Antecipando-se ao encontro com Netanyahu no próximo dia 15 em Washington, pela primeira vez o presidente norte-americano comenta pessoalmente ocupações israelenses na Cisjordânia, e o fez de maneira crítica: "Não cooperam com o processo [de paz]"
por Edu Montesanti
Donald Trump afirmou que as ocupações de Israel na Cisjordânia "não cooperam o processo" de paz em entrevista ao jornal Israel Hayom nesta sexta-feira, 10, primeira do presidente norte-americano a um meio de comunicação israelense desde que assumiu a Presidência no último dia 20 de janeiro.
Também foi a primeira vez que o presidente norte-americano comentou pessoalmente as ocupações, em uma entrevista bem ao seu estilo: ambíguo, superficial, com poucas palavras e esbanjando habilidade em ficar bem com todos os lados possíveis, enquanto for de seu interesse como magnata. "Toda vez que você toma a terra para ocupações, há menos terra disponível. Mas estamos prestando atenção a isso, e estamos atentos a outras opções, as quais veremos", disse Trump, e acrescentou: "Mas não, eu não sou alguém que acredita que levar adiante essas ocupações seja boa para a paz".
Apesar de criticas moderadas o suficiente para não colocarem em questão o que elas representam para a nação palestina e para o direito internacional, Trump afirmou que fortalecerá os laços com Israel. "Há boa química entre nós, e ele é um bom homem; quer o bem de Israel, e deseja a paz", referindo-se ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Natanyahu.
Trump prometeu que não assumirá uma postura hostil em relação a Tel Aviv. "Não condeno Israel", entrando assim, em contradição na entrevista e aos ditos e feitos desde a campanha presidencial colocando-se como rigoroso defensor da aplicação da lei (para os inimigos, cinismo peculiar aos norte-americanos), e ignorando (em perfeita consonância com os grandes meios de comunicação internacionais, de propriedade exatamente de sionistas) que as ocupações israelenses vão muito além de construção de moradias em terras alheias: são baseadas no massacre armado com subsequente expulsão de seus proprietários, que ali habitam há séculos.
O ponto em que Trump chegou mais próximo de uma crítica contundente às "políticas" (crimes de lesa-humanidade) israelenses, foi quando afirmou esperar que Israel haja de maneira racional em relação à paz, sugerindo que as ocupações não se tratam de meros "equívocos políticos". Porém, não definiu o que significa ser mais razoável em relação aos palestinos além da ideia implícita de se deter as ocupações (o que, apenas isso, não resolverá em nada a questão).
Em outro momento da entrevista, fazendo as vezes de refém de Israel como seus antecessores na Casa Branca, o novo presidente dos Estados Unidos afirmou que o acordo nuclear com o Irã (no mínimo questionável se é justo e eficiente para a nação persa) "foi um desastre para Israel".
Sem discutir o acordo em si e muito menos colocá-lo no contexto global, é fácil compreender por quê o mandatário republicano, também nisso, raciocina sob ponto de vista sionista: estes estão entre os três maiores lobistas da política norte-americana, junto da indústria bélica e petrolífera.
Inclusive por isso, já se pode esperar que mesmo as suaves e vazias críticas de Trump a um dos mais graves massacres pós-Segunda Guerra Mundial, seja suficiente para gerar mais uma onda de histeria entre sionistas em todo o mundo, com a mesma fúria de sempre que ataca agressivamente toda e qualquer crítica - desta vez, certamente o novo inquilino da Casa Branca será acusado de "anti-semita" por muitos, alarmados com a aparente reviravolta nos gestos de Trump a Israel em relação aos discursos que remontam a campanha presidencial.
Apesar da ambiguidade e da superficialidade, as palavras do ultra-direitista Donald Trump sobre as ocupações israelenses poderiam geram algum ânimo nos que desejam a paz no Oriente Médio.
Já o proprietário do Israel Hayom é Sheldon Adelson, homem de negócios judeu-norte-americano com fortes laços a Netanyahu e ao Partido Republicano dos Estados Unidos. Adelson doou milhões de dólares à campanha do republicano eleito, e um dos únicos doadores convidados ao juramento de posse de Trump. Há poucos dias, na terça-feira, 7, compareceu a um jantar com a esposa na Casa Branca com a família Trump.
De maneira realista, nada leva a crer que, desta vez, haverá paz e justiça entre a humanidade.
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