Na maior cidade de todo o Hemisfério Sul, a disputa pelo poder em sindicato de motoristas já causou a morte de 16 pessoas
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
Correspondente Internacional
SÃO PAULO/BRASIL (PRAVDA.RU) No Brasil, na cosmopolita São Paulo - principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América Latina, cidade mais populosa do Brasil e de todo o Hemisfério Sul -, a disputa pelo poder de controle do Sindicato do Transporte Público Municipal, o Sindmotoristas, já causou a morte de 16 pessoas, em apenas 18 anos.
A notícias foi publicado no jornal Folha de São Paulo, em reportagem dos jornalistas André Caramante e Rogério Pagnan, baseados em investigações da polícia e do Ministério Público.
Segundo a reportagem, está em jogo o controle de um "caixa dois" de meio milhão de reais ao mês que, segundo as investigações, vão parar nas mãos de diretores do Sindmotoristas, representante de motoristas, cobradores e fiscais de ônibus de São Paulo.
"O dinheiro seria desviado de contratos de planos de saúde da categoria, da compra de cestas básicas para os funcionários e de convênios com empresas, como farmácias e lojas de sapatos. Há, ainda, uma parte da investigação que tenta saber se os diretores do Sindmotoristas fazem vista grossa para evitar denúncias sobre condições de trabalho de motoristas, cobradores e fiscais de ônibus", revela a reportagem.
Na avaliação da polícia e do Ministério Público, o Sindmotoristas se transformou numa "central de corrupção" travestida de defensora da categoria. De 1992 até agora, mesmo com mudanças na cúpula da diretoria, o roteiro dos crimes é muito parecido: um sindicalista contrariado começa a divulgar denúncias de desvio de verbas do sindicato ou de cobrança de propinas e aparece morto meses depois.
Dirigentes chegaram a ir para a cadeia, mas acabaram liberados por falta de provas, e a maior parte dos casos ainda está sob apuração da polícia e do Ministério Público.
Em meio à guerra sindical, outras ligações suspeitas aparecem, como no caso do diretor de finanças José Valdevan de Jesus, o Valdevan Noventa. Vereador de Taboão da Serra, cidade da Grande São Paulo, ele é investigado pela polícia sob suspeita de lavar dinheiro para traficantes, mas nega as acusações e diz ser alvo de perseguição.
José Carlos da Silva, 50, é a vítima mais recente da guerra por poder no Sindmotoristas, que representa os motoristas e cobradores de ônibus na cidade de São Paulo. Silva foi morto por dois homens em uma moto, no Jardim Peri, zona norte paulistana, na noite do dia 12. Ele foi baleado cinco vezes.
Uma das suspeitas da polícia é a de que Silva tinha fortes ligações com a atual cúpula do sindicato e brigou por não receber pagamentos de seus aliados na entidade.
Cerca de um mês antes de sua morte, durante uma reunião com trabalhadores do transporte público e de diretores do Sindmotoristas na zona norte, Silva teria sacado uma arma e dito que iria cobrar a verba que não recebia havia ao menos três meses.
Depois da briga, ele teria passado a tentar reunir provas dos desvios de verba no sindicato para entregar à polícia e ao Ministério Público e, com isso, teria despertado a ira dos diretores.
ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU no Brasil.
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