A Associação Espanhola de Bordéis estima que o consumo diário com a prostituição no país chegue a 50 milhões de euros (cerca de R$ 150 milhões). Os prostíbulos ligados à associação formam um pequeno universo dentro de um total de cerca de 20 mil bordéis na Espanha, segundo a polícia, onde atuam cerca de 700 mil mulheres, entre vítimas de redes de tráfico e prostitutas que trabalham por decisão própria.
Segundo a instituição, os 201 bordéis afiliados trabalham de forma legal, principalmente com mulheres do Brasil, Colômbia, Argentina, Rússia, Bulgária e Polônia.
Em dois anos, o número de prostitutas brasileiras detidas na Espanha aumentou 80%, passando de 3.332 em 2003 para 6.015 em 2005, segundo dados do Ministério do Interior espanhol. A maioria das mulheres - presas por estarem ilegalmente no país e trazida por quadrilhas especializadas em atrair mulheres com falsas promessas de emprego - acabaram sendo deportadas.
Só no ano passado, foram detidas 20.284 mulheres na Espanha. Desse total, 98,77% eram estrangeiras, um grupo no qual quase uma em cada três (30%) vem do Brasil. Em 2003, elas representavam 17% do total.
Para a polícia espanhola, esse aumento nos últimos dois anos coincide com a maior atuação das quadrilhas de tráfico de seres humanos no Brasil a partir de 2003. Segundo organizações de apoio a vítimas da prostituição no país, as brasileiras são as preferidas das redes ilegais.
De acordo com a Associação para Prevenção, Reintegração e Atenção à Mulher Prostituída (Apramp), as vítimas são atraídas com ofertas para trabalhar como garçonetes, empregadas domésticas ou mesmo modelos. Segundo a associação, apenas 5% das pessoas traficadas sabem que serão prostitutas na Espanha. A polícia define as demais como vítimas de tráfico de seres humanos.
As mulheres recebem passagens aéreas e dinheiro para tentar convencer a polícia no aeroporto de que elas têm recursos para se sustentar no país. Mas, já ao desembarcar, são informadas das novas condições do emprego. Levadas a bordéis, elas têm seus passaportes retidos e ficam sabendo que têm uma dívida com a organização, que deve ser paga através da prostituição.
"Em alguns casos, elas são forçadas a usar drogas para ficarem alertas e disponíveis 24 horas ou porque o cliente exige o consumo de entorpecentes com o serviço sexual", disse Rocio Moreno, diretora da Apramp.
A prostituição na Espanha não é crime, mas a lei prevê punição de dois a quatro anos para exploração com violência, intimidação e abuso de poder.
O aumento da atuação de redes no Brasil levou a polícia espanhola a buscar cooperação com autoridades brasileiras. A iniciativa conjunta permitiu desmantelar três quadrilhas neste ano. A maior operação de 2006 terminou com 58 presos, dos quais 55 eram brasileiros.
O sociólogo espanhol Jaime Curbert associa o crescimento do tráfico de vítimas do Brasil com a demanda e a organização das redes criminosas. "As mulheres viraram vítimas de artigos de catálogo como uma marca de cerveja, a gosto do cliente. As brasileiras são as preferidas dos espanhóis, italianos e suíços; os alemães escolhem venezuelanas", afirmou.
Em uma operação em setembro, batizada de Amazônia, a polícia espanhola desmantelou a primeira quadrilha acusada de explorar a prostituição masculina de heterossexuais no país.
A rede atuava, segundo a polícia, na província de Badajoz, perto da fronteira com Portugal. Dos cinco presos, quatro eram brasileiros. Dois deles, jovens de 27 e 24 anos, disseram ter sido obrigados a se prostituir.
Uma das vítimas contou ter sofrido ameaças e ter sido coagido a pagar uma dívida de oito mil euros (cerca de R$ 24 mil) referente ao custo de passagem, hospedagem e diárias na Espanha.
Na cidade de Guipúzcoa, no País Basco, o governo local criou um programa social de ajuda a vítimas da prostituição masculina, que considera "um grupo que vai crescer". A diretora do programa, Amaya Lashera, diz que os brasileiros que se prostituem na Espanha já começam a ser um"problema", mas que "só há atenção para mulheres".
O projeto atende a quase 100 homens entre 23 e 25 anos. Cerca de 90% são estrangeiros - mais da metade, brasileiros. "São heterossexuais, mas, se escolhessem só atender a mulheres, não ganhariam o suficiente. A clientela feminina é minoritária", afirma Lashera.
"Por isso, eles atendem a casais, jovens, mais velhos, bissexuais e muita clientela homossexual." Segundo a polícia espanhola, as redes de tráfico de seres humanos envolvendo prostituição masculina ainda são escassas em comparação às que atuam com mulheres.
Mas a tendência é de aumento. "É uma questão de demanda e de organização das quadrilhas. Aqui, não falta trabalho para eles", disse a diretora do projeto basco.
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