Imagens e gestos se tornam, muitas vezes, na história, a melhor representação de determinados acontecimentos e sintetizam numa fração de segundo o que precisaria ser explicado com milhares de palavras.
Para os brasileiros, o momento da independência, foi sempre representado pela maneira como o pintor Pedro Américo o imaginou no seu quadro O Grito do Ipiranga.
Qual a melhor representação do fim da segunda guerra mundial do que o hasteamento da bandeira soviética no topo do semidestruído Reischtag alemão, em maio de 1945, em Berlim?
As vezes é preciso apenas uma frase para representar todo um sentimento de heroísmo e resistência à sanha dos inimigos.
Quando os persas atacaram a Grécia, a última resistência se encontrava no Desfiladeiro das Termópilas, Diante de milhares de soldados de Xerxes, o rei Leônidas resistia com seus 300 espartanos e quando ouviu do rei persa que devia desistir da defesa, porque se as flechas persas fossem disparadas todas ao mesmo tempo cobriria a luz do sol, Leônidas responder com uma simples frase:
- Melhor, combateremos à sombra.
O que melhor pode representar a submissão da política externa brasileiro aos interesses dos Estados Unidos do que o gesto do senador baiano Otávio Mangabeira beijando a mão do presidente americano Dwight Eisenhower, em 1946.
Na época em que vivemos, com a multiplicação dos meios de comunicação, alguém que representa o seu país tem obrigação de policiar seus gestos.
Não foi o que fez Michel Temer em visita à China.
Fora da sua agenda oficial, ele visitou durante 50 minutos um shopping na cidade de Hangzhou e gastou 798 RMB, o equivalente a 400 reais para comprar um par de sapatos.
Sua imagem, experimentando os sapatos logo estava em toda a rede social.
Qual o problema?
Em março passado, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) festejou como "um alívio" a extensão por cinco anos do direito antidumping contra sapatos chineses, com a aplicação de uma sobretaxa de US$ 10,22 a cada par importado do país. Segundo a entidade, o encarecimento do produto chinês para os compradores brasileiros permitiu a recuperação de postos de trabalho no Brasil quando foi aplicada em 2009. Ela teve extensões em 2010 e agora em 2016.
Segundo dados da entidade, em 2009 a importação de calçados chineses foi equivalente a US$ 183,6 milhões, cerca de 70% do total importado pelo Brasil naquele ano. Após a aplicação da sobretaxa, em 2010, o número caiu para US$ 54,9 milhões, 18% do total das importações de calçados no país. Em 2015, a importação de calçados da China foi de US$ 45,9 milhões.
Na época da renovação, o presidente-executivo da associação, Heitor Klein, afirmou que a medida asseguraria a sobrevivência da indústria, que em 2015 viu a sua produção cair 7,6% devido ao encolhimento da demanda no mercado doméstico.
A imagem de Temer representa com a força de um símbolo o seu desinteresse pela defesa da economia brasileira, da mesma maneira que o beija-mão de Mangabeira, em 1946, representou a submissão do governo brasileiro aos interesses americanos.
Marino Boeira
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