Milton Lourenço (*)
As vendas brasileiras para o mercado norte-americano, que já vinham em decréscimo em razão de uma taxa de câmbio desfavorável e da agressiva concorrência dos produtos chineses, começam a sofrer os efeitos da crise que vêm abalando a economia dos EUA. Entre 2003 e 2007, as vendas brasileiras já haviam encolhido de 25% para 15% do total exportado pelo País e só não caíram mais em função da exportação de petróleo bruto, cujos preços estão em alta.
Em outras palavras: em 2007, enquanto as exportações totais do Brasil cresceram 16% em relação a 2006, as vendas para os EUA aumentaram apenas 2,2% -- ou seja, para US$ 25 bilhões. Sob a ótica vesga de alguns analistas, isso pode significar uma perigosa dependência em relação a um país, mas, a rigor, esse número torna-se irrisório quando se leva em conta que os EUA representam o maior mercado do planeta, importando cerca de US$ 2 trilhões por ano.
Como há duas décadas o mercado norte-americano absorvia 27% das exportações brasileiras, algum fiel discípulo do conselheiro Acácio, certamente, diria que, em caso de recessão nos EUA, os efeitos na economia brasileira agora hão de ser menores, esgrimindo o argumento segundo o qual, se o Brasil vem perdendo espaço nos EUA, por outro lado, está conquistando mercados e ampliando sua presença em outras nações.
E certo que os resultados das exportações para a União Européia, com aumento de 29% em 2007 em relação a 2006, e para o Mercosul (23%) e para a China (27%) são significativos, mas não podem ser vistos como uma compensação para a perda de mercado nos EUA. Até porque de pouco adianta conquistar novos mercados, se o País continuar a sofrer graves revezes no maior de todos os mercados.
Se voltam a crescer, obviamente, os EUA podem importar mais, mas será em pouca quantidade, pois os produtos brasileiros vêm perdendo continuamente espaço naquele mercado. E mercado não se recupera de um dia para o outro. É verdade que muitas empresas vem desviando boa parte de sua produção para os países da zona do euro, mas a União Européia jamais poderá substituir o mercado perdido nos EUA. Até porque apóia-se em grande parte no mercado asiático, que, por sua vez, depende basicamente dos EUA. Quer dizer: se a economia norte-americana passar por uma fase de desaquecimento, não haverá país imune a abalos.
Diante disso, é necessário que o governo mude o foco de suas preocupações, investindo em áreas que possam trazer benefícios reais à economia do País. Por exemplo: as viagens presidenciais para o continente africano, de prático, nada trouxeram, além de discursos grandiloqüentes e espaço na mídia. Tiveram, isso sim, um efeito contrário: as exportações para a África aumentaram apenas 14%, enquanto as importações dispararam para 260%, o que resultou em déficit de US$ 2,7 bilhões.
Portanto, além de rever as prioridades de sua política comercial externa, o governo precisa dar ouvidos às queixas de quem entende do assunto, reduzindo a excessiva carga tributária e as exigências burocráticas, além de fortalecer o sistema de crédito à exportação e trabalhar para evitar o estrangulamento dos portos. Só assim o País terá condições de suportar eventuais turbulências.
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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. Site: www.fiorde.com.br E-mail: [email protected]
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