"'Analistas' e políticos 'ocidentais' e seus think-tanks e seus jornais e televisões são responsáveis pelo revide-retaliação que o Estado Islâmico/ISIL/ISIS/Daeesh [a televisão francesa, estranhamente, só usa o último nome dessa lista de sinônimos (NTs)] anunciou hoje. E que não tardará."
22/9/2014, Moon of Alabama
http://www.moonofalabama.org/2014/09/why-the-islamic-state-announced-retaliation-.html
Um certo Shaykh Abū Muhammad al-'Adnānī ash-Shāmī, dito o n. 2 do Estado Islâmico (EI) falou hoje (trad. em ing., dos Arquivos Nacionais dos EUA), e ordenou que seguidores do Estado Islâmico em todo o mundo ataquem os países que ameaçaram fazer guerra contra o EI.
Claro que o homem pode ser, como versões anteriores de al-Baghdadi, personagem inventado. Nem por isso o discurso se tornaria irrelevante.
Pode-se argumentar que seria tentativa, pelo EI, para deter novos ataques contra si. Mas se a intenção foi essa, o mais provável é que fracasse. O 'ocidente', quer dizer, os EUA, é agressivo demais e autoconfiante demais para deixar-se deter por ameaças que só fazem gerar pretextos para mais uma década de guerras. A máquina militar já está girando e, agora, nada conseguirá detê-la. Os EUA estão reconstruindo sua antiga Base Operacional Avançada Speicher ao norte de Tikrit, como centro de operações para as próximas fases e escaladas que virão.
O argumento do governo Obama, de que o EI seria uma ameaça ao "ocidente" e os tais sempre nebulosos "interesses" que o tal 'ocidente' diz ter eram e são, todos, falsos. O Estado Islâmico não começou essa guerra contra o 'ocidente'. A atual guerra aconteceu por duas razões. Uma delas é óbvia [até para a CNN, hoje] - o Estado Islâmico foi atacado e teve de responder:
"Esforços para estabelecer sua versão de um Califato Islâmico desestabilizaram toda a região, levando os EUA a ataques que visavam a impedir que avançassem.
O grupo islâmico militante então respondeu, com a degola de três de seus reféns ocidentais em semanas recentes.
...
Os assassinatos de Foley e Sotloff aconteceram depois que os militares dos EUA iniciaram os ataques aéreos contra posições do ISIL no Iraque" (...)
Agora, depois de quase 200 ataques aéreos por aviões norte-americanos e franceses, o Estado Islâmico, sim, realmente está ameaçando retaliar.
Para surpresa, provavelmente, de muitos leitores, eu argumentei a favor de ataques aéreos. Mas fui muito específico. Aqueles ataques deveriam visar exclusivamente o armamento pesado que o Estado Islâmico capturou dos exércitos iraquiano e sírio. Essa montanha de equipamento pesado, não combatentes em fuga, é que tornam o Estado Islâmico perigoso para todos no Oriente Médio.
A Força Aérea dos EUA precisaria só de algumas semanas, em colaboração com grupos de operações especiais em solo, para reduzir o Estado Islâmico a uma força de infantaria incapaz de ações geográficas maiores.
Esse vídeo dos ataques recentes do Estado Islâmico contra a cidade síria (curda) de Kobane mostra os combatentes do EI usando com sucesso grandes tanques de combate e inúmeras peças de artilharia pesada. A força aérea síria conseguiu deter o ataque contra a cidade, destruindo uma ponte muito necessária para os atacantes. Mas o que tem de ser destruído é o equipamento pesado (e respectiva munição).
Mas voltando ao discurso do representante do Estado Islâmico, Shaykh al-Adnani expõe outra razão que torna inevitável a guerra:
O ponto de partida da psicologia do ISIL é uma posição de humilhação. O Ocidente humilhou os muçulmanos em todas as suas 'cruzadas'. Adnani menciona especificamente o Iraque. O objetivo psicológico do Estado Islâmico é claramente se vingar daquelas humilhações; o sentimento é de que os 'cruzados', afinal, o temem (novamente).
Alá deu a vocês força e honra, depois da humilhação pela qual passaram.
Esse sentimento de humilhação combina-se com um sentimento de ter sido traído. Os sunitas foram atacados no Iraque e na Síria e ninguém veio ajudá-los. Adnani concentra-se na Síria, local pelo qual o Ocidente não dá sinal de interesse ou de preocupação pelo que aconteça por lá.
Seus sentimentos não foram ouvidos durante longos anos de sítio e fome no Levante [Síria], e todos desviaram os olhos enquanto choviam bombas destrutivas sobre o Levante [Síria]. O Ocidente não manifestou qualquer ultraje ante cenas horrendas de mulheres e crianças muçulmanas morrendo de olhos arregalados, pelas armas químicas dos nusayriyyah [alawitas] - cenas que continuam a acontecer todos os dias, expondo a realidade da farsa de alguma arma química que pertencia aos cães nusayrī [alawitas] protetores dos judeus, ter sido destruída. Os EUA e seus aliados não se emocionaram nem manifestaram qualquer ultraje ante qualquer daquelas cenas. Fecharam os ouvidos ao choro de desespero dos mais fracos, fecharam os olhos para não ver muçulmanos massacrados em cada uma e em todas essas terras, ao longo de anos e anos.
Aí se vê o Estado Islâmico como único real protetor dos muçulmanos na Síria e no Iraque. E parecem surpresos pelo fato de que sua atitude bárbara tenha afinal perturbado o resto do mundo.
Fato é que o Estado Islâmico 'caiu' na propaganda 'ocidental' ou, então, se limita a repeti-la. Para o EI, não há diferença entre "bombas destrutivas sobre o Levante" e qualquer outra bomba 'ocidental'. Mas a 'semelhança' aí foi inventada pela imprensa-empresa ocidental, para pintar o governo sírio como manifestação também da mesma 'maldade essencial' que contaminaria todos os 'árabes', quando não todos os 'muçulmanos'. Os ataques químicos nunca passaram de operações comandadas pelo 'ocidente', não pelo governo da Síria. Mas o Estado Islâmico acreditou nessas lorotas. O Califa engoliu a lorota!
Mais importante - a motivação dos combatentes estrangeiros para acorrerem em apoio ao Estado Islâmico e seus seguidores em todo o mundo foi também, em larga medida, inventada pela propaganda 'ocidental' contra o governo sírio!
Quem, na Europa, em seu ambiente seguro, pensaria algum dia em unir-se ao Estado Islâmico, se a 'mídia' - a empresa-imprensa 'ocidental' - não se tivesse posto a demonizar o governo sírio?! Entendo que a resposta, na maioria dos casos, é "ninguém".
Acredito, como Marcy Wheeler, que o crescimento o Estado Islâmico nos anos recentes tenha sido uma espécie de criação não desejada do 'ocidente'; a causa de tudo foi terem deixado o saudita príncipe Bandar comandar a parte militar da campanha anti-Síria. O pessoal que comanda o Estado Islâmico poderia existir e combateria, mesmo sem a campanha comandada por Bandar; mas em escala muito menor.
Mas outra razão para a ascensão do Estado Islâmico foi a campanha movida pela empresa-imprensa, a 'mídia' 'ocidental', para demonizar o presidente da Síria e o governo sírio. Essa campanha, agora, dá ao Estado Islâmico a justificativa para retaliar.
'Analistas' e políticos 'ocidentais' e seus think-tanks e seus jornais e televisões são responsáveis pelo revide-retaliação que o Estado Islâmico/ISIL/ISIS/Daeesh [a televisão francesa, estranhamente, só usa o último nome dessa lista (NTs)] anunciou hoje. E que não tardará. *****
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