O dramaturgo e encenador russo Alexej Schipenko estará em Coimbra na próxima sexta-feira, para participar no encontro sobre "A divulgação da literatura russa em Portugal", organizado pel'A Escola da Noite e pelo Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV).
Radicado na Alemanha desde 1990, Schipenko tem trabalhado como autor e encenador com algumas das mais importantes instituições daquele país, como a Schaubühne, a Volksbühne e o Baracke Deutsches Theater (Berlim) ou a Akademie Schloss Solitude (Estugarda), entre várias outras. Considerado como um dos mais radicais autores russos contemporâneos, a sua obra dramática distingue-se pela forma, desprovida de psicologia e recorrendo a um caos de imagens e discursos paródicos, como aborda a questão do fim da humanidade. Entre as mais de vinte peças publicadas e encenadas em vários países da Europa e nos Estados Unidos, destacam-se "Arqueologia", "A minha pátria é a Rússia" e "Da Vida de Komikaze". Desde 2005, tem trabalhado regularmente em Portugal, em colaboração com a Companhia de Teatro de Braga, para a qual escreveu e encenou os espectáculos "A vida como exemplo" e "Praça de Touros" e prepara actualmente uma adaptação de "Os Lusíadas", com estreia prevista para o primeiro trimestre do próximo ano.
Para além de Alexej Schipenko, participam no encontro da próxima sexta-feira o professor de Estudos Russos Vladimir Pliassov (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) e os tradutores António Pescada (responsável pelas novas traduções das peças em um acto de Tchékhov que A Escola da Noite tem vindo a apresentar ao longo deste ano) e Maria Hermínia Brandão e Saodat Sayberdieva (tradutoras da recente edição da novela "Sónetchka", de Ludmilla Ulistkaya), estas em representação da editora Campo das Letras.
Numa altura em que parece assistir-se a um renovado interesse pelos grandes autores clássicos russos (Pushkin, Dostoievski, Tolstoi, Tchékhov) entre os editores nacionais, com várias novas traduções feitas a partir do original recentemente publicadas ou em preparação, os organizadores pretendem fazer um ponto da situação em relação à literatura russa publicada e/ou encenada em Portugal, propondo uma discussão que naturalmente se alargará à apresentação de obras e autores menos conhecidos no nosso país e à identificação dos principais constrangimentos que se colocam a uma mais eficaz divulgação da produção literária russa contemporânea.
O encontro, que terá lugar no Café-Teatro do TAGV, ocorre no âmbito do projecto "Tchékhov em um acto", construído a partir das peças um acto do conhecido dramaturgo, e em paralelo às duas sessões especiais do espectáculo "Tchékhov e a Arte Menor" que A Escola da Noite apresenta, a 27 e 28 de Setembro, na sala principal deste Teatro.
Conversa
A Divulgação da Literatura Russa em Portugal
Café-Teatro do Teatro Académico de Gil Vicente
28 de Setembro (sexta-feira), 18:00h
moderação: Manuel Portela (director do TAGV)
convidados: Alexej Schipenko (dramaturgo e encenador), António Pescada (tradutor), Maria Hermínia Brandão e Saodat Sayberdieva (tradutoras, editora Campo das Letras) e Vladimir Pliassov (professor de estudos russos)
fotografia Alexej Schipenko (© CTB)
APRESENTAÇÃO
A Rússia ofereceu à história da literatura universal alguns dos seus nomes mais importantes. Autores como Pushkin, Dostoievski, Tolstoi ou Tchékhov são ainda hoje reconhecidos como escritores de primeira grandeza e continuam a influenciar muitos outros criadores, por todo o mundo, nos diversos domínios literários romance, poesia, novela, conto e teatro.
Com o estatuto de clássicos, estas obras chegaram também a Portugal, onde estão publicadas há vários anos, embora quase sempre em traduções feitas a partir de línguas que não a original.
Nos últimos anos, assiste-se a um renovado interesse por estes autores, registando-se a aposta de algumas editoras na encomenda de novas traduções, feitas a partir do russo, o que permitirá ao público português uma reaproximação em relação a estas obras.
Menos divulgada, no entanto, é a literatura russa contemporânea, que continua pouco conhecida junto do público nacional. Como noutros momentos e em relação à literatura de outros países, é curiosamente do Teatro que têm surgido algumas das mais significativas excepções a esta situação. A estreita colaboração do dramaturgo e encenador Alexej Schipenko com a Companhia de Teatro de Braga, para a qual escreveu, inclusivamente, duas novas peças de teatro, é disso um dos mais importantes exemplos.
A pretexto do projecto Tchékhov em um acto e, em particular, da apresentação do espectáculo Tchékhov e a Arte Menor, o Teatro Académico de Gil Vicente e A Escola da Noite organizam um debate informal sobre a divulgação da literatura russa em Portugal, oferecendo quatro diferentes perspectivas para o início da conversa: a criação dramatúrgica, a tradução, a articulação com o meio editorial e a investigação académica.
Aberta ao público em geral, a discussão passará necessariamente por um ponto da situação em relação à literatura russa publicada e/ou encenada em Portugal, pela apresentação e divulgação de obras e autores menos conhecidos no nosso país, bem como pela identificação dos principais constrangimentos que se colocam a uma mais eficaz divulgação da produção literária russa contemporânea.
NOTAS BIOGRÁFICAS
Alexej Schipenko
dramaturgo e encenador
Nasceu em 1961 em Stawropol (Rússia) e passou a infância em Sebastopol ( actual Ucrânia). Estudou na Escola Estúdio do Teatro de Arte de Moscovo. É escritor, actor, encenador e músico, tendo fundado e pertencido a vários grupos rock. Radicado na Alemanha desde 1990, trabalhou como autor e encenador com algumas das mais prestigiadas instituições daquele país, em Berlim (Volksbühne, Schaubühne, Baracke Deutsches Theater e Akademie d'Art), Estugarda (Akademie Schloss Solitude), Bremen (Theater Bremen) ou Kassel (Staatstheater). Foi professor de encenação na Universidade Ernst-Busch-Hochschule Berlin e de escrita teatral na Universidade de Arte de Berlin e tem recebido várias bolsas de literatura do Estado e outras instituições alemãs.
Autor de uma obra que se estende ainda ao romance e à poesia, escreveu mais de duas dezenas de peças de teatro, representadas na Rússia, Alemanha, França, Polónia, Espanha, Portugal, Kasaquistão, Ucrânia, Inglaterra, Bielorúsia, Bulgária, Estados Unidos da América, Escócia, Holanda, Luxemburgo, entre outros países. Depois de O Observador (a sua primeira peça, escrita em 1984), escreveu, entre várias outras, A Morte de Van Helen, Arqueologia, Um Cadáver Vivo, Last Russian Play, A Minha Pátria é a Rússia e Da Vida de Komikaze. Recebeu o prémio de melhor peça de teatro estrangeira atribuído pela revista Theater Heute pela peça Arqueologia (1988) e o prémio kodak e o prémio do grande júri pelo argumento do filme Kasan, no Filmfestival Kinotavr Sotchi (2007). O seu primeiro romance, Das Leben Arsenijs (A Vida de Arsenij) (1998), foi nomeado para os prémios Anti-Booker Preis e Nationale Bestseller.
Desprovida de psicologia, a obra de Schipenko abre uma questão sobre o Fim da Humanidade, num caos de imagens e através de discursos paródicos embelezados de clichés de "língua de pau". É considerado um dos mais radicais autores russos, na procura de uma nova escrita dramática.
Desde 2005, tem colaborado regularmente com a Companhia de Teatro de Braga, em Portugal, para a qual escreveu e encenou os espectáculos A Vida como Exemplo e Praça de Touros e prepara actualmente uma adaptação de Os Lusíadas, com estreia prevista para o próximo ano.
António Pescada
Tradutor
Nasceu em Paderne, Albufeira, em 1938. É tradutor profissional, principalmente das línguas francesa, inglesa e russa, nos domínios do ensaio e da ficção. Traduziu autores de língua francesa como Émile Zola, Amin Maalouf, Max Gallo e Albert Cohen. Da língua inglesa, traduziu Michel Faber, Cynthia Ozick, Yann Martel, Harold Pinter, entre outros. Viveu em Moscovo durante cinco anos, onde estudou língua e literatura russas, ao mesmo tempo que trabalhava como redactor e tradutor numa editora.
Depois dessa experiência, passou a traduzir literatura russa, tendo trabalhado em textos de autores como Púchkin, Górki, Dostoievski, Tolstoi, Nina Berbérova ou Mikhail Bulgákov. Durante alguns anos, colaborou com o encenador Joaquim Benite na Companhia de Teatro de Almada (CTA), onde foi editor da revista Cadernos e passou a traduzir peças de teatro. Entre outras, traduziu Calígula, de Albert Camus, Molière, de Mikhail Bulgákov, Boris Godunov, de Púchkin, e os Sketches, de Harold Pinter, representados em A Cada Um o Seu Problema, espectáculo produzido pela CTA (1997/98). Recebeu o Grande Prémio de Tradução do PEN Club e da Associação Portuguesa de Tradutores, e o Prémio de Tradução da Sociedade da Língua Portuguesa.
Vladimir Pliassov
professor de Estudos Russos
Nasceu em Moscovo, em 1952. É l icenciado pela Faculdade de Letras da Universidade Nacional M.V. Lomonossov (Moscovo) na especialidade de Língua e Literatura Russas e doutorado em Ciências Pedagógicas pela Universidade Externa de Humanidades de Moscovo.
Entre 1978 e 1988 exerceu funções docentes em diversas instituições do ensino público na Rússia e em Moçambique. Desde 1988, tem exercido funções docentes na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde lecciona, entre outras, as cadeiras Língua e Cultura Russas, Introdução à Literatura Russa e Tradução Russo-Português. Faz investigação nas áreas da língua, da literatura e da história russas.
Acompanhou como consultor as produções d'A Escola da Noite a partir da obra de Tchékhov: O Cerejal (2004) e Tchékhov e a Arte Menor (2007).
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