Quem procura umas férias originais, uns dias nas grutas de Bin Laden em Tora Bora, no Afeganistão ou nas favelas de Rio de Janeiro ou no campo de concentração de Auschwitz em Polónia (foto) são o ideal. Uma nova modalidade do turismo, os "tours da realidade" ganham cada vez mais adeptos.
Este tipo de turismo, que leva os visitantes a conhecerem cenários onde ocorreram tragédias, como o marco zero, em Nova York, ou os aproximam da miséria e do sofrimento, ainda não está sendo explorado oficialmente no World Travel Market (WTM), que abriu suas portas segunda-feira e termina amanhã em Londres.
Mas o Relatório de Tendências Globais 2006 desta feira, um dos maiores mercados de turismo mundial, que foi publicado na inauguração do evento, insiste na busca de muitos turistas por sensações fortes e perigosas.
O relatório citou, por exemplo, o "turismo de favela" carioca, onde turistas estrangeiros, acompanhados de guias e tradutores, procuram entrar em contato com a miséria dos moradores de favelas que cercam o Rio de Janeiro, dominadas pela violência e pelo narcotráfico.
Embora nos 34.000 metros da feira não haja uma única promoção deste tipo de turismo, também denominado "turismo negro" ou "turismo realidade", os operadores presentes em Londres sabem de sua existência.
"No Rio, a favela mais visitada é a Rocinha, a maior favela da América Latina, com 180.000 habitantes", admite Gracinha, uma jovem que atende os visitantes no imenso estande ocupado pelo Brasil no Excel, o salão de exposições ao leste de Londres, onde acontece a feira.
"Sabemos que no Estado de Guerrero se organizam para os turistas percursos como os que fazem os imigrantes ilegais que tentam cruzar a fronteira com os Estados Unidos", disse um funcionário da junta de turismo do México. "Mas nós não promovemos este turismo negro", acrescentou.
No Afeganistão o local onde o líder da Al-Qaeda se escondeu está a ser transformado numa estância de férias no valor de milhões de euros.
Bin Laden escondeu-se nas grutas em 2001, depois do governo talibã ter sido deposto. Gul Agha Sherazi é um ex-guerreiro que se tornou no governador local. Gul afirma que a zona é segura. «Tora Bora é uma cidade mundialmente famosa, mas quero que seja conhecida pelo turismo, e não pelo terrorismo», diz.
Na Argentina, muitos turistas querem visitar as Cataratas do Iguaçu ou Bariloche, mas outros também querem conhecer as favelas que cercam Buenos Aires, como Villa 20, onde às vezes acabam comendo com os moradores um "asado obrero", espécie de churrasco popular, informou um funcionário no estande deste país.
São oferecidas inclusive "trava tours" na área de prostituição de Buenos Aires para ver e conhecer os travestis, para os quais os turistas estrangeiros podem perguntar sobre suas experiências de vida.
Na área ocupada por Nova York, tampouco se vê uma promoção direta do "marco zero" como atração turística.
Mas os operadores de turismo da cidade reconhecem que o imenso buraco deixado pelas torres gêmeas, destruídas nos ataques de 11 de setembro de 2001, é um dos locais que mais atraem turistas estrangeiros ou domésticos na Grande Maçã.
"Embora não haja nada para ver, só o buraco, máquinas e trabalhadores, as pessoas vão ao marco zero em peregrinação", disse Sally Forbes, que disse também ter ouvido falar em "reality tours" organizados em Nova Orleans, em Louisiana (sul dos EUA), devastada pelo furacão Katrina, em 2005.
"Mas também na Ásia, em Bangcoc, se organizam tours para ver os efeitos do tsunami de 2004", contou, um pouco na defensiva.
A fome de realismo de alguns turistas não tem limites. Alguns visitam, por exemplo, os locais de matanças cometidas pelos khmeres vermelhos no Camboja, que deixaram dois milhões de mortos.
E na Polônia, o campo de concentração de Auschwitz é uma das atrações turísticas do país.
Segundo o WTM, estes "tours da realidade", que se vangloriam de ter uma função "educativa", são por este motivo os novos e mais pungentes "nichos" do mercado turístico mundial, que atraem cada vez mais turistas em busca de "emoções fortes".
Com Último Segundo
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