícios para o esporte de competição brasileiro, o esporte de alto rendimento?
OS - Eu aposto que o Pan-Americano vai contribuir para a elevação do nível técnico do esporte brasileiro. Primeiro porque teremos instalações esportivas adequadas, com padrão internacional e o convívio com outros esportistas de alto nível também repercute na motivação da nossa delegação. E se nós teremos instalações adequadas, isso quer dizer, que após o Pan teremos condições de receber vários mundiais, vários Sul-Americanos. E houve também um investimento do governo federal apoiando as confederações para a preparação da delegação brasileira.


EQ - E o chamado esporte de base?
OS - O fato de termos aqui grandes atletas vai motivar a juventude a praticar esportes. Isso conectado com outras iniciativas do governo e das confederações vai permitir uma evolução do esporte na base. Temos um programa chamado Núcleo de Treinamento de Base, que implanta núcleos de treinamento por modalidade. Em Brasília tem um caso que merece ser destacado: o clube BRB, conveniado com o ministério, mantém a esgrima. Foi feito um trabalho de detecção de talentos, dados os treinamentos e hoje o núcleo de base de esgrima disputa competições com bons resultados técnicos. É preciso que o estímulo propiciado pelo Pan seja transformado em vocações, em talentos, em formação das categorias de base de nosso esporte.


EQ - E com relação às instalações, às obras, às intervenções todas, estão atrasadas ou não?
OS - Nós temos um cronograma justo. Não há margem, não há folga no cronograma de obras. A nossa expectativa é que, aproximadamente um mês antes da abertura dos jogos, teremos praticamente todas as instalações prontas. Então, é importante que seja cumprido esse prazo até meados de junho porque, entregue a obra, teremos que implantar as instalações, áreas funcionais, como sistemas de telecomunicações.

A área de segurança vai ter que implantar equipamentos. Eu estou seguro que em meados de junho teremos as instalações, as obras físicas prontas e, na segunda quinzena de junho, entramos na fase de implantação de serviços necessários para que essas áreas possam operar. O importante é que essas instalações oferecerão muito conforto e segurança para os torcedores, para os atletas desempenharem toda sua capacidade e obterem a melhor performance.


EQ - E como está a relação de trabalho com a prefeitura e com o estado?
OS - Temos reuniões sistemáticas. Na semana passada mesmo, eu tive uma reunião com o prefeito César Maia. Estamos falando com o governador Sérgio Cabral. Nessa última fase da preparação do Pan, a prefeitura, o estado do Rio e a União têm tocado por música, têm trabalhado com forte cooperação.


EQ - Qual é a situação do Bolsa-Atleta?
OS - No 31 de março venceu o prazo de inscrições, agora estamos analisando as informações prestadas pelos atletas inscritos e no final de maio teremos uma posição mais segura sobre isso.


EQ - O Bolsa-Atleta já tem dois anos. Na sua opinião, qual o resultado do programa?
OS - Temos atendido mil atletas, em média. Tem atleta estudante, atleta olímpico e paraolímpico, apoio nacional e internacional. Eles recebem uma bolsa para treinar e competir, com o compromisso de manter a performance. E contribui para nosso esporte de base porque temos um programa chamado Descoberta do Talento Esportivo, que é a aplicação de uma bateria de testes nas escolas por identificabilidade , ou seja, procuramos identificar os talentos nas escolas e formamos um banco de dados. E temos uma outra ação, o Núcleo de Treinamentos Esportivos, onde parte desses atletas identificados vão treinar nesses núcleos, podendo mais tarde ser beneficiado pelo bolsa-atleta. Esse é o ciclo que nos estamos estruturando, evidentemente que no caso do bolsa-atleta não é apenas a base que é beneficiada, tem atletas nacionais e internacionais, olímpicos e paraolímpicos, cujo critério para ser apoiado é não ter patrocínio.


EQ - Qual seu principal desafio à frente da pasta dos Esportes no País?
OS - O problema central que temos é o plano de orçamento porque as demandas são enormes no Brasil. São 5.564 municípios, muitos dos quais necessitam de muito apoio, de suporte do governo federal. Veja o Bolsa-Atleta, nos demos uma contribuição, mas não conseguimos chegar perto da superação do deficiências, como falta de quadras, piscinas, ginásios em escolas etc. É um problema de outras áreas também, não só do Esporte. Para tanto, creio que parte da solução, talvez a principal, está na estruturação do sistema nacional do esporte, que estabeleça as responsabilidades que devem ter o setor público e o setor privado.


EQ  Como o Sistema pode melhorar?
OS - Hoje a uma sobreposição de tarefas. Tem ação que o Ministério faz que poderia ficar mais barata se feita pelo município ou pelo estado. No mesmo modo, temos o sistema S (Sesi, Senai e Senac), com uma rede de atendimento importante, mais as universidades privadas. É preciso criar uma sinergia entre todos esses setores, definir os papéis de cada um e uma coordenação efetiva que permita o acesso ao esporte e lazer ao maior número de brasileiros. Pois não basta ter recursos, mas tem que haver uma articulação dos vários agentes envolvidos. Isso, ao meu ver, seria uma grande legado que deixaria.


EQ - Como vocês estão construindo esse sistema?
OS - Tivemos duas conferências nacionais, a primeira deu os fundamentos para traçarmos a política nacional do esporte. A segunda, ano passado, teve como tarefa principal discutir a estruturação do sistema nacional do esporte. A partir dela, há um grupo que atua, vinculado ao Conselho Nacional do Esporte, que está preparando as medidas legais e administrativas, para termos uma visão sistêmica do funcionamento do esporte no País.


EQ - Para finalizar, qual a importância da participação de estatais no patrocínio esportivo?
OS - As estatais são alguns dos principais pilares do esporte brasileiro. Obviamente buscam retorno em seus investimentos, são cobradas por isso. Mas também têm uma atitude social, solidária no desenvolvimento do esporte. Elas patrocinam projetos sociais esportivos importantes, são projetos de inclusão social pelo esporte e, praticamente, todas as estatais apóiam iniciativas nesse sentido.

Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey