Superman voltou

E Superman voltou à Terra, neste 14 de julho, em lançamento  brasileiro nos principais cinemas do país.

Antes de chegar aos cinemas em 2006, o novo filme do Homem de Aço ficou na pauta da Warner por 10 anos e passou pelas mãos de quatro diretores diferentes, até finalmente ter seu destino entregue a Brian Singer (X-Men e X-Men 2).  Ele demorou tanto que já o julgavam desaparecido. Passaram-se 19 anos desde a última vez que estampara uma tela de cinema, na avacalhação denominada Superman IV – Em Busca da Paz (1987).


Após vários contratempos e postergações, enfim ele volta, de cara nova e guarda-roupa reformado (embora o “S” torácico persista), mas com o coração ainda reservado a Lois e o velho problema chamado Lex Luthor. Seu regresso não podia ter outro título senão Superman – O Retorno, ao mesmo tempo o quinto filme da série iniciada em 1978 com Christopher Reeve e o primeiro do renascimento cinematográfico do Homem de Aço.


Hollywood é assim: faz o bolo de casamento pensando nas bodas de prata. Mal o diretor Bryan Singer (X-Men) entregou sua releitura do super-herói da DC Comics (editora de quadrinhos), já o querem para um segundo filme, programado para 2009. Não que Superman – O Retorno tenha feito muita miséria financeira. Há cerca de 15 dias em cartaz nos Estados Unidos, não conseguiu ainda pagar os custos de US$ 209 milhões (R$ 461 milhões), o maior orçamento da história do cinema.


Paralelamente às planilhas financeiras, Singer adotou o super-herói como ferramenta para rediscutir o mito, desbanalizá-lo, desvulgarizá-lo diante da crescente onda de heroísmo que o cinema industrial assumiu como necessidade de 2001 para cá. De novo esse papo de 11 de Setembro? Fazer o quê? Os filmes norte-americanos, se entendidos como cinematografia nacional, buscam a projeção de um conforto comunitário, e o herói é um atalho e tanto para tal.

Depois de cinco anos exilado no espaço (o mesmo período que separa 2001 de hoje), Superman (o estreante Brandon Routh) volta para a Terra. Retorna à fazenda no Kansas onde foi adotado pelo casal Kent. O pai morreu, a mãe sobrevive. Feito o reencontro com o berço terrestre, segue para Metrópolis e descobre Lois Lane (Kate Bosworth) casada, mãe de um filho e premiada por um editorial no qual defende que o herói é desnecessário na atualidade. Antes de reconquistá-la, o protagonista terá de lidar com Luthor (Kevin Spacey), recém-saído da prisão – simplesmente porque Superman não compareceu como testemunha a seu julgamento – e autor de um plano que inundará os Estados Unidos para criar seu próprio continente.

As provações de Superman são gigantescas. Provavelmente menores, no entanto, às de Singer na sua busca por reelaborar o herói, torná-lo novamente excepcional, maior que a banalidade à qual foi submetido na modernidade. Para isso, as analogias ao mito cristão, incontestável como modelo, são excessivas (a chegada dos céus, a mãe representada como Pietá, a capacidade de ouvir tudo, o leito acima da estratosfera, morte e ressurreição).
Um modo de recaracterizar o mito, questioná-lo como esperança e como necessidade coletiva, para depois reentroná-lo, acima dos heróis de esquina criados pelo terror, seja real ou manufaturado. Superman – O Retorno arrisca ser simultaneamente romântico e contestador. Não faz miséria, mas dá para o gasto.


SUPERMAN – O RETORNO (Superman Returns, Austrália/EUA 2006). Dir.: Bryan Singer. Com Brandon Routh, Kevin Spacey, Kate Bosworth, Marlon Brando.


Não só de repadronizar o mito vive Superman – O Retorno. O diretor Bryan Singer salpicou um bocado de referências à história do super-herói criado em 1938 pela dupla Joe Shuster (1914-1992) e Jerry Siegel (1914-1996) para a editora DC Comics – e que já chegou a morrer e ressuscitar nos quadrinhos, em 1993, numa estratégia da empresa para reconquistar mercado. A propósito, uma das homenagens iconográficas do novo filme é justamente à capa da revista Action Comics de junho de 1938, publicação que marca a estréia de Super-homem, na qual o herói suspende um automóvel.


Outra homenagem explícita na obra de Singer é à série cinematográfica que a precede, dos quatro filmes protagonizados por Christopher Reeve (1952-2004). Não só porque o novo intérprete do Homem de Aço, o ator Brandon Routh, tenha sido selecionado por ter traços semelhantes ao do antecessor, protagonista de Superman – O Filme (1978), Superman II (1980), Superman III (1983) e Superman IV – Em Busca da Paz (1987). A voz e a imagem de Marlon Brando (1924-2004), que encarnou o pai do herói no primeiro filme com Reeve, são reaproveitadas em O Retorno. Sua presença sonora acaba por reforçar a aproximação com o mito cristão (a comunicação entre pai e filho). O tema musical de John Williams também é retomado, bem como a interpretação de um Clark Kent (o alter ego do herói) estabanado.


A série Smallville, produzida desde 2001, não é ignorada. No início do novo filme, Superman visita o cenário rural onde cresceu e aprendeu a administrar suas habilidades, além de testemunhar o surgimento doloroso do “S” em seu peito, tal qual na produção televisiva. Por outro lado, há versões da história do super-herói, o mais antigo dos quadrinhos, que o roteiro do novo filme preferiu deixar de lado. Algumas delas, por sinal, não fazem a menor falta.
Uma dessas anomalias audiovisuais que foram devidamente negligenciadas é a série Lois e Clark – As Novas Aventuras do Superman, produzida entre 1993 e 1997 e estrelada por Teri Hatcher (atualmente no elenco de Desperate Housewives) e pelo almofadinha Dean Cain. Clara tentativa de laçar o público feminino para junto dos fãs do último criptoniano vivo, a série arrastava-se entre lamúrias de amor vividas pelos protagonistas e umas jogadas de roteiro que enveredavam por soluções policiais/ investigativas dignas de figurarem nos roteiros de A Gata e o Rato, seriado que foi hit nos anos 80, interpretado por Bruce Willis e Cybill Shepherd.

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Author`s name Lulko Luba