Milton Lourenço (*)
O governo que se encerra entrega o País em processo de desindustrialização, com nítidas tendências de um retorno à fase colonial ou à primeira metade do século XX, quando era, sobretudo, um fornecedor de matérias-primas. Quem ainda não despertou para esse detalhe que leia e analise com atenção os números que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou.
É verdade que, como fez questão de destacar o MDIC, as exportações podem chegar a US$ 200 bilhões até o final do ano, superando o recorde de 2008, registrado na temporada de pré-crise econômica internacional. Não é pouco. Além disso, no mês de novembro, a exportação alcançou US$ 17,6 bilhões e média diária de US$ 884,4 milhões, maior média para meses de novembro. Sobre novembro de 2009, as exportações registraram aumento de 39,8%, enquanto sobre outubro de 2010 retrocederam 3,8%, pela média diária.
Só que há um detalhe - e a vida é feita de detalhes. A meta de exportações prevista será resultado direto da venda de produtos básicos, que tiveram em novembro um crescimento de 69,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao mesmo tempo, os produtos semimanufaturados registraram uma evolução de 45,5%. O detalhe preocupante está aqui: as vendas para o exterior de produtos manufaturados (de alto valor agregado) cresceram apenas 18,6%.
Diante de uma taxa cambial valorizada e pressionada pelas despesas provocadas pelo chamado custo Brasil - ou seja, alta carga tributária, infraestrutura atrasada, burocracia excessiva, altos custos trabalhistas -, a indústria nacional de vestuário, equipamentos de uso doméstico e outros perdem espaço no mercado externo, especialmente para mercadorias procedentes da China e da União Europeia. E sofre a concorrência predatória de produtos chineses no próprio mercado nacional, ainda que medidas antidumping tenham sido tomadas e alcançado bons resultados, como no caso dos calçados.
Não é esse o melhor dos mundos para um País que, na segunda década do século XXI, precisará crescer e modernizar sua infraestrutura, o que equivale a dizer que será obrigado a investir pesado na importação de equipamentos. É verdade que a tendência é que o preço das commodities continue a subir, o que significa que o País pode seguir registrando superávits comerciais, ainda que venha a perder outros mercados para seus produtos acabados.
Mas não se pode esquecer que a China, principal responsável pela demanda de nossas commodities, começa a buscar estratégias para combater a inflação decorrente da elevação das matérias-primas. Por enquanto, as commodities, que representam 70% das receitas da exportação, permanecem em patamar elevado, favorecendo a expansão das vendas externas, em que pese o Brasil manter-se dependente de cenário e demanda internacionais favoráveis.
O que se espera é que o novo governo adote uma política externa que não seja voltada somente para os países emergentes ou menos desenvolvidos, mas que priorize também os países desenvolvidos. Afinal, são estas nações que compram de forma permanente, principalmente os Estados Unidos.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br
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