Por Romeu Tuma*
Muito se falou em dossiês e armações nas últimas semanas. A cena eleitoral ficou dividida entre bandidos vermelhos e mocinhos azuis; a quadrilha dos petistas contra os paladinos da moralidade tucanos. Vendeu-se a idéia de que governistas estavam dispostos a perpetuar-se no poder com tramóias e conluios, enquanto os mocinhos do PSDB agiam como defensores dos bons costumes e do jogo limpo na política. Até aí, tudo bem. O roteiro colou direitinho e Geraldo Alckmin ganhou fôlego para seguir na disputa. Ocorre que o segundo turno começou e a ladainha segue. Mudou, porém, a postura do Picolé de Chuchu, que agora engrossa a voz e, dedo em riste, cobra do presidente uma atuação mais digna para varrer a corrupção no Planalto.
Tudo isso não passa de teatro, trabalho bem feito de marketing. Quem conhece o tucano, sabe que ele late, mas não morde. É só para inglês ver e dar a impressão de que o Geraldo pode governar o país. Quando é convidado a apresentar propostas, ele franze a testa, levanta os punhos e pergunta de onde veio o dinheiro do dossiê. Não fala sobre economia, projetos sociais, relações internacionais, planos para conter o desemprego, novas privatizações, reforma da Previdência, ou seja lá o que for. Sua plataforma é simples: tirar Lula do poder com a repetição de acusações.
Nem na área da Saúde, suposta vitrine da administração FHC, ele consegue tirar coelhos da cartola. No debate da semana passada, pela TV, o candidato disse que vai ser o presidente das Santas Casas. A promessa inclui-se naquela velha tática do me engana que eu gosto. Só pode ser isso. Porque em 12 anos de administração tucana, o que se viu em São Paulo foi a deterioração dessas unidades de saúde, que sequer tiveram apoio do governo tucano na época em que José Serra era ministro. O pior é que o presidenciável Geraldo nem fica mais vermelho quando conta uma lorota dessas.
Alckmin é médico de formação, embora tenha exercido a carreira por pouco tempo. Jamais enfrentou fila em hospital público e não fez nada para as Santas Casas quando tinha a caneta na mão. Pelo contrário. Na Assembléia Legislativa, costumava mobilizar sua tropa de choque, a mesma que impediu a instalação de 70 CPIs, a agir na contramão do que o setor exigia. Quem duvidar disso, que vá a uma unidade e pergunte aos médicos e pacientes como anda a situação por lá. Se Alckmin não fez nada para resolver o problema quando era governador, por que faria agora?
O discurso tucano também empurra para debaixo do tapete os problemas com a segurança pública, com a Febem, os desvios de verbas publicitárias na Nossa Caixa, as denúncias contra a CDHU, as privatizações equivocadas e os preços absurdos dos pedágios sem falar nos vestidos bordados (e gratuitos) da primeira-dama Lu Alckmin. Mas isso nunca vem ao caso. O que importa é saber de onde veio o dinheiro do dossiê e se apresentar como a salvação da lavoura. Mas, cuidado. O chuchu maravilha pode ser amargo e indigesto.
* Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil, deputado estadual (PMDB), ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e Corregedor da Assembléia Legislativa de São Paulo. O deputado também escreve no Blog do Xerife (http://blogdoxerife.blig.ig.com.br).
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