Autor moçambicano fala de tradição e guerra em ‘Terra Sonâmbula’

Moçambique oficializou sua independência em 25 de junho de 1975, em homenagem à data de criação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), treze anos antes.

Após a independência, o país ainda se viu afundado em uma guerra civil que durou até 1992.

É esse o cenário do romance Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto. O livro começa com a seguinte frase: “Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada”.

E, seguindo essa estrada, somos apresentados ao velho Tuahir e ao jovem Muidinga, personagens que ilustram uma narrativa repleta de poesia. Para sobreviver, eles são obrigados a usar como abrigo um ônibus incendiado encontrado na estrada. Ali vão se conhecendo, contando e ouvindo histórias, fonte de identidade para ambos.

É a partir das andanças dos dois e da leitura dos doze cadernos/diários de um jovem desconhecido Kindzu que somos levados à cultura tradicional do passado e aos horrores do conflito presente. São contos mergulhados em mundos de sonho e de fantasia, que se misturam à cruel realidade da guerra devastadora, fome e miséria. Mia Couto traz à cena a velha arte tradicional de contar histórias, mas com uma inversão de papéis: agora é o jovem quem, a partir da leitura, tem o dom da palavra e conta as histórias de Kindzu para o velho que o acompanha.

Com uma linguagem rica e reinventada, o autor conta a história de seu país, que primeiro esteve tomado pelas lutas de libertação (contra Portugal), e depois pela guerra civil. Mas não era uma terra morta: ainda estava sonâmbula, imersa em um grande sonho e prestes a, quem sabe, um dia acordar de vez. É essa a mensagem de esperança que Mia Couto lança em seu livro: a do despertar de um novo Moçambique, pela junção do velho e do novo simbolizados pelos dois protagonistas.

Por Sheila Jacob

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey