Carta de um utente*
Como residente em Portugal há precisamente 28 anos, posso escrever como alguém que sabe um pouco daquilo que está a falar, pois tenho sensivelmente mais anos de Portugal, e todos eles como contribuinte ao fisco, do que muitos dos nossos leitores. Isso não quer dizer que saiba mais que eles, mas quer dizer que sofri o suficiente neste país para poder estar feliz por eles não terem de enfrentar as mesmas situações que eu enfrentei, pois finalmente nestas páginas podemos dar o nosso aval positivo aos serviços públicos em Portugal.
Começando pela SEF, onde tradicionalmente o tratamento era no melhor deplorável, um serviço que exigia um dia de trabalho perdido e exigências loucas para uma pessoa se legalizar, hoje em dia se apresenta como um serviço profissional, com um atendimento público entre o bom e o excelente, com gente que parecem estar do lado do entrevistado e não à procura de qualquer desculpa para o colocar para fora do país (sem se lembrar dos milhões de portugueses emigrados pelos quatro cantos do Mundo).
Seja por própria vontade da SEF, ou por imposições da civilizadora União Europeia, pelas nossas próprias experiências só podemos elogiar este serviço pelas francas melhorias, nomeadamente a reduzida burocracia para resolver os casos e a instituição de marcação de entrevista por telefone, uma coisa para que temos estado a lutar há muito tempo.
Há 28 anos vivi procurando casa própria em Lisboa e há 28 anos não consegui, ou por causa da exigência do pagamento de 10 ou 20 por cento do valor total (quem tem essa quantia de dinheiro no banco?) ou por causa de péssimas informações nos bancos, que levaram a pensar que nem dois ordenados chegassem para pagar a amortização.
Mas finalmente encontrei um sistema amigável ao utente, em que os bancos bilionários emprestam a totalidade da quantia ao cliente, que apenas tem de pagar o processo burocrático (mais ou menos sete mil Euros num caso típico). A temida escritura levou dez minutos (e os compradores foram um irlandês e uma brasileira). Vinte e quatro horas depois, a casa nova tem Internet, telefone, TV Cabo, água, luz, gás, e os contratos estão no nosso nome.
Comparando com 4 anos atrás quando mudámos de casa a última vez, e levou umas três semanas para termos telefone, 5 para termos Internet, e depois cortaram porque tinham enviado a factura ao endereço errado e não foi pago, e como se não bastasse, sofremos uma série de problemas por causa do pagamento das contas por débito directo, pagando as contas de duas casas durante seis meses foi um pesadelo.
Comparando com a nossa experiência de hoje, vemos francas melhorias, não só no atendimento, mas também nos processos. Se nas nossas páginas se poderia ler com frequência críticas contra os serviços públicos em Portugal, achamos justo apresentar o outro lado da moeda quando deparamos com isso.
Afinal, Pravda quer dizer verdade Parabéns aos serviços públicos em Portugal.
* Timothy Bancroft-Hinchey escreve este artigo como cidadão/residente em Portugal
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