Se dúvidas ainda houvessem, os factos recentes, sobre a dança de cargos administrativos no BCP e na CGD, dissipam-nas por completo. Tais acontecimentos demonstram à exaustão a pouca vergonha que se instalou, qual praga, no sistema político partidário português. Nesse sentido, a crise de liderança no Banco Comercial Português, o maior banco privado do mercado doméstico, está paradoxalmente a ter um efeito positivo.
Põe em evidência a promiscuidade há muito existente entre o sector bancário, e não só, e o chamado Bloco Central (PS e PSD ), que alguns opinion makers da nossa praça a dão como uma normalidade em Democracia.
A crise de liderança no BCP estala quando Paulo Teixeira Pinto, Presidente Executivo, resolve destronar o velho líder e seu Padrinho, Jorge Jardim Gonçalves, fundador do banco e Presidente do Conselho Geral, apoiado por um grupo de accionistas descontentes com a liderança de Jardim, em que se destaca o empresário madeirense Joe Berardo . Do nosso ponto de vista porém, a razão fundamental da contestação deveu-se à falta de resultados expectáveis e consequentemente, à perda de confiança na direcção do banco.
Vieram depois as denúncias de ilegalidades: perdão de dívidas e a compra de acções próprias via off-shore , que corroboram a acusação de uma gestão ruinosa. Em consequência, os responsáveis estão demissionários e sob a alçada de investigação da CMVM , Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, e do Banco de Portugal, tendo este último determinado que nenhum dos administradores do BCP , desde 1999, pode voltar a exercer funções de gestão no banco.
A crise do BCP , que se arrasta há meses, está a orientar-se para uma solução política de sentido partidário, o que, do nosso ponto de vista, não se encaixa no conceito clássico de um banco privado. Todavia todos os arranjos são hoje possíveis, numa época em que a honra e os princípios éticos pertencem à arqueologia Há contudo quem aponte uma orientação supra-partidária conotada com a disputa tradicional entre a Opus Dei e a Maçonaria, acusando esta de estar prestes a substituir a primeira no comando do banco. Será?
Já se sabia dos tachos administrativos que o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata dividem entre si e entre os seus apaniguados mais sonantes, uma clientela partidária que, em grande parte, deve a carreira profissional à política. Não se tinha porém um conhecimento público tão descarado, como agora, quando o líder social-democrata, Luís Filipe Menezes, reclamou para o seu partido, desabridamente na Comunicação Social, um poleiro administrativo na Caixa Geral de Depósitos, o Banco do Estado.
Alegou a favor da sua reivindicação que no tempo em que o actual Presidente da República, Cavaco Silva, foi 1º. Ministro, o cargo máximo daquele banco foi entregue a uma destacada figura do PS. De facto mais vale sê-lo, do que parecê-lo Deixou ainda no ar a ideia de que só desta forma está garantida a isenção partidária do Governo. Agora percebemos o conceito do Estado mínimo Um Estado que serve apenas os interesses de meia dúzia
A crítica de Luís Filipe Menezes, longe de ser uma sincera confissão política, exprime a promiscuidade em que navega uma certa classe política, que de tão desavergonhada já nem se resguarda da fama e da imagem que tem junto do povo: eles querem é tacho!. E assim parece de facto.
Quem não chora, não mama, diz com propriedade o dito popular. Bastou o líder do PSD choramingar pelo tacho para um dos seus pares e logo o Ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, não se fazer rogado, apesar de o negar Nomeou para Presidente da CGD outro Fernando: Faria de Oliveira, militante do PSD e ex-ministro de Cavaco Silva. Evidentemente que tal escolha não é um acaso. Trata-se de uma indisfarçável partilha de tachos no quadro de um pacto de regime há muito firmado entre os dois maiores partidos.
Entretanto migra para a administração do BCP , a direcção da CGD: Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, ambos da área do Partido Socialista, sendo este último, um homem de mão do incansável 1º. Ministro José Sócrates. De uma cajadada o actual Governo mantém um pé na CGD e coloca o outro no BCP , garantindo, segundo alguns especialistas, o tráfico de influências em praticamente toda a banca. Estão pois assegurados os tachos actuais e os futuros além, claro, dos bons negócios sob o beneplácito do Estado.
Por outro lado, ao contrário do que se podia esperar, os principais accionistas do BCP , habitualmente alérgicos a qualquer influência tutelar do Estado, não estão preocupados com a presença de duas figuras conotadas com o PS no Conselho de Administração. Naturalmente contam com a indiscrição técnica e profissional daqueles ex-administradores da CGD. Trata-se de um importante concorrente que importa reduzir a sua influência no mercado, pelo que com propriedade alguém já chamou a esta operação de uma OPA sobre os segredos da CGD.
À última hora, Miguel Cadilhe, ex-ministro das finanças de Cavaco Silva e militante do PSD , anunciou mais do mesmo Apresentou uma equipa de notáveis, disposta a conquistar a torre de menagem do BCP , concorrendo com a lista de Carlos Santos Ferreira. Curiosamente inclui, além dele próprio, outro político ex-ministro do governo de Durão Barroso e de Santana Lopes, Bagão Félix.Não sendo menos interessante, o proponente da lista é ex-responsável administrativo e reformado do BCP , tal como o seu companheiro, facto que levou Joe Berardo a declarar, na sua habitual linguagem sem papas na língua, que o banco não é um lar da terceira idade. Cadilhe, por outro lado, no quadro das investigações às operações ilícitas do BCP , está inibido pelo Banco de Portugal de exercer qualquer cargo administrativo no banco que pretende liderar. Os outros são também ex-qualquer coisa
Ou muito nos enganamo , ou o PS e o PSD vão ter que se entender sobre uma nova distribuição dos tachos
Artur Rosa Teixeira
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