Comandante do Exército prega nacionalismo econômico e defende Ministério da Amazônia

Comandante do Exército prega nacionalismo econômico e defende Ministério da Amazônia

No seminário intitulado "Brasil: Imperativo Renascer!", organizado pela Editora Insight e divulgado pelo site Conjur, o comandante defendeu papel ativo das Forças Armadas na América do Sul, demanda essa feita pelos próprios militares sul-americanos, em especial, os argentinos, dada a importância geoestratégica e geopolítica do território nacional.

ATAQUE FRONTAL AO NEOLIBERALISMO

O general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, proferiu palestra no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em que defendeu projeto de desenvolvimento nacionalista com ênfase na indústria de defesa, verdadeira cadeia produtiva com poder de disseminar avanços científicos e tecnológicos de vanguarda para toda indústria nacional, proporcionando agregação de valor ao produto brasileiro e formação profissional de qualidade. No seminário intitulado "Brasil: Imperativo Renascer!", organizado pela Editora Insight e divulgado pelo site Conjur, o comandante defendeu papel ativo das Forças Armadas na América do Sul, demanda essa feita pelos próprios militares sul-americanos, em especial, os argentinos, dada a importância geoestratégica e geopolítica do território nacional.

A integração econômica continental, como mandamento constitucional, exige, por sua vez, atenção especial para a Amazônia. Faz-se, segundo ele, necessário um Ministério da Amazônia, visto que há, na América do Sul, nove regiões amazônicas, cujas características são complementares. Exige-se, portanto, coordenação político estratégica, em meio ao mundo globalizado, que alimenta interesses alienígenas na região, cujo ativo, só no território nacional, é estimado em 23 trilhões de dólares.

O general discorre sobre diversos temas em sua importante palestra. Sobretudo, seu pensamento contrasta, visivelmente, com a orientação econômica neoliberal comandada pelo governo ilegítimo Temer, sintonizada com o programa Ponte para o Futuro, cujas diretrizes, dadas pelo Consenso de Washington, são intrinsecamente antinacionalistas, pautadas na supressão de direitos econômicos e sociais dos trabalhadores, bem como acelerada desnacionalização de ativos nacionais, cujas consequências aumentam a insegurança nacional, bem como afeta de morte a soberania brasileira no cenário internacional. Veja abaixo o que disse o General, sem nenhuma repercussão na mídia oligopolizada golpista(CF).

IDEOLOGIAS ENGANOSAS

"Todo problema no país hoje tende a tornar-se uma ideologia. Quanto mais ambientalismo, mais problemas ambientais temos. Quanto mais indigenismo, coitados dos nossos índios, mais são relegados ao abandono. Quanto mais luta contra o preconceito racial, mais racialismo. Quanto mais luta ou quanto mais se discute as questões de gênero, mais preconceito. Surge, por incrível, a intolerância religiosa."

"Temos 80% da Amazônia preservada e admitimos levar lições de países que têm 0,3% das suas florestas originais. A média mundial de preservação das florestas mundiais é de 25%, aproximadamente. A instrumentalização da ideologia ambiental visa proteger o mercado agrícola dos países que, todos somados, não dispõem da área agricultável que o Brasil tem."

DEFESA NACIONAL

"Depois da queda do muro de Berlim, emblematicamente, marco do fim da Guerra Fria, passou a prevalecer nos países uma visão sistêmica de defesa. Ela deixou de ser preocupação exclusiva dos militares e passou a exigir a participação de toda a sociedade em seus mais variados segmentos."

"A estrutura de defesa de um país será tão mais robusta quanto mais forte for a participação da área econômica, das empresas, da área de ciência e tecnologia, da área acadêmica, do poder político e assim por diante."

"Aos militares foi exigido que eles não se restringissem apenas a se preparar para fazer face ao inimigo. Hoje, a visão consagrada no mundo é a de que as Forças Armadas devem estar em condições de atender qualquer demanda da sociedade. E não há países em que isso não se aplique."

"Falar de defesa no Brasil, da inserção da defesa de um projeto nacional, é difícil, tem pouco apelo, porque não há no país uma percepção de ameaças à soberania e à integridade, nem por partes da população nem por parte das elites dirigentes. Pessoas dos mais variados setores da sociedade não estão preocupadas com ameaça da integridade nacional."

"O tema da defesa sobrou, apenas, para os militares. Como consequência, tem-se dificuldade de alocação de recursos adequados para estrutura de defesa. Defesa não dá voto. Daí a dificuldade de o tema entrar no debate eleitoral para a Presidência da República."

"Temos, no Brasil, um passivo geo-histórico. Temos metade do nosso território não ocupado e não integrado à dinâmica do desenvolvimento nacional. As consequências disso vão além de aspectos concretos. O território é a base da nacionalidade.[Porém], não temos sentimento de nação totalmente consolidado."

"O general Heleno diz que o Brasil é como um superdotado num corpo de adolescente, não tem noção do seu território, não tem a percepção da importância e talvez daí decorra o fato de sermos tão voltados para dentro de nós mesmos."

LIDERANÇA SUL-AMERICANA

"A consequência disso é nossa dificuldade de assumir uma responsabilidade inexorável: exercer a liderança na América do Sul. Para exercer a liderança, é necessário primeiro demonstrar capacidade. Segundo, vontade; e terceiro, ser capaz de inspirar e de mostrar um caminho para o futuro. É impressionante quando vemos um militar argentino reclamar de nós, por não assumirmos a liderança na América do Sul."

" Os países sul-americanos sabem que a alternativa que eles têm é de se agregar a um grande projeto de desenvolvimento do Brasil. Caso contrário, estaremos sempre periféricos. Não há absolvição para isso. Nos falta esse sentimento de um projeto nacional."

"Quando vejo essas discussões, em relação à crise que nós vivemos e a busca de caminhos, a minha impressão é que elas são superficiais. Carecem de profundidade, de uma multidisciplinariedade necessária para a mudança da nossa realidade."

IDEOLOGIA DESENVOLVIMENTISTA

"Em relação a um projeto nacional, o Brasil, pela sua dimensão, pelas características que tem, não pode prescindir de uma ideologia que lhe dê um caminho. Não estou me referindo a ideologia política."

"O Brasil foi, da década de 1930 à década de 1950, o país do mundo, ou um dos países do mundo, que mais cresceu. Havia uma ideologia de desenvolvimento, um sentido de projeto, um ufanismo. Na década de 1960, vivemos o momento Juscelino, Brasília sendo construída, aterro do Flamengo, aterro de Copacabana, campeão do mundo de futebol, campeão do mundo de basquete, Maria Esther Bueno no tênis, Eder Jofre no boxe, enfim, havia um ufanismo e um otimismo muito grande. Éramos o país do futuro."

"Cometemos o erro de, durante a Guerra Fria, permitir que a linha de fratura passasse por dentro e dividisse nossa sociedade. Foi aí que perdemos o sentido de coesão, perdemos essa ideologia do desenvolvimento, sentido de projeto, ficamos um país à deriva."

FRAGMENTAÇÃO GERAL

"Corremos perigo. Pela nossa dimensão, pela nossa estrutura, as forças centrífugas estão se fortalecendo e corremos o risco de fragmentação. Se não uma fragmentação territorial, já estamos a caminho de uma fragmentação social. "

"Permitimos incorporar ideologias. Aliás, dizem que, quando as ideologias ficam velhas, elas se mudam para a América do Sul. Incorporamos tanto ideologias políticas como ideologias sociais que estão nos desfigurando como nação e alterando a nossa identidade."

"Há tendência no nosso país de todos os problemas serem transformados em ideologias. Quando isso acontece, se perde a visão de resultado e o foco fica sendo na aplicação da ideologia e não no que se pretende buscar como solução."

PRISIONEIRO IDEOLÓGICO

"Isso gera um mais do mesmo. Quanto mais ambientalismo mais problemas ambientais temos. Quanto mais indigenismo, coitados dos nossos índios, mais são relegados ao abandono. Quanto mais luta contra o preconceito racial, mais racialismo. O ministro Aldo Rebelo diz que nós éramos um país de mestiço e estamos nos transformando em país de brancos e pretos."

"Quanto mais luta ou quanto mais se discute as questões de gênero, mais preconceito. Surge, agora, até, intolerância religiosa."

"Por trás disso tudo, está nossa falta de disciplina social, de limites que vêm das carências da nossa educação. Essa essência é a causa principal de tudo que tem acontecido. Perdemos, até mesmo, o ínsito[disseminado pela natureza] da presunção da autoridade, da autoridade presumida. Essa falta de limites mostra que a nossa sociedade vai se desagregando paulatinamente. Fico impressionado com a passividade com que assimilamos essas ideologias."

"Do ponto de vista político, o frei Leonardo Boff deu uma explicação, muito simples e clara. Ele disse que combater o capitalismo com base na luta de classe traz em si um problema, uma desvantagem porque coloca as classes em oposição, mas combater o capitalismo com base nessas ideologias, principalmente, no ambientalismo, faz com que todas as classes se coloquem do mesmo lado e entrem em consonância."

NOVO IMPERIALISMO

"A inteligência brasileira não tem percebido que, depois do processo de descolonização, as ideologias são instrumentalizadas pelos organismos internacionais, por organizações não governamentais. [Até] parcela mais à esquerda do nosso espectro político incorporou, totalmente, esse novo imperialismo. Imperialismo do final do século XX, do início do século XXI."

"Somos de uma passividade incrível. Temos 80% da Amazônia preservada e admitimos levar lições de países que têm 0,3% das suas florestas originais. A média mundial de preservação das florestas mundiais é de 25%, aproximadamente. O Brasil não pode, não precisa e não deve aceitar lições de quem quer que seja, como aquele episódio em que a primeira ministra da Noruega cobrou do nosso presidente, em razão de a Noruega ter doado R$ 1 bilhão para a preservação da Amazônia."

HAJA PACIÊNCIA

"Vou contar um episódio pitoresco. Eu era comandante militar da Amazônia e fui realizar uma grande operação de fronteira. Antes, determinei que se realizasse uma operação de inteligência. Me liga, muito afobado, um comandante do Batalhão de Selva de Barcelos, dizendo que estava na aldeia ianomâmi Demini e lá encontrou o rei da Noruega. Eu falei, 'ô, coronel, você está com algum problema'. Ainda brinquei com ele: 'o senhor fumou tóxico vencido. Por que é que o rei da Noruega está na aldeia Demini, área Ianomâmi?'. Ele insistiu: 'General, o rei da Noruega está aqui'. Fui ao ministro Celso Amorim, da Defesa. Ele questionou o Itamaraty. Realmente, a visita era decorrente de um acordo sigiloso entre Ministério da Justiça, Funai, Itamaraty. Sim, o rei da Noruega estava na área Ianomâmi. Então a nossa paciência..."

"Quando estava em votação, pelo STF, a demarcação da Raposa Terra do Sol, em Roraima, o príncipe Charles veio à Amazônia, ao Brasil, não é? Então, esse assunto, enfim, é um tema que se pode discorrer muito, mas estou apenas usando para exemplificar a nossa passividade."

AMAZÔNIA E SOBERANIA

"Permitimos acúmulo de déficit de soberania em relação ao nosso território. Recentemente, o governo quis regulamentar a exploração de reserva extrativista lá no Pará. Isso gerou, imediatamente, campanha internacional. O Brasil, hoje, não tem liberdade de ação para uso dos seus recursos naturais."

"A Amazônia tem três papéis a cumprir para o Brasil. O primeiro decorre dos seus recursos naturais. Levantamento mais abrangente que vi fala em 23 trilhões de dólares. O segundo diz respeito ao ponto de vista geopolítico. A Amazônia, a Pan-Amazônia, abrange nove países. São extremamente semelhantes tanto do que diz respeito ao potencial, quanto no se refere aos problemas que ela apresenta. Trata-se de enorme oportunidade de promovermos a integração e assumirmos a liderança da América do Sul. E terceiro é o grande apelo internacional que a Amazônia apresenta, água, energia renovável, produção de alimentos, mudança climática, biodiversidade."

"A Amazônia, em relação ao Brasil, é vista, mais ou menos, como o Tibet, em relação a Índia. É tarefa urgente que Brasil tem que realizar. Não temos política para Amazônia, não temos um órgão de qualquer natureza, um ministério, uma agencia reguladora, seja lá o que for para coordenar as ações na Amazônia."

" O que se faz na Amazônia é muito mais baseado no caráter repressivo do que apoio a sociedade e promoção do desenvolvimento com proteção ambiental. Qualquer ação da Amazônia tem que ser multidisciplinar, tem que conter vetores sociais, ambientais, de conhecimento, de ciência e tecnologia, econômicos e logicamente de defesa e de segurança. São os papéis que a Amazônia tem para desempenhar."

ESTRATÉGIA GEOPOLÍTICA

"Geopoliticamente, é difícil tratar de defesa no Brasil e fazer com que o tema tenha o reconhecimento merecido. Tivemos sempre verbas orçamentárias muito baixas e, mais grave do que isso, imprevisibilidade dos orçamentos. É muito mais importante a regularidade e a previsibilidade do que o montante de recursos, propriamente dito."

"Falta percepção da importância da defesa. Questiona-se, até mesmo, necessidade das Forças Armadas. Forças Armadas são instituições nacionais permanentes, conforme consagra o artigo 142 da Constituição. Trata-se da construção da nacionalidade. Quando se consolida o sentimento de nação, já há ali um embrião da força armada. Quando se adquire independência, a força armada já está presente."

"Esse processo é universal, quase todos os países do mundo têm, como os grandes líderes Wolts, pais da pátria, figuras de generais, aqui na América do Sul é típico, né? Temos aí San Martín, Bernardo O'Higgins, Bolívar, Artigas e outros. Nós não temos porque nosso processo de independência é realmente muito peculiar."

"É importante que a defesa seja entendida pelo que podemos chamar de funções da defesa. Não é uma condição acadêmica, mas decorre da percepção da realidade. Ela implica quatro funções: primeira função primordial da defesa é dissuasão. A dissuasão não é um fim em si mesmo. Ela se insere com outros fatores: poder econômico, vontade política, diplomacia, para que se obtenha a liberdade de ação necessária ao país agir de acordo com os seus interesses, e exercício de liderança."

IDENTIDADE NACIONAL

"A segunda função da defesa é ser guardiã da identidade nacional, com as Forças Armadas e, especialmente, o Exército, graças a sua capilaridade. O processo que vivemos pode levar a uma perda dessa identidade. Perdemos nossa essência. Isso tem se refletido em setores que demandam intervenção militar. Pesquisa indica que 43% da população brasileira pede intervenção militar. Isso, na minha opinião, é um termômetro da gravidade do problema que estamos vivendo no país."

"Uma intervenção militar seria um enorme retrocesso hoje, mas, na verdade, interpreto também aí como uma identificação da sociedade com os valores que as Forças Armadas expressam, manifestam e representam. Invariavelmente, diz a pesquisa, as Forças Armadas estão em primeiro lugar no índice de credibilidade perante a sociedade."

NACIONALISMO ECONÔMICO

"O terceiro papel da defesa e das Forças Armadas é contribuir para o desenvolvimento nacional. Elas induzem o desenvolvimento. Nossa indústria de defesa movimenta 3,7 % do PIB, gera 60 mil empregos diretos, 240 mil empregos indiretos e movimenta, mais ou menos, R$ 200 bilhões por ano. Nenhum país chegou ao primeiro mundo importando produtos de defesa. Todos eles têm a estrutura de defesa como forte componente de indução do seu desenvolvimento econômico, científico e tecnológico. As tecnologias são duais. A defesa assiste a outras áreas. Segundo a Fipe, cada real investido em programas de defesa gera um multiplicador de 9,8 em relação ao PIB. Trata-se de grande investimento a indústria de defesa."

"Por último, a função da defesa, por meio das Forças Armadas, visa atender demandas da população. Elas não devem se limitar apenas a se preparar para fazer face ao inimigo. Têm que atender a qualquer necessidade. Hoje, o Exército participa de 58 operações de natureza variada no território. Temos 3.100 militares operando nesse momento. Apoiamos a área ambiental, área indígena, área de saúde, programas de combate a proliferação dos mosquitos, da zika, chikungunya etc."

"Temos operações de fronteira permanente, operações de garantia da lei e da ordem, como está em andamento no Rio de Janeiro e a que realizamos recentemente no Rio Grande do Norte. Em um ano e meio, fomos empregados três vezes no Rio Grande do Norte. Nesse espaço de tempo, não houve nenhuma modificação estrutural no sistema de segurança pública naquele estado, e nós sabemos que logo seremos chamados a intervir novamente."

"Temos operações de defesa civil: distribuímos água a 4 milhões de habitantes do polígono da seca no Nordeste. Fazemos isso, senhoras e senhores, há 14 anos! O governo despende, mais ou menos, R$ 1 bilhão por ano nesse programa emergencial, ou seja, R$ 14 bilhões em 14 anos. Poderiam ter sido empregados em obras estruturais para modificar aquela realidade. Em 2017, tivemos 507 operações, com mais de 130 mil militares sendo empregados."

"As Forças Armadas exigem sistemas de proteção social particulares, peculiares, para que se tenha sempre uma instituição para ser empregada a qualquer momento, em qualquer local, e por um tempo indefinido."

"Essas quatro funções da defesa precisam ser inseridas nesse sentido de projeto que nós urgentemente temos que desenvolver. Espero que, na campanha eleitoral, consigamos colocar esses temas em discussão junto com outros temas de Estado. Confesso que trabalhamos nesse sentido, fazendo contato com os candidatos, já, mais ou menos, consolidados. Oferecemos até consultoria e ajuda para que eles trabalhem nessa linha."

Fonte

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey