Casamento homossexual: Por quê não?

Por quanto mais tempo a humanidade vai se limitar a viver regida por conceitos medievais, por preceitos homofóbicos, racistas e preconceitos chauvinistas dentro de uma sociedade que teima em rotular as pessoas indevida e injustamente?

Seria maravilhosamente simples e fácil viver num mundo de preto e branco, onde haveria pessoas “normais” e “anormais” ou seria um tédio profundo? E o quê significa a palavra “normal”? Será “normal” aquele senhor João casado com cinco filhos, que esconde a sua homossexualidade tão bem que nem a mulher dele sabe, e cujas “reuniões” às quintas-feiras se passam vestida de mulher, chamada Joana, com peruca, maquilhagem e unhas pintadas, num bar frequentado por pessoas com interesses semelhantes?

E o Pedro, que deixou a esposa para ir viver com o Filipe, foi porque “virou”, ficou “veado/maricas/paneleiro”, ou simplesmente porque encontrou uma pessoa extra-ordinária, se apaixonaram e não havia nada que alguém pudesse fazer para impedir que a sua relação desenvolvesse?

Ou será “anormal” aquela senhora Maria da Luz que vive no sexto andar, bem e felizmente casada e com três netos, que gosta da sua relação heterossexual com o marido mas que de vez em quando paga uma acompanhante para ter uma noite louca de sexo? E divertimento. E se for com uma pessoa adulta e com consentimento, qual é o problema? E se o João gosta de ser Joana, faz mal a alguém? Não teria efeito mais pejorativo na sociedade o rapaz que espanca uma idosa para roubar sua pensão para alimentar a sua tóxico-dependência?

As reações das pessoas quando confrontadas com estas realidades são muitas vezes do tipo “caça à bruxa” (ou bruxo), são reações primárias, são reações preconceituosas, são reações que as pessoas têm porque acreditam que têm de obedecer um “padrão” e que aquilo que sai fora dos parâmetros deste, tem de ser ridicularizado, insultado ou rotulado de “indesejável”…neste caso, “gay”, “veado”, “maricas”, “paneleiro”, “panasca” e por aí fora.

A palavra “gay” em inglês significa “alegre”, “feliz”. O veado, na Grã-Bretanha, é símbolo de masculinidade, poder, por isso a noite de despedida de solteiro se chama “Stag night” (noite dos veados), que termina não numa orgia homossexual, mas sim com uma moça bonita a sair de um bolo.

Mas não será que estas reacções são iguais a aqueles inteligentíssimos comentários que norte-americanos são gordos, que negros (“pretos”) são estúpidos, que as chinesas têm a coisa de lado, que os ingleses são frios, que os russos comem crianças, que a senhora com uma doença de pele que vive na floresta é filha de uma mulher que dormiu num palheiro enquanto deveria ter estado a trabalhar e que foi violada por uma cobra?

Ser homofóbico é igual a ser racista, uma posição primária e que demonstra uma tamanha falta de integridade, inteligência e instrução e ser homofóbico, rotular pessoas por causa da sua preferência sexual, é uma intrusão arrogante e injustificável na vida das outras pessoas, é um atentado à liberdade de escolha, se ser, de viver, num mundo que não pertence a ninguém mas sim a tod@s.

Por isso, quem tem o direito de negar o direito ao casamento de duas pessoas, sejam elas mulher e homem, duas mulheres ou dois homens? E já que estamos a falar de género, as pessoas que são moças em corpo de homem ou homens em corpo de mulher? Rotulá-l@s como? E por quê?

A questão de adoção de crianças é mais complexa porque tem a ver não com a escolha de duas pessoas com consentimento mas sim envolve terceiros. No entanto, aquele rapaz “Baby P.” que morreu com 18 meses de idade na Inglaterra, vítima de horríficos abusos físicos e psicológicos quase desde que nasceu, e cuja espinha foi quebrada quando o padrasto o dobrou sobre seu joelho depois de instigar seus cachorros a atacar o menino “para fazer homem dele”…não teria sido mais feliz num lar feliz, rodeado por amor, pessoas equilibradas e enfim, aquele segredo tão especial que é “ a condição humana”?

E que direito têm alguns seres human@s a ditar como devem agir outr@s?

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

Director e Chefe de Redacção

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey