O primeiro europeu, que viu adejar sobre a cabeça a bela e colorida arara vermelha, ficou tão fascinado, que não se atreveu a puxar o gatilho. Infelizmente, os que vieram depois não foram tão humanos. Empreenderam, ao longo dos anos, uma campanha de destruição e um comércio ativo dos despojos desta ave, que passou a ser uma das tantas vítimas do comércio ilegal de animais silvestres e da destruição sistemática do seu ambiente natural, a floresta amazônica.
Não foi somente do tráfico de animais silvestres que levou inúmeras espécies à extinção ou ao limiar da extinção na Amazônia. Dentre as principais causas da perda da biodiversidade estão o desmatamento, as queimadas, a exploração criminosa dos ambientes naturais, a agricultura moderna altamente mecanizada, os latifúndios e as monoculturas agrícolas, o uso extensivo de fertilizantes artificiais, de herbicidas e pesticidas, a biopirataria e comércio ilegal de material genético, a erosão dos solos e sua desertificação gradativa, o assoreamento e envenenamento dos recursos hídricos com produtos tóxicos, a introdução de espécies exóticas ao ambiente natural, a caça furtiva, a fragmentação e a destruição dos ecossistemas naturais.
O comércio ilegal de animais silvestres é a terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro sujo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. O Brasil é um dos principais alvos dos traficantes devido a sua imensa diversidade de insetos, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente dos ecossistemas brasileiros, sendo 40% exportados.
Casos de pirataria genética são denunciados diariamente, envolvendo instituições oficiais de ensino e pesquisa, cientistas e laboratórios estrangeiros que simplesmente saem do Brasil levando riquezas biológicas, registrando patentes e gozando de vantagens econômicas em cima de produtos gerados com plantas e animais.
Todos os anos na Amazônia brasileira são extraídos cerca de 10 milhões de árvores que alimentam serrarias clandestinas. De todo território amazônico que vem sendo devastado, 75% é ocupado pela pecuária.
São 70 milhões de bovinos (um terço do rebanho nacional), que vivem em pastagens altamente degradadas e improdutivas, cuja ocupação é menos de uma cabeça de gado por hectare. Na formação das pastagens ocorre a supressão total da vegetação, inclusive da mata ciliar que protege as margens dos rios da erosão, para que o gado tenha um melhor acesso à água.
As pastagens degradadas têm sido convertidas em cultivos agrícolas. Geralmente o pecuarista vende o pasto para o cultivo da soja e continua a desmatar a floresta para a abertura de novas áreas de pastagem. Desta forma, todos os anos são desmatados na Amazônia, na chamada conexão hambúrguer, uma área equivalente ao território belga. As bacias hidrográficas do estado do Mato Grosso, no sul da Amazônia, já perderam cerca de 40% de sua cobertura vegetal original. No estado do Pará, na Amazônia oriental, onde 95% dos desmatamentos são feito de forma ilegal, a situação é ainda pior.
No entanto, o governo brasileiro conseguiu reduzir em 52% o desmatamento da Amazônia nos últimos dois anos, evitando desta forma a destruição de parte deste importante bioma e a emissão de cerca de 430 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera. Mas infelizmente os governos anteriores não fizeram muitos esforços neste sentido. A floresta amazônica brasileira já perdeu quase 20% do seu território original, ou seja, 700 mil quilômetros quadrados já foram devastados, uma área 20% maior que toda a Península Ibérica.
Mas apesar dos esforços do governo brasileiro, a fiscalização é insuficiente, precária e muitas vezes corrupta. Desta forma, a triste previsão para a Amazônia é que nos próximos dez anos acolherá o maior rebanho de gado bovino do Brasil. O gado importado da Índia e os capins africanos (braquiárias), além da soja, ocuparão cada vez mais as áreas onde hoje existe floresta.
Em geral a destruição da floresta amazônica se inicia com a atividade madeireira. Os madeireiros têm como objetivo apenas as espécies de alto valor econômico, mas a extração destas acaba por destruir grandes áreas florestais. Logo a seguir entra em ação o chamado correntão, onde dois tratores atados às extremidades de uma corrente com mais de 100 metros de comprimento e pesando cerca de 12 toneladas, andam paralelos pelo terreno, arrancando as árvores sobreviventes desde a raiz, suprimindo toda a cobertura vegetal e revolvendo o solo. Freqüentemente são utilizados tratores com lâminas frontais empurradoras, os famosos bulldozers, para este trabalho sujo. Finalmente coloca-se fogo em todo o resto, que é enleirado, deixando o solo livre para a semeadura do pasto ou da lavoura.
As queimadas sucedem à derrubada das florestas e também são usadas indiscriminadamente na limpeza e renovação das pastagens e no preparo de plantios. Estas respondem por aproximadamente 70% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. Estes incêndios florestais podem eliminar até 80% da biomassa florestal acima do solo, sendo que as poucas árvores que sobrevivem morrem lentamente ao longo do tempo.
Entre as espécies agrícolas, a maior atenção é para o cultivo da soja que vem crescendo na região amazônica, num sistema de monocultura intensiva e insustentável, onde são utilizados milhões de toneladas de fertilizantes, pois os solos da Amazônia são de baixa fertilidade. Considerando que a aplicação desses insumos se dá principalmente sobre as camadas superficiais do solo, a erosão acarreta perdas de fertilizantes, contaminando as águas superficiais.
Há também a aplicação intensiva de agrotóxicos (pesticidas e fungicidas). Um exemplo destes venenos é o Glifosato, herbicida sistêmico de amplo espectro, ou seja, mata qualquer tipo de planta e elimina todos os seres vivos em contato, inclusive as bactérias indispensáveis à regeneração do solo. Muitas plantas culturais geneticamente modificadas , como a soja, são simplesmente modificações genéticas para resistir ao Glifosato, um produto altamente cancerígeno, que assim como outros agrotóxicos, persiste no solo e na água, contaminando os rios e as águas subterrâneas, além dos alimentos.
O sistema de cultivo agrícola irresponsável que vem sendo sistematizado na Amazônia causa a perda da biodiversidade e a ruptura do equilíbrio natural existente entre a floresta e o solo, o assoreamento, a escassez e a contaminação dos recursos hídricos. Estima-se que, a cada hectare cultivado no Brasil, há em média a perda de 25 toneladas de solo, o que significa uma perda anual de cerca de um bilhão de toneladas de solo.
A destruição sistemática de importantes ecossistemas tropicais tem levado à extinção um grande número de populações, espécies e comunidades de animais e vegetais.
Ao derrubar as florestas, o homem remove sistemas biológicos complexos, multiestruturados, extremamente diversificados e estáveis. As intervenções na vegetação produzem efeitos diretos na fauna, com a sua redução, pela alteração de dois atributos chaves, que são o alimento e o abrigo. À medida que uma população se torna pequena, aumentam os riscos com a consangüinidade e perda da diversidade genética, tornando mais graves os problemas demográficos, conduzindo a população mais rapidamente para o vórtice da extinção.
As taxas de extinção são difíceis de serem estimadas, pois a maioria das extinções está ocorrendo em ecossistemas bastante diversificados, como as florestas tropicais, onde não se conhece exatamente o número de espécies existentes, mas é bastante claro que estas extinções estão acontecendo atualmente num ritmo bastante acelerado. Estimativas otimistas mostram que estão sendo extintas entre 4 mil a 6 mil espécies anualmente, mas a realidade talvez seja um pouco mais cruel, como 100 espécies extintas diariamente, sendo a maior parte delas ainda desconhecidas pela ciência.
A cada minuto, populações, espécies e comunidades ecológicas inteiras de valor imensurável estão sendo perdidas. A perda de populações geneticamente distintas dentro de uma determinada espécie é um problema tão grave quanto à extinção desta espécie. Uma vez que uma determinada espécie é reduzida a uma pequena população, a sua extinção total num futuro próximo torna-se muito mais provável.
Organismos internacionais diariamente divulgam a situação catastrófica pela qual o planeta está passando, com extensas listas das espécies ameaçadas de extinção, como 3.500 espécies animais e 22 mil espécies de plantas. Alguns importantes biomas estão completamente degradados, como a Mata Atlântica brasileira, um dos mais importantes centros de evolução do planeta, que possui hoje menos de 7% da vegetação original, toda fragmentada e antropizada, e a sua destruição sistemática, ao longo de 500 anos, desde a invasão do Brasil pelos europeus, levou à extinção um grande número de espécies, populações e comunidades da fauna e flora.
O Governo Brasileiro vem tomando uma série de ações, desde 2003, para tentar conservar o que resta da Amazônia, visando direcionar o desenvolvimento da região para um modelo mais sustentável e menos agressivo. Apesar dos esforços, o governo não tem conseguido conter o desmatamento na região. Desta forma, se o ritmo atual de desmatamento for mantido, a maior floresta tropical do mundo caminhará para a sua extinção, o que comprometerá a saúde de todo o planeta.
Fabio Rossano Dario
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