Charlie Hebdo 1178 du 14 Janvier 2015

Considero a Vida humana um Bem Divino inalienável e o Livre Arbítrio um instrumento para praticar o Bem e não para praticar o Mal. Fazer o mal, prejudicar e ofender, não pode ser as escolhas de uma Liberdade assumida conscientemente. Como tal, condeno tanto o arbítrio do terrorismo, como o de uma Comunicação Social que se dedica ao achincalho da Religião e na defesa militante dos valores neo-pagãos, agora muito em moda. Nenhuma causa, por mais razão que possa argumentar, pode estar acima do valor da Vida e achar-se no direito de a interromper. Daí que não me regozijo com as mortes causadas pelo extremismo islamista em Paris, nem em qualquer outro lugar, sejam estes os seus autores, sejam outros quaisquer. Nem me regozijo com a blasfémia contra o Islão, por causa de uma minoria radical que se acha no direito de as reparar à bomba... Com efeito, espero que os defensores extremados da Liberdade de Expressão sem limites, não me venham acusar de apoio ao Terrorismo Jihadista. Não apoio este, nem nenhum outro, em absoluto (já agora...)


Nestes dias, milhares de pessoas foram mobilizadas na defesa da Liberdade de Expressão, como se esta fosse um valor absoluto e estivesse terrivelmente em risco... Não só não existe Liberdade em termos absolutos, como não está em risco. E não está, pelo simples facto que, como dizia o meu professor de Filosofia no tempo da Ditadura de Salazar, ser livre é assumir inteiramente a responsabilidade dos nossos actos. Está alguém disposto a fazê-lo??? O risco está pois em nós mesmos...e não nos outros. Não será a barbárie terrorista que calará quem defende a Verdade.

Posto isto, vale a pena fazer uma incursão pelo código deontológico do jornalista, em vigor em Portugal, que não deve ser muito diferente do francês, para perceber que não existe Liberdade de Expressão em absoluto. Desde logo, porque o código impõe uma ética que obriga o jornalista a respeitar regras e como tal constituem limites à Liberdade de Expressão, em termos absolutos, inclusivamente fá-lo para o bem do próprio jornalismo. Logo no 1º. artigo lê-se o seguinte: "O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público". No artigo 7 do mesmo, por exemplo, podemos ler que o jornalista ... deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor. É certo que não explicita a religião como objecto de humilhação, mas está implícito na proibição de humilhar, que se trata de respeitar a dignidade da pessoa naquilo que ela sente e acredita, logo o limite é a Dignidade do Outro.  Podíamos acrescentar outros condicionamentos, como por exemplo, as linhas redactoriais que obviamente seguem orientações de quem financia o órgão de comunicação social. Liberdade de Expressão em absoluto não existe de facto nem pode existir. Esta é a realidade aqui e em qualquer lugar. 

O Charlie Hebdou é useiro e vizeiro no desrespeito da  Dignidade do Outro. Se abrirem as páginas do exemplar em anexo perceberão como o acinte à Religião roça o obsceno. Hão-de ver no interior um crucifixo deitado numa praia entre banhistas desnudados... Uma vergonha. Na 1ª. página aparece um cartoon com os 3 líderes das religiões monoteístas a debaterem a partilha do Mundo... Que grande equivoco! Não é a Religião que divide o mundo e fomenta as guerras, mas a ambição desmedida de poder que a instrumentaliza para atingir certos objectivos Políticos. Por aqui se percebe de que lado estão os seus jornalistas... Não denunciam quem de facto está interessado nas guerras, sobretudo as mais recentes, os banqueiros. Não, o grande culpado para eles é a Religião!!! Posso não concordar com muita coisa desta ou daquela religião, até sou um crítico, porém isso não me dá o direito de ofender a fé e os sentimentos alheios por mais exóticos que me pareçam. Depois, é só intoxicação ideológica na defesa dos valores fracturantes de que certa esquerda está apostada, nomeadamente a homossexualidade ostensiva, libertinagem delirante, enfim a idiotice militante. 

Ora, a revista Charlie Hebdou não sendo propriamente um jornal de notícias, não lhe ficava mal comentar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade evitando o achincalho religioso. Não podemos em consciência considerá-lo um semanário sério e honesto.

Uma dúvida: pode um Judeu ser ateu???  Que grande confusão vai por aí... Foi o que eu ouvi dos jornalistas mortos às mãos de bárbaros. Tanto que as suas exéquias foram realizadas em Israel. 

Seja como for, os jihadistas de Paris prestaram um belo serviço aos Serviços de Inteligência Ocidental. Acrescentaram mais argumentos para aqueles que estão deste lado doidos por uma nova Guerra Mundial, mas tem que haver primeiro a anuência cúmplice do Cidadão.  Nesse sentido, ou me engano muito, oxalá que sim, esta malta é um aliado útil para os estrategas militares do Ocidente alinharem a tropa. Não seria a primeira vez... E o povo que se dane...    

 

Artur Teixeira

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey