A falta de estabilizador de PH pode provocar maior desconforto e contribuir com descontinuidade do tratamento. No Brasil 40% dos glaucomatosos não instilam o colírio corretamente por causa do ardor e falta de um acompanhante.
A legislação brasileira de medicamentos genéricos se baseia na norte-americana e é clara só podem chegar ao mercado produtos que tenham a mesma equivalência farmacêutica (princípios ativos) e bioequivalência (absorção) que o medicamento referência de origem. Nos EUA a agência reguladora de medicamentos, FDA, não exige que os genéricos oftálmicos tenham os mesmos ingredientes excipientes que medicamento referência. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, significa que a absorção e conforto podem variar. No Brasil não é diferente.
O mercado nacional de genéricos conta com colírios antiglaucomatosos produzidos a partir de 4 princípios ativos: Maleato de Timolol, Brimonidina, Betaxolol e Dorzolamida. Uma análise das bulas aponta que os ingredientes excipientes não são exatamente iguais aos dos colírios de marca. Não quer dizer, ressalta, que o efeito seja distinto. Ele diz que a experiência clínica aponta que o colírio genérico controla a pressão intra-ocular (PIO), principal alteração provocada pelo glaucoma, de forma semelhante ao medicamento de marca. Entretanto, a indústria de genéricos brasileira tem apenas 10 anos.
Por isso, faltam parâmetros científicos de longo prazo para avaliar a eficácia e tolerância desses medicamentos que devem ser usados continuamente, do diagnóstico ao final da vida. Apesar das diferenças nos excipientes serem pequenas, a falta de estabilizador de PH na medicação genérica à base de brimonidina, por exemplo, pode aumentar o desconforto e contribuir com a descontinuidade do tratamento. Só para se ter uma idéia, no Brasil mais de 50% dos diagnosticados com glaucoma não compram o segundo frasco de colírio no primeiro ano de tratamento.
Como se não bastasse, Queiroz Neto diz que 40% não fazem a instilação correta do colírio por causa do ardor e falta de um acompanhante. Quem faz tratamento com genéricos, ressalta, não deve variar de marcas, como muitos pacientes fazem sem nem mesmo consultar o médico. Isso porque, podem ocorrer variações da PIO que acabam não sendo detectadas, o que contribui para a progressão do glaucoma. O grande problema destaca, é que a bioequivalência das medicações sistêmicas pode ser medida através de um simples exame de sangue, enquanto que nos olhos esta avaliação é mais complicada. Para ele, isso influencia o receituário no País. Outro fator é a redução de 35% da pressão intra-ocular proporcionada pelos análogos de prostaglandina, que só precisam ser instilados uma vez ao dia, mas por serem drogas inovadoras não têm genéricos no mercado.
Diagnóstico precoce evita cegueira
Queiroz Neto afirma que o glaucoma é a maior causa de cegueira definitiva. Atinge 66,8 milhões de pessoas no mundo e mais de 900 mil brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O médico explica que a doença é causada pelo bloqueio do escoamento do humor aquoso, líquido que preenche o globo ocular. Isso provoca o aumento da pressão intra-ocular (PIO) que pressiona o nervo óptico, danifica suas células e leva à perda progressiva da visão. Metade dos portadores brasileiros nem desconfia ter a doença que não apresenta sintomas nem alterações na visão em seu estágio inicial.
Por conta disso, ele afirma que 40% dos diagnósticos são feitos quando já ocorreu a perda da visão de um olho, o que é irreversível e caracteriza estágio avançado da doença. Para surpreender o glaucoma em seu estágio inicial, recomenda visitas periódicas ao oftalmologista para quem ultrapassou a barreira dos 40. Os principais fatores de risco para desenvolvimento do glaucoma são:
· Altos Míopes | · Trauma Ocular |
· Diabéticos | · Casos na família |
· Ascendentes negros ou asiáticos | · Maiores de 40 anos |
Além do uso de colírios o tratamento pode incluir aplicação de laser ou cirurgias.
65% dos portadores de glaucoma comprometem tratamento
Um estudo conduzido por Queiroz Neto com 184 glaucomatosos mostra que 45% não usam o colírio corretamente e 20% abandonam o tratamento por dificuldade financeira. Dos que não usaram a medicação corretamente, 52% desperdiçou colírio pingando mais que uma gota, 24% instilou o colírio fora da mucosa ocular, 13% se esqueceu de usar e 11% usou de forma descontínua por causa dos efeitos adversos.
As principais recomendações para fazer o tratamento correto do glaucoma são: |
Lave as mãos antes de aplicar o colírio. |
Verifique no frasco se é recomendado agitar o produto antes de usar. |
Incline a cabeça para trás. |
Flexione a pálpebra inferior com o indicador. |
Com a outra mão segure o dosador |
Coloque o medicamento sem relar no bico dosado, evitando a contaminação. |
Pressione com o polegar o canto interno do olho para reduzir efeitos colaterais |
Feche os olhos por 3 minutos para garantir o efeito |
Se usar lentes de contato retire-as antes da aplicação |
Recoloque as lentes de contato depois de 10 minutos da aplicação |
Em caso de prescrição de mais de um colírio aguarde 15 minutos entre um e outro |
Distribuição gratuita de colírios
O médico diz que não há motivos para o brasileiro abandonar o tratamento. Além dos genéricos que têm baixo preço, o governo distribui medicação gratuita à população através das farmácias de alto custo e dos centros de referência em Oftalmologia credenciados ao Programa de Assistência ao Portador de Glaucoma. As secretarias de saúde têm a relação dos estabelecimentos credenciados. Nas farmácias de alto custo a liberação da medicação demora de 14 a 45 dias. Para ter acesso é necessário apresentar cópia do CSN (Cartão Nacional de Saúde) que pode ser retirado no centro de saúde mais próxima da residência do requerente, laudo preenchido pelo médico, receita em duas vias, termo de consentimento do paciente, cópias do RG, CPF e comprovante de residência. Os modelos tanto do laudo médico como do termo de consentimento encontram-se disponíveis nos sites das secretarias de saúde de cada cidade.
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