Logo de início deve ficar claro que a palavra 'intelectual' NÃO reflete o significado de intelligentsia. A despeito das definições dos dicionários, os dois termos não são sinônimos. Para começo de conversa, alguns intelectuais em nossa sociedade pertencem à intelligentsia. Muitos não pertencem. Por exemplo, puros intelectuais, sem pretensões de pertencer à intelligentsia radical, ocupam o enorme e poderoso mundo acadêmico. Portanto, para distinguir entre ambos, recorre-se à transcrição da palavra a partir do russo, na esperança de expressar-se seu significado. Todavia, também a palavra intelligentsia foi internacionalizada e seu significado, por vezes, degradado até a banalidade.
Na Rússia pré-revolucionária intelligentsia não designava uma parte profissional da população tal como a formada por escritores, acadêmicos, filósofos, sociólogos e pessoas cultas em geral. Designava, isso sim, um grupo social unido por idéias: uma direção política similar, filosofia e perspectiva de mundo análogas. Leiam só os romances de Dostoevsky e estarão lendo romances das idéias projetadas pela intelligentsia da época. Historicamente, a palavra implica em radicalismo e desejo por drástica mudança sócio-política, uma consideração particularmente válida para os intelectuais dos Estados Unidos.
A atração do marxismo para a intelligentsia foi e continua sendo um processo natural. O marxismo contém não apenas o elemento de materialismo filosófico mas também uma grande e sedutora dose de genuína filosofia existencial, nascida do idealismo alemão de Marx. Fé na vontade humana. Confiança na atividade humana pela luta revolucionária das classes. A idéia de que o homem pode superar o poder das (em sua maioria ocultas) relações de poder econômico sobre sua vida. Uma visão positiva do futuro.
Portanto, as pessoas mais cultas e instruídas na sociedade certamente NÃO deverão ser consideradas parte da intelligentsia se forem conservadoras ou reacionárias. Exemplos de intelectuais que não são da intelligentsia radical são numerosos, por exemplo os intelectuais franceses no topo da Revolução transformados em contra-revolucionários que se bandearam de volta para o Rei e sua Corte em vez de arriscarem-se nos perigos da Revolução do povo.
Similarmente, os intelectuais franceses da escola da "a ideologia está morta", tais como Bernard Henri-Lévy e outros assim chamados novos filósofos, fizeram carreira ridicularizando o compromisso intelectual, que é o papel da intelligentsia. Depois da derrubada do comunismo na Europa Oriental, a mensagem tipicamente excessivamente fácil dos novos filósofos era a de que não se podia mais levar a sério as idéias socialistas. Lévy disse, oh tão equivocadamente, tão maliciosamente: "Quando os intelectuais se permitem acreditar numa comunidade de homens, eles nunca se situam longe da barbárie." Não apenas reducionista, mas nada menos do que uma apologia do totalitarismo, do tipo natural, direitista.
Autor da publicação: Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
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