Totalitarismo na Internet

Como os ‘Gigantes da Tecnologia’ Boicotam Jornalistas Contrários a Seus Interesses Políticos e Econômicos


 As elites globais não iriam deixar de se prevenir da revolução comunicacional criada por elas mesmas, com muito a oferecer – e a perder

Totalitarismo virtual cada vez mais sentido no mundo físico pelo avanço da Internet sobre a vida humana

“Não se deve permitir que Facebook e Google ditem como vivemos online. É hora de reivindicar esse espaço público vital para todos, e não poucas empresas poderosas e irresponsáveis ​​no Vale do Silício”, Kumi Naidoo

A discriminação de Facebook, Google (incluindo YouTube) e Microsoft na forma de atuar diante de comunicadores segundo posições políticas e econômicas, é gritante. E segue uma tendência muito clara. Tanto quanto profundamente agressiva aos que contrariam os interesses dos “gigantes da tecnologia”.

Tanto quanto ocorre com inúmeros outros jornalistas e meios de comunicação em todo o mundo, Facebook e Google boicotam meu site jornalístico, e minhas diversas publicações ao longo dos anos em meios nacionais e internacionais, incluindo - e sobretudo - em Pravda.ru. 

No caso do Facebook, o histórico de “arranca-rabo” esquizofrênico com este autor chama a atenção de modo mais particular. Microsoft e YouTube, da mesma cadeia de monopólio de (des)informação, seguem a mesma linha de censura.

Facebook impede que links ao meu site sejam postados; Google omite clamorosamente vasta maioria das minhas publicações em respeitados meios internacionais, inclusive meu próprio site (quando pode ser visualizado, na vasta maioria das vezes encontra-se nas páginas mais distantes da busca, o que contraria a lógica operacional desta própria ferramenta cuja regra é apresentar sites dos objetos de busca nas primeiras linhas – quando se trata de “seus” autores); YouTube deletou incrivelmente videorreportagens minhas em meio a manifestações populares totalmente pacíficas em uma grande capital nacional, em que pessoas comuns aproximavam-se da minha câmera com Constituição nas mãos clamando por direitos, sobretudo autodeterminação dos povos; a Microsoft fundada por Bill Gates, nunca incluiu em seu buscador Bing em mais de 16 anos online, os dois sites deste autor na Internet (também aqui, contrariando a regra da própria Microsoft de publicizar, e com prioridade, páginas dos buscados no Bing, com uma ressalva: sempre e quando trata-se de “seus”autores). Tanto quanto apresenta de modo incoerente nas buscas alguns dos meus trabalhos mas deixa passar, sem sentido, inúmeros outros – até mais importantes.

Nada sem sentido, por outro lado, é a prática em si de todas estas ferramentas em casos como o meu, que não são isolados: longe de fortuita, a tendência seguida em todo esta jogatina é muito clara, e afinada. Uníssono com endereço certo, onde estão as sedes de todas estas empresas: Estados Unidos da América.

 

“O governo dos Estados Unidos não teme seus informantes, teme os bem informados”, Edward Snowden

 

Essas “gigantes da tecnologia” seguem abertamente as decisões políticas americanas: se a Casa Branca considera determinado governo ou personagem hostil, isto é seguido pelas ferramentas aqui em questão. Se em Washington D.C. é decidido que determinada informação é notícia falsa, ainda que as pedras gritem “não!” o mesmo será considerado pelas nada democráticas “gigantes da tecnologia” globais.

Da mesma maneira, sem necessidade de prévia ordem judicial e nem sequer de nenhuma justificativa, o regime americano outorga a si mesmo autoridade suficiente para solicitar aos “gigantes da tecnologia” e até mesmo a companhias de telefonia, dados privados e qualquer tipo de informação de pessoas jurídicas e físicas, organizações por direitos humanos e personagens políticos, embaixadas e consulados, empresas estatais e privadas em qualquer lugar do mundo. E isto tem ocorrido aos bilhões anualmente, conforme revelado recentemente por Edward Snowden e Julian Assange.

O totalitarismo virtual made in USA faz-se, de maneira cada vez mais intensa, sentir no mundo físico dado o avanço da influência da Internet sobre todos os segmentos da vida humana nas últimas décadas. Na realidade, nesta sombria realidade tem sido raro (se é que existe algum caso que fuja disto) que determinada personalidade seja vítima de vigilância, invasões e boicotes sistemáticos na Internet, sem que a repressão envolva também, de maneira direta, aspectos do mundo físico das mais diversas maneiras.

 

“A transparência retira poder de organizações poderosas, e o entrega àqueles que não têm poder”, Julian Assange

 

 

Naquela mesma conta no YouTube já eliminada por mim, havia precioso vídeo do ponto de vista jornalístico (o horror destas ferramentas, que seguem abertamente os ditames dos Estados Unidos e seus aliados, abertamente subordinadas até às leis do regime de Washington especialmente sobre o que é considerado “terrorismo” e “notícias falsas”): minha entrevista secreta nas dependências da Alfândega colombiana na cidade de Cúcuta, fronteira com a Venezuela, em uma sala escura com funcionário daquela instituição que pediu anominato, respondendo minhas perguntas sentado em uma cadeira de costas para a câmera, e vestindo um boné.

Quando meu entrevistado esteve prestes a revelar de que maneira funcionários daquela Alfândega e o governo da Colômbia facilitavam o contrabando de produtos básicos da Venezuela a fim de prejudicar o governo venezuelano, e como se dava o tráfico de drogas do território venezuelano ao colombiano, indicando que já havia alguém escutando-nos a porta foi batida fortemente, pelo que interrompemos assustados a entrevista – a qual nunca mais seria retomada: acabei sendo aconselhado pelo entrevistado, membro da seguranca do local, a cruzar rapidamente a fronteira. Segundo ele, antes da entrevista já estavam ali em estado de histeria por mim, “o que este jornalista brasileiro quer aqui, com esta câmera?”.

 


No segundo semestre de 2008 passei a manter contatos quase que diários com a equipe da afegã Malalaï Joya: ativista pelos direitos humanos premiada internacionalmente por sua luta, ex-parlamentar injustamente expulsa do cargo pelos senhores da guerra apoiados pelos EUA e jurada de morte em seu país, Joya vivia escondida, nunca dormia duas noites na mesma casa e apenas saía pelas ruas de Cabul totalmente coberta por uma burqa, rodeada por 12 homens fortemente armados.

Criei dois blog para Joya: um em português e outro em espanhol, ambos com conteúdo traduzido exclusivamente por mim. Logo passei a traduzir ao site oficial da Joya, ao mesmo tempo que recebia materiais jornalísitcos preciosos da ativista afegã. Um deles, enviado por Joya em 2009, envolvia uma entrevista que ela havia recentemente concedido ao jornal brasileiro O Tempo, de Minas Gerais.

Entre tantas denúncias seríssimas que merecem destaque mundial de Joya, cortadas por O Tempo (na mesma linha das “gigantes” da Internet aqui tratadas, que monopolizam até os suspiros do ser humano nos dias de hoje): estupro de militares americanos em seu pais; assassinatos de militares americanos até contra civis inocentes, de maneira banal; a criação de terroristas pelos Estados Unidos no Oriente Médio, e o histórico apoio de Washington a esses terroristas incluídos os que são parte do hoje chamado Taliban; a direta parte desempenhada pela CIA no tráfico internacional de drogas, a partir do Afeganistão.

Joya estava profundamente ingidnada com a publicacao de O Tempo, que cortou e modificou totalmente a entrevista. A líder afegã pelos direitos humanos enviou-me a íntegra de sua entrevista concedida a Renata Medeiros, jornalista de O Tempo, incluindo a troca de emails com as devidas propriedades de cabeçalho, com a repórter brasileira. A entrevista havia sido publicada tanto na versão impressa quanto no site do jornal mineiro para o qual naquela época, escrevia também o jornalista Arnaldo Jabor da Rede Globo.

Entre tantas denúncias seríssimas que merecem destaque mundial de Joya, cortadas por O Tempo (na mesma linha das “gigantes” da Internet aqui tratadas, que monopolizam até os suspiros do ser humano nos dias de hoje): estupro de militares americanos em seu pais; assassinatos de militares americanos até contra civis inocentes, de maneira banal; a criação de terroristas pelos Estados Unidos no Oriente Médio, e o histórico apoio de Washington a jihadistas (senhores da guerra) desde a época da invasão soviética ao Afeganistão, incluídos os que são parte do hoje chamado Taliban e Al-Qaeda; a direta parte desempenhada pela CIA no tráfico internacional de drogas a partir de solo afegão.

Em 2011, comecei a traduzir ao site da organização argentina pelos direitos humanos Abuelas de Plaza de Mayo, voltada a localizar netos raptados por militares nos tempos da sangrenta ditadura naquele país sul-americano (1976-1983), apoiada diretamente pelos EUA.

Combativas, as “abuelas” são mundialmente conhecidas pelas mobilizações que lidera visando justiça contra os militares, denunciando o período mais negro da história da Argentina. O que inevitavelmente inclui expor os crimes de Washington ao derrubar um governo democraticamente eleito, para patrocinar um regime genocida.

Pelo Facebook em 2011 mantive contatos próximos com cidadãos palestinos, incluindo ativistas pelos direitos humanos, quase que diariamente. O que ajudou em minhas publicações sobre o genocídio sionista contra a Palestina. Naquela mesma época contactava alguns cidadãos afegãos, colaborando com minhas publicações.

No segundo semestre daquele ano, Israel perpetrou crueis ataques à Faixa de Gaza que deixou como saldo 105 palestinos mortos, dos quais 37 eram civis. Naquela rede social, recebi em tempo real ao longo de todos os dias de horror na Palestina o contato de Enas Naffar, estudante universitária e valente ativista palestina.

Enas enviava-me imagens, artigos de sua autoria com exclusividade além de seus relatos horrizados enquanto ela e seu povo viviam longos dias de terror. Alguns deles em desespero, exatamente durante momentos de bombardeio em sua zona. Eu imediatamente publicava tudo em meu blog.

Vez ou outra eu postava, naquela rede social, repúdio à ocupação dos EUA ao Afeganistão expondo crimes de guerra americanos no país centro-asiático. Sempre apoiado por vários afegãos naquela conta e, através das minhas publicações em meios internacionais, adquiri popularidade entre pessoas daquela região.

Enquanto recebia palavras de profunda admiração e agradecimento de cidadãos palestinos e, sobretudo, afegãos pelo trabalho, no final de 2011 minha conta acabou, sem nenhuma explicação, removida pelo Facebook cujo proprietário, Mark Zückerberg, é sabidamente sionista e pró-americano, confundindo (no sentido mais amplo) sua rede social com interesses políticos e pessoais.

Ainda em 2011, Joya havia sido proibida de entrar nos EUA, convidada a dar uma palestra na universidade Massachusets Institute of Technology. Além de ter-me juntado a um exitoso abaixo-assinado mundial em favor de Joya, protestando contra a clara exclusão ideológica dos EUA que acabou fazendo este país voltar atrás de decisão com aspecto ditatorial, tomei a iniciativa de escrever emails ao departamento de Estado dos Estados Unidos, e suas embaxadas e consulados pelo mundo, protestando com forte conteúdo.


Foi no ano seguinte, em 2012 que lancei na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, Mentiras e Crimes da ‘Guerra ao Terror’, onde meu trabalho recebeu destaque. Além dos crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão, nesta obra apresento uma contrabomba aos “combates santos” dos EUA no Oriente Médio: a entrevista original de Joya a O Tempo, com os emails trocados entre ela e Reneta Medeiros como prova, tanto quanto o “trabalho” publicado pelo jornal mineiro.

Disponível nas principais livrarias do país além de sites especializados como Amazon até ter tido vendas esgotadas, meu livro também questiona a versão oficial dos atentados de 11 de setembro de 2001, expondo antecedentes nada convidativos a uma boa impressão dos EUA, além de descrever a unilateral invasão americana ao Iraque com mais crimes de guerra, e a “privatização” deste país com especial atenção aos campos petrolíferos.

O subtítulo desta passagem em meu livro não poderia pecar mais pela falta de diplomacia com o “jornalismo” tupiniquim predominante, o qual coloco como “de joelhos ao Império”: “Estudando a Máfia: Por Trás das Cortinas do Jornalismo Brasileiro”, oferecendo assim aos leitores um estudo entre “ambas” as entrevistas, a “travesti” de O Tempo e a original feita com Joya, em minhas mãos.

Entre 2013 e o final de 2014, mantive contatos diariamente próximos com familiares e advogados das vítimas do incêndio na boate Kiss na cidade de Santa Maria (RS), ainda sem justica: fundamentais para minha série de reportagens sobre o segundo incêndio mais mortal da história do Brasil (apresentando documentos até da Polícia Civil daquela cidade, enviados exclusivamente a mim pelo delegado Sandro Meinarz), fizeram-me naquele período ser considerado por familiares de vítimas e seus advogados, o único jornalista que realmente investigou a tragédia e desvendou toda a podridão, chegando no Ministério Público (MP) como o “padrinho macabro” da tragédia pela corrupção (parte das mensagens enviadas dos envolvidos na tragédia a este autor, publicadas na página inicial do meu site).

Sem nenhuma razão, o Facebook logo bloqueou aquele perfil também e, em determinado período, quando eu tentava acessá-lo, solicitou até que eu escaneasse minha Carteira de Identidade original para que (talvez, de acordo com futura avaliação daquela rede social nada democrática nem humanitária, bem longe disso) pudesse readquirir acesso à minha própria conta, o que evidentemente jamais fiz.

O MP de Santa Maria como um dos principais culpados pelo incêndio, devido à intensa, bem-conhecida corrupção em todos os segmentos do nosso país. O que foi publicado em minha série de reportagens. Enquanto familiares de vítimas logo acabaram processados pelo MP, minha família e eu sofremos repressão desta mesma instituição gaúcha, incrível se não fossem as provas que hoje possuo, obtidas através de muita pressão.

E anos mais tarde, uma das reportagens da série sobre a boate Kiss seria misterioramente hackeada e eliminada. Eu tentava republicá-la mas, em poucos minutos, a matéria desaparecia novamente. Contactada por mim, a provedora do blog Skyrock respondeu que nada havia retirado, ela mesma, da minha página, e que nem havia recebido nenhuma ordem judicial para isso.

Wikileaks liberou cabo secreto em que se revela a estreita, deprimente relação do sistema de justiça brasileiro, incluindo o MP, com o governo americano. Em clara poisção de subserviencia, contrariando os interesses a até as leis internacionais promotores de justiça e juízes são relatados em viagens secretas aos EUA, a fim de ser “treinados” por seus amos estadunidenses.

 

“A democracia [para a política mundial dominante] é um luxo que nem todos merecem”, Eduardo Galeano

 

Último pedido de desculpas do Mark Zückerberg, de uma série já manjada: ter praticado censura durante a pandemia do coronavírus, por exigência exatamente da Casa Branca, em cujas poltronas assenta-se Joe Biden. É longa a lista de vezes em que veio à tona tal prática, durante diferentes governos de Tio Sam, evidenciando o alinhamento oculto (já longe de ser segredo) do Facebook ao regime de Washington em detrimento dos usuários, fantoches desta plataforma com fins políticos.

O proprietário do Facebook apenas pede desculpas por seus alinhamentos aos porões do poder de Washington, smpre censurando usuários de sua rede social, quando nao há mais como negar tal prática – comum, espinha dorsal desta “assustadora máquina de espionagem” como denuncia WikiLeaks: servir aos interesses das elites global para a construção da Nova Ordem Mundial, ampliando domínio e exploração das massas trabalhadoras e de centenas de milhões de vítimas das guerras sistemáticas (e seus lucros bilionários) das superpotências mundiais.

Antes, havia começado a me dedicar à tradução de telegramas secretos do Estado americano liberados por WikiLeaks, odiado e caçado implacavelmente pelo governo dos EUA e por outras potências mundiais aliadas a Tio Sam.

WikiLeaks liberou centenas de milhares de telegramas secretos emitidos por embaixadas e consulados dos EUA mundo afora revelando abusos sistemáticos, sigilosamente oficiais, nas Forças Armadas e no governo americano.

Com artigos, entrevistas e diversos telegramas secretos traduzidos, meu antigo blog possuiu uma das mais vastas coberturas da rede de Assange no Brasil, sendo transferida paulatinamente a este novo site. Uma simples busca por “WikiLeaks” em Google, já vale ao “curioso” rastreamento seguido de permanente vigilância.

Minha primeira publicação na versão impressa da revista brasileira Caros Amigos (capa abaixo) de circulação nacional foi justamente entrevista com Mads Andenæs, advogado de Assange na ONU, em que tratamos da questão judicial do fundador de WikiLeaks. Publicada também em inglês, esta entrevista rodou todo o mundo, traduzida e republicada por diversos meios internacionais.

Mais adiante eu o entrevistaria novamente sobre o caso Assange, para o sítio da Caros Amigos.

Em 2010, os senadores dos EUA rotularam WikiLeaks de “organização terrorista” e nomearam Julian Assange “terrorista de alta tecnologia”. Naquela mesma época, diversos políticos ativos dos EUA pediram o assassinato extrajudicial de Assange, inclusive por meio de ataque de drones.

O Pentágono havia montado pouco antes a chamada WikiLeaks Task Force, a fim de “tomar medidas” contra ele. Forças-tarefa semelhantes foram declaradas publicamente na CIA, no FBI e Departamento de Estado dos EUA.

O que foi censura sem precedentes a uma publicação jornalística, o governo dos EUA pressionou os provedores de serviços de internet a cessar os serviços do WikiLeaks.org. Desde então, o sítio da equipe de Assange tem enfrentado enorme dificuldade para sobreviver, sofrendo seguidos boicotes das “gigantes da tecnologia”.

Logo, Assange e seus apoiadores em todo o mundo passariam a sofrer forte perseguição pelo governo americano, e por seus aliados globais. Em entrevista a mim em janeiro de 2021, Noam Chomsky considerou a condenação do fundador de WikiLeaks pelo governo americano como “duro golpe à liberdade de imprensa”.

Assim que Assange e equipe passaram a sofrer “bloqueios bancários” pelos EUA (vídeo a seguir) sem nenhum procedimento judicial nem administrativo porém utilizando-se, neste caso também, de “gigantes da tecnologia”, tem havido problemas misteriosos nas contas bancárias de pessoas ligadas a WikiLeaks tanto quanto seus apoiadores (incluído este que reporta, mais precisamente no ano de 2015 em caso bastante “miraculoso” envolvendo o banco brasileiro Caixa, que se enquadra desgraçadamente neste contexto pelo tempo, pelo espaço e pela forma).

Conforme observado pela Nota do Editor do livro supracitado, OR Books, esta grave censura financeira fere as liberdades econômicas dos indivíduos, assim como “a ameaça existencial que ela representa a WikiLeaks, exemplifica uma nova e preocupante forma de censura econômica global”.

Hoje Assange está preso em Londres, sob sério risco de ser extraditados aos EUA onde seria confinado em uma solitária pelo regime de Wasghington.

Além de todo o discorrido nesta reportagem ser ponto, outrossim, inevitável e desgraçadamente comum entre pessoas ligadas a WikiLeaks, seus apoiadores e a própria equipe de Assange. Macabra similaridade, não se deveria lamentar por Freud ausente para, hoje, poder explicá-la.

“À medida que os estados nacionais fundem-se com a Internet, e o futuro da civilização humana torna-se o futuro da Internet, devemos redefinir as relações de poder. Se não o fizermos, a universalidade da Internet fundirá a humanidade a uma rede gigante de vigilância e controle em massa”, Julian Assange
Acabam sabendo tudo o que o “curioso” faz na Internet, e grande parte do que faz fora dela através dos dados que o navegador inclui online. Segundo o ex-contratista da CIA, que acabou denunciando a massiva espionagem cibernética da CIA, a agência de inteligência americana é capaz, com a Internet, de observar cidadãos pela camera de seus computadores ainda que elas estejam desligadas, entre outros supreendentes métodos de espionagem informatizada.

No livro Cypherpunks: Freedom & the Future of the Internet (Cypherpunks: Liberdade e o Futuro da Internet, 2012), Assange assegura que a Internet representa, assim como está, grave risco à civilização humana pela vigilância massiva.

Em 2016 passei a traduzir para o sítio da organização afegã pelos direitos humanos, especialmente das mulheres, Revolutionary Association of the Women of Afghanistan (RAWA, na sigla em inglês), ao mesmo tempo que demos início a trabalho muito próximo na área do jornalismo: tenho sido o principal entrevistador da RAWA nas Américas.

As “mulheres revolucionárias do Afeganistão” nunca aparecem em público nem divulgam seus nomes, para não ser assassinadas pelos talibans e senhores da guerra devido ao seu forte caráter denuncista, incluindo contra as mentiras e graves crimes dos americanos em seu país.

Enquanto recebia de cidadãos paletinos e da região árabe em geral palavras de admiração, agradecimentos e até declarações de amor pelas publicações sobre o genocídio sionista contra a Palestina, em 2017 fui negativamente incluído em um site sionista internacional, em inglês voltado a expor jornalistas de todo o mundo, que consideram “antissemitas” simplesmente por reportar os crimes do Estado de Israel na Palestina: o site expôs meu nome com algumas publicações minhas, reportagens jornalísticas em cima de fatos e entrevistas com especialistas palestinos (cheguei, naquele período, até a entrevistar ativista pelos direitos humanos israelense, quem também condenava o genocídio do governo de seu país contra os palestinos). O site considerava os jornalistas ali expostos, “comunicadores inimigos que odeiam Israel”.

Google, outrossim ferramenta destinada a desinformar e confundir a opinião pública, bem-conhecido e constantemente exposto monopólio que serve os porões do poder para manipular as massas. O mesmo que este jornalista dedica-se a expor desde o primeiro dia no jornalismo.

Segundo o próprio Assange, “Google não é o que parece”. Em seu livro When Google Met WikiLeaks, o jornalista australiano escreveu que “as aspirações geopolíticas da Google estão firmemente atreladas à agenda da política externa da maior superpotência do mundo”.

Além de mandar meu site às páginas mais afastadas com algum breve retorno às menos longínquas, quando muito faz entre casos de invisibilidade total, esta ferramenta de buscas sediada na Califórnia omite inúmeras publicações importantes e colunas minhas em meios internacionais respeitados em todo o mundo, como Global Research (Canadá), Telesur English (pan-latino-americana), Atlas Institute for International Affairs (Londres), e Pravda Report (da Rússia, em inglês).

Entre tais publicações: reportagens sobre o caso de Julian Assange do WikiLeaks, e entrevistas com Noam Chomsky, Oliver Stone, John Kiriakou, Lisa Ling, Gabriela Rivadaneira, João Vicente Goulart, Theresa Goulart, Peter Kuznick, John Pilger, Annie Machon, Ladislau Dowbor, Timo Kivimäki, Michael Löwy, Azadeh Shahshahani importantes acadêmicos palestinos, Lisa Natividad, Daniele Ganser e Mads Andenæs, entre tantos outros importantes nomes internacionais, partes importantes do meu trabalho quase que invisíveis na Google, ou totalmente invisíveis em determinados casos.

“Se o futuro da Internet for a Google, isso deve ser motivo de séria preocupação às pessoas em todo o mundo”, afirmou Assange no livro supracitado.

O YouTube forma, nisso tudo, criminosa parceria de sucesso com Facebook e Google: marcado mundialmente, e de longa-data por censuras injustificadas, claramente parciais como em meu caso mencionado no início.

“A Big Tech [gigantes da Internet] é uma indústria excepcionalmente poderosa. É composta por um punhado de empresas que conseguiram monopolizar e controlar o fluxo de informações com pouca ou nenhuma culpabilidade”, afirmou The American Civil Liberties Union, organização não-governamental americana pelas liberdades civis.

Edward Snowden e Julian Assange desempenham, neste obscurantismo, papel fundamental a fim de se compreender como atuam esses poderes. Ambos, outrossim, vítimas de todo este sistema perverso – e esquecidos pelos meios de comunicação, predominantes e até muitos chamados “alternativos”.

Assange pontuou em Cypherpunks: Freedom & the Future of the Internet:

O mundo não está deslizando, mas galopando rumo a uma nova distopia transnacional. Esse desenvolvimento não foi devidamente reconhecido fora dos círculos de segurança nacional. Ele permaneceu escondido através do segredo, da complexidade e da escala. A Internet, nossa maior ferramenta de emancipação, foi transformada no mais perigoso facilitador do totalitarismo que já vimos. A Internet é uma ameaça à civilização humana.

 


Um ano antes do lancamento deste livro, o criador de WikiLeaks havia afirmado em entrevista ao Russia Today, que “o Facebook é a máquina de espionagem mais assustadora á inventada”. Nesta rede, o jornalista australiano revelou que está “o banco de dados mais abrangente do mundo sobre pessoas: seus relacionamentos, seus nomes, endereços, suas localizações e as comunicações entre si, seus parentes, todos localizados nos Estados Unidos, todos acessíveis à inteligência dos EUA”.

Assange revelou ainda que Facebook, Google, Yahoo e outras grandes empresas da tecnologia dos EUA possuem íntima conexão com a inteligência dos EUA. “Não é questão de obedecer uma intimação. Elas têm uma interface que desenvolveram, para a inteligência dos EUA usar.

O fundador de WikiLeaks tem sofrido severas consequências das revelações dos segredos de Estado dos Estados Unidos, juntamente de suas ferramentas na Internet para expansão da dominação global, que evdenciaram (ou confirmaram) um mundo inóspito cuja existência nem todos os seres humanos se dospõem a assumir.

O documentário abaixo intitulado Julian Assange – Chronicles of a Scandal | The Price of Truth (Julian Assange – Crônicas de um Escândalo | O Preço da Verdade), expõe algumas denúncias e a luta inglória de Assange, condenado por elas, todas devidamente documentadas, ao invés de se condenar os violadores da lei a nível global pelos inúmeros crimes de guerra, e lesa-humanidade.

Quando o mundo horrorizava-se com a falta de privacidade imposta pelos usurpadores do poder virtual revelada por Assange, eis que em 2014 surgiu em cena o ex-contratista da CIA, Edward Snowden. Logo que chegou à China dos EUA para nunca mais retornar, hoje refugiado na Rússia, Snowden revelou que a vigilância global é ainda mais acentuada do que se supunha. Atingindo a absolutamente todos em todos os lugares, sem nenhuma discriminação.

Se o cidadão é dócil ou indiferente ao sistema predominante, pode (com muita “boa-vontade”) fingir que vive como se nada estivesse ocorrendo de errado diante disso tudo, enquanto o sistema finge, por sua vez, que garante todos os direitos humanos ao cidadão, começando pela privacidade.

“Na maioria das vezes nem temos consciência de quão perto estamos da violência, porque todos fazemos concessões para evitar tal consciência”, observou Assange (Cypherpunks: Freedom & the Future of the Internet). Por outro lado, a falta de apatia com este sistema, apatia eufemisticamente chamada de boa-vontade mais acima, tem seu duro preço.

Neste mesmo sentido de Assange e Snowden, a Anistia Internacional tem manifestado frequentemente profunda preocupação em relação aos “gigantes da Internet”. O secretário-geral Kumi Naidoo advertiu, em publicação de novembro de 2019, que que deve haver transformação radical na essência do modelo dos negócios das “gigantes da tecnologia”, ao mesmo tempo que observou que “Facebook e Google representam risco sem precedentes” pela “vigilância onipresente a bilhões de pessoas”.

“Os gigantes da tecnologia oferecem seus serviços a bilhões de usuários sem cobrar taxa. Mas os indivíduos pagam pelos serviços através de seus dados pessoais íntimos, constantemente rastreados pela web e também no mundo físico, por exemplo, por meio de dispositivos conectados”, pontuou Kumi Naidoo.

Em seu livro supracitado, Assange observa no capítulo intitulado Aumento da Comunicação versus Aumento da Vigilância:

Se olharmos para a Internet sob a perspectiva das pessoas no poder, concluiremos que os últimos vinte anos foram assustadores. Eles veem a Internet como uma doença que afeta sua capacidade de definir a realidade, de definir o que está acontecendo, usada então para definir o que as pessoas sabem sobre o que está acontecendo, e a capacidade delas de interagir com isso.

 


A inconveniente realidade é que não se poderia esperar, ingenuamente, que junto das possibilidades trazidas pela Internet, revolução comunicacional a nível global, os donos do poder mundial não fossem tomar suas medidas preventivas.

Até porque são eles mesmos os autores desta revolução com poder absoluto neste campo minado da Internet, onde todos os cidadãos em todos os lugares são, sem exceção, permanentemete monitorados. A agressividade da vigilância depende da maneira como cada um se comoprta diante dos podres poderes que governam este mundo tenebroso.

O atual caos na Internet poderia ser facilmente resolvido, considerando o simples fato de que os que controlam a rede hoje são os seus mesmos criadores: veja-se que Assange revela que os “gigantes da tecnologia” estão completamente integrados a CIA. E deve-se acrescentar: aos magnatas globais que ditam o curso da história humana.

E aqui reside importante questão para que siga a “anarquia virtual”: as elites globais permitem que prossiga este cenário de grave confusão e até a pioram, justamente a fim de justificar no futuro aplicação de linha-dura na Internet, mais controle social com vigilância irrestrita. Para isso, claramente, caminha-se. Esta anarquia também torna possível, pela ausência de regras mais claras e eficazes, que os tais “gigantes da rede” atuem, já hoje, com o totalitarismo descrito nestas linhas.

Neste sentido, apontou Assange (ibidem) enquanto clama por mensagens criptografadas na Internet para todos: “É mais fácil criptografar informações, do que descriptografá-las”. Qual a razão, pois, para que se abra mão do mais simples ainda que seja mais seguro em um ambiente caótico, enquanto tantas outras inúmeras futilidades são diariamente colocadas no cardápio virtual da humanidade?

A resposta para esta pergunta é tão estarrecedoramente clara quanto o barbarismo virtual praticado pelas “gigantes da tecnologia”, sobre bilhões de seres humanos em todo o planeta.


Edu Montesanti
Journalist, Author, Teacher, Translator

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Edu Montesanti