Até a próxima sexta-feira, os dados degravados das caixas pretas do Airbus da TAM, envolvido no acidente ocorrido em 17 de julho, devem chegar ao Brasil. Segundo o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), Brigadeiro Jorge Kersul Filho, as informações resgatadas das caixas serão fundamentais para trazer muitas respostas sobre o maior acidente aéreo do País.
Nesta entrevista o chefe do Cenipa explica como está sendo conduzida a investigação e afirma que ainda não é possível caracterizar o sistema de freios da aeronave e nem a pista de Congonhas como fatores contribuintes para o acidente. O Brigadeiro Kersul também diz que ao longo das investigações o Cenipa deverá fazer recomendações às autoridades do setor aéreo, às empresas e até aos fabricantes para se reduzir, ao máximo, os riscos de novos acidentes.
Em questão - Quando chegam ao Brasil os dados degravados das caixas pretas? Qual a importância das informações extraídas desses equipamentos? Esses dados serão divulgados?
Brigadeiro Kersul - A previsão de retorno da comissão de investigação que está nos Estados Unidos é de decolar de lá na quinta-feira à noite chegando aqui na sexta-feira. Muitos dos dados estão ali gravados na caixa de voz e na caixa de dados, então ela é muito importante para a investigação do acidente aeronáutico. E ela, com certeza, trará muitas respostas. Sobre o acesso aos dados, o Brasil é signatário da Convenção de Chicago e nela está estabelecido, no anexo 13, que, a princípio, essas informações levantadas pela comissão de investigação de acidentes aeronáuticos devem se restringir apenas a esta comissão e a prevenção de acidentes.
EQ - Existe a informação de que a aeronave da TAM envolvida no acidente colidiu de lado com o prédio da empresa e a 175 km/h, dados, inclusive, retirados da caixa preta. Essa informação procede? Essa velocidade foi superior a que o avião estava quando pousou em Congonhas? A posição do equipamento quando se chocou com o edifício é relevante para a investigação?
BK - Esses 175 quilômetros/hora foram uma informação fornecida pelo responsável pela investigação, que estava nos Estados Unidos, baseada nos dados da caixa preta e foi fornecida, única e exclusivamente, aos deputados que estavam lá. Com relação à velocidade de aproximação final, a informação que temos inicialmente, e não temos dados precisos porque algumas informações me passaram por telefone, é que a aeronave estava na velocidade normal de aproximação. Só podemos dizer que a aeronave não desacelerou o suficiente. O fato da posição que ele bateu não é muito relevante porque depende de como o trem de pouso reagiu no final do procedimento. Todos esses movimentos, inclusive, os que estavam sendo induzidos pelos pilotos vão refletir na posição que a aeronave bateu nos edifícios. Ali a aeronave já estava sem controle, então, a princípio, a posição que ela bateu foi quase nivelada. O fato de estar um pouco inclinada não diz muita coisa p or enquanto, não é um fato relevante.
EQ - Uma das funções do Cenipa é fazer recomendações às autoridades, empresas e fabricantes para se reduzir o risco de novos acidentes. Até o momento já foi emitida alguma recomendação em relação à investigação deste acidente?
BK - A única recomendação que nós emitimos foi para que o pouso em Congonhas, na pista principal, fosse evitado quando a pista estivesse molhada porque ainda estamos fazendo medições sobre as suas condições. Porque? Porque ela pode ser um fator contribuinte. O momento agora é de realmente perguntar tudo. Então, uma das perguntas seria: pode ter falhado o sistema de freios? Vamos averiguar. E aí vamos eliminando as possibilidades até quando detectarmos 'aqui houve uma falha séria'. Como podemos evitar? Se refere ao treinamento da tripulação? Se refere à manutenção? Se refere à pista? Se refere à meteorologia? E nós vamos tentar atacar ao máximo os fatores que contribuíram para esse acidente.
EQ - Já é possível saber se o sistema de freios do Airbus da TAM contribuiu para a ocorrência do acidente? O fato de um dos reversos estar inoperante representa um risco para passageiros e tripulação?
BK - Nós não temos ainda condições de dizer se houve falha no sistema de freio. Nós temos que levar em conta que as aeronaves operam dentro das limitações da pista. Não é a pista que se adapta ao avião. Os aviões têm que ser capazes de operar naquela pista. Então, para a aeronave operar em Congonhas, dentro dos manuais, ela tem que ser capaz de realizar todos os procedimentos sem a utilização do reverso. Se (a aeronave) está homologada para operar naquela determinada pista é porque ela é capaz de, mesmo sem o reverso, fazer todas as manobras de solo dentro do tamanho disponível na pista. Caso identifiquemos alguma falha no sistema de freio do avião não precisamos esperar o término da investigação para emitir uma recomendação, por exemplo, que todos os freios ou determinado sistema de freios dessa determinada aeronave sejam checados. Inclusive, provavelmente, eles serão checados no mundo inteiro. Se ainda chegarmos à conclusão, duran te a investigação, que algum manual do fabricante podeser melhorado, também faremos recomendações de segurança ao fabricante.
EQ - Quando houver a finalização das investigações as causas do acidente serão divulgadas?
BK - Não costumamos usar a palavra causa. Porque causa remete a responsabilidade. Causa e responsabilidade se referem a um processo jurídico, policial. O linguajar que usamos em investigação é "fatores que contribuíram para o acidente". Com certeza, no relatório final todos terão o conhecimento de quais os fatores que a investigação considerou que influenciaram no acidente. Nós nunca vamos dizer causa, o que causou o acidente foi tal coisa. Nenhum acidente advém de um fator, normalmente de uma seqüência. Então, uma tripulação que, por acaso, não tenha um descanso suficiente ou a pista que tenha tido alguma influência, tudo isso são fatores que podem ter contribuído. O que nós vamos fazer agora é levantar esses fatores.
EQ - Qual é o procedimento da investigação do acidente com o avião da TAM?
BK - A investigação é dividida em diversos fatores. Fator humano, fator material, fator operacional. Se nós temos, por exemplo, a suspeita que a pista influenciou alguma coisa, temos que pesquisar dados, principalmente, de coeficiente de atrito da pista, de drenagem. Para isso são feitos testes científicos. Isso é um dos procedimentos. Depois, também dentro da investigação, é feita uma vistoria de segurança na empresa que esteve envolvida no acidente. Muitas verificações são feitas em qualquer acidente ocorrido neste país, uma delas na empresa. Tudo isso é levantado com muita responsabilidade porque também não podemos distribuir informações sem a interpretação adequada.
Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
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