Marina Costa Lobo e Pedro Magalhães reúnem vários estudos: Eleições legislativas de 2005 e presidenciais de 2006 representam um marco na evolução democrática portuguesa e ambas produziram resultados inéditos
Livro reúne estudos de Susana Salgado, Eduardo Cintra Torres, José Santana Pereira, Braulio Gomez, Irene Palacios, Carlos Jaladi e André Freire
A Imprensa de Ciências Sociais acaba de lançar As Eleições Legislativas e Presidenciais 2005-2006 - campanhas e escolhas eleitorais num regime semipresidencial, livro coordenado pelos investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Marina Costa Lobo e Pedro Magalhães.
Este obra, que reúne textos de vários investigadores sobre a mudança eleitoral em Portugal no início do século XXI, vem dar continuidade ao Projecto «Comportamento Eleitoral e Atitudes Políticas dos Portugueses», criado em 2001. Os autores tratam de temas explicativos dos desfechos eleitorais e das escolhas dos votantes, tentando iluminar estas importantes eleições de perspectivas distintas.
As eleições legislativas de 2005 e as presidenciais de 2006 representam um marco na evolução democrática portuguesa e ambas produziram resultados inéditos. Apesar do Partido Socialista (PS) ter sido sempre, desde a instauração da democracia, um dos principais partidos em Portugal e ter formado várias vezes governo, sozinho ou em coligação, nunca havia alcançado uma maioria dos assentos no parlamento. Por seu lado, as eleições presidenciais seguintes não foram menos importantes, já que venceu o candidato apoiado unicamente pelos partidos da direita, Aníbal Cavaco Silva. Desde a civilianização da Presidência, ocorrida em 1986 com a eleição de Mário Soares, apenas os candidatos apoiados pelo PS haviam ganho as eleições presidenciais.
No conjunto, as eleições de 2005 e de 2006 exibem tendências contraditórias na evolução da relação entre partidos e eleitores: por um lado, a diminuição da abstenção, a maioria absoluta concedida ao PS e a manutenção do número efectivo de partidos parlamentares são elementos de alguma melhoria ou estabilidade no sistema partidário português. Por outro lado, se analisarmos tanto o crescimento dos pequenos partidos, bem como o sucesso da campanha de Manuel Alegre, em particular à luz das contínuas dificuldades sócio-económicas de Portugal, e a par das atitudes que conhecemos dos portugueses em relação aos partidos, podemos concluir que estamos perante um sistema partidário sobre pressão.
É por isso tanto mais interessante verificar que, apesar de tudo, o sistema partidário se manteve, em larga medida, intacto. Depois da instabilidade governativa vivida entre 2001 e 2005, que teve a sua origem em decisões das elites políticas, uma percentagem significativa de eleitores quis voltar a dar condições de governabilidade inequívocas, desta vez ao PS.
Exposição dos portugueses à informação política é elevada
Esta obra aborda três grandes contextos: o Informacional; o Eleitoral e o Institucional. Na primeira secção são descritas as campanhas, nomeadamente o contexto mediático em que ocorrem e os resultados eleitorais. De seguida, é apresentada a participação eleitoral, bem como a análise da distribuição do voto e assentos por círculos eleitorais nos principais partidos para fornecer uma perspectiva agregada da mudança ocorrida. Por último, são feitas considerações sobre as alterações no sistema partidário.
Assim, uma das preocupações centrais deste livro foi a de explorar as características dos contextos informacionais em que diferentes indivíduos estiveram inseridos nas eleições legislativas de 2005 e presidenciais de 2006. Três capítulos, de Susana Salgado, Eduardo Cintra Torres e José Santana Pereira, foram especificamente dedicados a este tema.
Em primeiro lugar, eles mostram, sem surpresa, que, no que respeita a fontes impessoais de informação política, a televisão tem em Portugal clara primazia em relação aos outros meios. Uma das razões será certamente o facto de a exposição dos portugueses à informação política ser relativamente elevada, ou pelo menos mais elevada do que poderíamos pensar à primeira vista. Mais de dois em cada três portugueses afirmam ter acompanhado notícias sobre política na televisão durante a campanha diária ou quase diariamente, valores que na imprensa chegam a um em cada três eleitores.
Os autores concluem que o eleitor é mais complexo do que a partida possa parecer. Há mais razões nas escolhas eleitorais, do que optar simplesmente por um dos principais partidos de governo ou do que recompensar e punir desempenhos e os actos eleitorais de 2009 vão confirmar ou não este retrato do eleitorado português.
Helena Rocha, Imago
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