Um dos famosos modernos escritores russos, Alexandr Solzhenitsin, reconhecido internacionalmente, o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1970( por o livro "Arquipélago Gulag"), morreu neste domingo (03) na sua casa devido ao ataque cardíaco, aos 90 anos. A sua biografia coincide fortemente com a história do povo russo no século XX e no início do séc. XXI, diria mesmo que se trata de um dos seus espelhos mais fiéis.
Solzhenitsin combateu na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi ferido e condecorado, tal como milhões soldados soviéticos. Tal como milhões de cidadãos soviéticos, passou pelos campos de concentração estalinistas por, em cartas a um amigo, criticar o ditador Iosif Estalin.
Após doze anos de GULAG, Solzhenitsin vai dar aulas para uma escola da província russa, iniciando, paralelamente, a sua atribulada carreira literária. Em 1962, a publicação do seu conto "Um dia na vida de Ivan Denissovitch" provocou um autêntico abalo na vida literária e social do seu país.
Depois voltaram novamente as perseguições e o desterro, desta vez para o Ocidente, onde Solzhenitsin publica as suas obras mais revelantes "O Pavilhão dos Cancerosos", "O Arquipélago de GULAG", etc., etc.
Na luta contra a ditadura e repressões estalinistas, Solzhenitsin ganhou o respeito de todas as vítimas e adversários do regime.
O escritor regressou a país em 1994, depois da chegada ao poder de Mikhail Gorbachev, mas não se envolveu diretamente na luta política, tendo optado pelo papel de profeta que vive retirado na sua casa da província e que revela as suas idéias e propostas através das suas obras. O escritor tentou encontrar uma fórmula para reconstruir, relançar a sua Rússia. Não é por acaso que uma das suas primeiras obras depois do regresso se intitula: "Como reorganizar a Rússia?".
Solzhenitsin tentou encontrar o futuro da Rússia após-comunista , a idéia nacional, no regresso a instituições pré-revolucionárias, ou seja, que existiram até 1917. Nesse sentido, o escritor teve o apoio dos monárquicos e ultra-conservadores. Na sua obra "Duzentos Anos Juntos", o escritor repete um dos erros do governo pré-revolucionário russo ao embarcar no anti-semitismo.
Mas é essa linha do pensamento que o leva também a apoiar a guerra na Chechénia e, posteriormente, a política de Vladimir Putin.
À primeira vista, parece uma aliança estranha: Solzhenitsin , vítima dos serviços secretos soviéticos (KGB) e Putin, representante desses serviços. Mas não é o caso, porque a base dessa aliança está noutro plano: no renascimento e no engrandecimento da Rússia.
Os antigos dissidentes soviéticos e políticos liberais não lhe podem perdoar esse passo, mas Solzhenitsin e Putin representam os pensamentos, os anseios da maioria da população.
Por enquanto, ainda é cedo para avaliar a extensa herança cultural, filosófica, literária deixada por Alexandre Soljenitzine. Tal como todos os escritores geniais, ele é problemático, complexo.
Com José Milhazes
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