Entrevista exclusiva com Dep. Alice Portugal, PC do B

Entrevista com dep. Alice Portugal, Partido Comunista do Brasil - PCdoB/BA (Bahia)

1. Como descreveria os quatro anos sobre o governo do PT?

Eu descreveria como uma oportunidade impar na historia da nossa república. Brasil é um país jovem, que passou por muitos anos de colonização portuguesa, depois passa à condição de Império, com a fuga da Família Real Portuguesa.

A Nossa República foi proclamada por marechais, sempre dirigida pelos ricos e eventualmente pelos generais. E agora, pela primeira vez o país tem como dirigente alguém oriundo das classes populares e um partido com as mesmas origens. O governo Lula é um governo de Frente, um governo que está sob disputa permanente, um governo de aliança dos setores conservadores e da esquerda tradicional associada à democracia, que é o PT propriamente dito. Em fim, é um governo, que a depender da força que tem o movimento popular, realiza mais ou menos mudanças, mas não é um governo conclusivo para solidificação democrática, é um governo na transição para solidificação democrática.

2. Quais foram pontos fortes e fracos do governo Lula?

Pontos fortes: foi exatamente trazer esse extrato social para o núcleo diretivo do país. Também programas sociais importantes do ponto de vista da atenção dada a uma grande quantidade de excluídos. A miséria diminuiu no Brasil nesses quatro anos, a pobreza persiste, mas a miséria diminuiu consideravelmente. Isso é muito positivo. Em relação aos assuntos internacionais: atuação muito positiva em defesa da paz, não ter sucumbido a ALCA, ao envio de tropas ao Iraque. Portanto a visão pacifista do mundo muito importante.

Positivo também, sustar o processo de privatização que estava em franco andamento durante governo do FHC.

Pontos negativos: manutenção de uma política econômica conservadora, de perfil neoliberal, a visão de encolhimento do estado, de abstenção do estado em questões que são da sua responsabilidade, por força e ordem do sistema financeiro internacional.

 3. Quais são perspectivas do seu partido (PCdoB ) nas próximas eleições?

Continuar sobrevivendo! O PCdoB sofre os rigores da clausula de barreira defendida inclusive pelo PT. Mas nós vamos enfrentar os desafios com os mesmos métodos de organização desde da nossa fundação em 1922 no Brasil, passando pela reorganização em 1962.

4. Quais são as prioridades para o Brasil?

Na minha opinião, é mudança. Em primeiro lugar superar essa política econômica neoliberal. Apontar para mudanças, apontar para diminuição do superávit primário, aumentando o investimento público, e portanto o desenvolvimento. Não pode ser só crescimento sem desenvolvimento, têm que ser amos. E do ponto de vista social, aprofundar relações com movimentos sociais fazendo que esse governo de fato tenha maior interesse em mudanças do que na sua versão conservadora.

5. Como descreveria as relações entre Brasil e a Federação Russa?

Acredito que essas relações podem melhorar. Têm sido boas.  Nós saudamos as eleições parlamentares na Federação Russa, saudamos atitude independente e desenvolvimentista da Federação Russa. Acreditamos, que Brasil não somente comercialmente, mas também do ponto de vista da criação de um bloco de paises que lutam pela independência, por desenvolvimento, pela quebra da uni polaridade mundial, tem que aprofundar e desenvolver essa relação à bem dos povos.

6. Qual é futuro da esquerda no Brasil e no mundo?

Espero, que seja um futuro radioso. Desde que desapontaram nossos lideres de 1914-17 que eu continuo compreendendo e acreditando, que apesar dos equívocos dessas nossas primeiras experiências na construção de socialismo no mundo, a desoxigenação da liberdade talvez tinha sido o maior, o futuro dos povos vai acabar inexoravelmente na construção de um poder humanista e socialista.

7. Por que o Presidente Lula na aproveitou “a carta branca”, que o povo e muitas forças políticas praticamente lhe deram para fazer mudanças profundas na estrutura do nosso país?

Na verdade essa frente política chegou ao governo da republica, mas não tomou poder. Porque poder no Brasil continua nos bancos, na mão da elite, que tem no Brasil seus prepostos. Compraram as grandes estatais, com a quebra do monopólio do subsolo, da extração mineral, do monopólio da navegação de cabotagem. No Brasil a sua estrutura econômica não e governada pelo estado Nos entramos na leva neoliberal. É a nossa primeira chance de tentar recuperar uma parte disso. E no núcleo desse processo não temos a esquerda genuína.  O PT é uma grande federação qualitativa e o próprio Lula é líder de massas, não é um líder que tinha tido uma formação de esquerda tradicional e não passou pelos rigores da construção de esquerda no Brasil. Sabemos que aqui, no Brasil a esquerda não surgiu com surgimento do PT.  

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

Entrevista conduzido por

Armando COSTA ROCHA

BRASIL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey