Em recente entrevista ao Diário de Notícias, de Lisboa, Salimo Abdula, presidente da Comunidade Empresarial da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), queixou-se de certo desinteresse do governo Dilma Rousseff pela entidade, ao contrário do que teria ocorrido à época do governo Lula da Silva. Para Abdula, como a presidente brasileira vive hoje um momento diferente do vivido por seu antecessor, a CPLP, se não deixou de ser considerada prioridade, pelo menos é vista como meta menos importante na política externa de seu governo.
Adelto Gonçalves (*)
Para que essa impressão seja superada, o empresário sugere, entre outras medidas, que, de fato, a CPLP se torne uma área de livre circulação de pessoas, bens e capitais, o que estimularia também o setor informal: hoje não são poucas, por exemplo, as mulheres moçambicanas que, mesmo com dificuldade com a língua, viajam para fazer compras em Dubai, África do Sul e Malásia, a exemplo das caboverdianas que costumam ir a Fortaleza. Se não houvesse ainda tantas exigências com vistos e atestados, viriam ao Brasil ou iriam a Portugal para fazer este intercâmbio. Igualmente as empresas formais poderiam se valer da língua comum para aumentar seus negócios. Abdula lembra que o idioma no impacto de uma empresa tem um custo de 17%.
De fato, os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que Salimo Abdula está coberto de razão, pois se tem registrado um flagrante decréscimo nas trocas comerciais entre o Brasil e os demais membros da CPLP (Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste). O ano de 2008 foi aquele em que houve maior intercâmbio entre o Brasil e os demais sócios da CPLP (as exportações chegaram a US$ 3,7 bilhões e as importações a US$ 2,8 bilhões). Em 2014, as exportações foram de US$ 2,4 bilhões e as importações, US$ 2,2 bilhões.
De janeiro a julho deste ano de 2015, houve uma queda de 42% na corrente de comércio em comparação com idêntico período de 2014 (US$ 1,5 bilhão contra US$ 2,6 bilhões). No período, o Brasil exportou US$ 968 milhões e importou US$ 548 milhões, registrando um saldo de US$ 420 milhões. Soja e petróleo representaram cada um mais de 14% das exportações do Brasil até julho. Açúcar, carne e tratores foram outros produtos que se destacaram. Já as importações oriundas da CPLP foram lideradas por gás natural liquefeito e azeite (17%). Peças para aviões, bacalhau, peras, produtos petroquímicos e sulfetos de minério de cobre apareceram em destaque.
A prova de que a África e o Timor-Leste não estão entre as prioridades é que Portugal, no âmbito da CPLP, continua a ser o maior parceiro comercial do Brasil. Nos primeiros sete meses do ano, o Brasil exportou para Portugal US$ 539 milhões e importou US$ 519 milhões. Para a CPLP como um todo, o Brasil exportou, no mesmo período, US$ 968 milhões e importou US$ 548 milhões. Ou seja, quase 70% de todo o comércio no espaço lusófono o Brasil faz com Portugal.
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(*) Adelto Gonçalves, jornalista especializado em comércio exterior, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: [email protected]
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