As reformas econômicas ultraliberais dos anos 90, a crise financeira global a continuar e a nostalgia por uma potência mundial resultaram na mentalidade dos cidadãos russos em um desejo de voltar à URSS.
Embora os liberais chamem essa tendência da " recaída da consciência autoritária" e explicam-na pelo efeito do envelhecimento da população — o fato é que em 2011 60 % dos entrevistados na Rússia por vários sociólogos lamentam o colapso da União Soviética. E ainda mais, um em cada cinco russos gostaria de viver na URSS reestabelecida.
Claro que essas mudanças na consciência do eleitorado consideram-se pelos políticos. Assim, o primeiro-ministro Vladimir Putin, no seu artigo, publicado no jornal Izvestia, afirmou a possibilidade de criar uma União Euroasiática.
Até agora esta idéia está baseada na União Aduaneira a funcionar entre a Rússia, Belarus e Cazaquistão. Segundo Putin, chegou o momento para avançar e criar um espaço econômico comum e é apenas a questão de uns meses. O projeto terá início em 01 de janeiro de 2012. Está prevista a criação no território de três países de um enorme mercado comum com mais de 165 milhões de consumidores com a lei uniforme, circulação livre de capitais, serviços e trabalhadores. E Putin coloca a mais ambiciosa meta — conseguir o próximo nível de integração e chegar à União Euroasiática (UEA).
" Propomos um modelo de união supranacional poderosa, capaz de se tornar um dos pólos do mundo moderno e desempenhar o papel de uma eficaz "ponte" entre a Europa e a dinâmica região Ásia-Pacífico. Em particular, isto significa que, com base da União Aduaneira e do espaço econômico comum precisa- se passar para uma coordenação mais estreita das políticas econômicas e monetárias, para criar uma união econômica.
Além dos recursos naturais, o forte capital monetário e humano permitirá a União Euroasiático ser competitivo na corrida industrial e tecnológica, instrumento para atração de investidores, criar novas vagas e indústrias inovadoras. E junto com outros atores-chave e as estruturas regionais, tais como a União Europeia, os EUA, a China, APEC assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento global ", — diz Putin no artigo.
E ao longo deste, o primeiro-ministro russo traça paralelos entre a União Euroasiática e da União Soviética, embora não a favor da última. "É ingênuo tentar restaurar ou copiar o que foi deixado no passado, mas a maior integração de novo valor, base política, econômica — é imperativo do nosso tempo" — diz o primeiro-ministro.
Comentaristas russos têm interpretado o artigo de Putin como o programa dele para terceiro mandato. Passados 20 anos depois do colapso da União Soviética, Putin, mais ativamente do que antes, tenta assumir o papel de integrador da comunidade pós-soviética. E ao contrário de tentativas anteriores, no momento há chances reais de reintegração, pelo menos com os Estados asiáticos. À União Aduaneira com Belarus e Cazaquistão podem se juntar e Quirguistão e Tajiquistão.
De acordo com muitos analistas políticos, a Rússia tem uma boa chance para realizar a idéia de Putin. Portanto, se o domínio russo no território pós-soviético há 5 atrás estava em dúvida, agora é indiscutível, de acordo com o cientista político e publicitário Fyodor Lukyanov. "Os EUA e a UE têm outras prioridades, interesses da China são limitados para a economia, e Turquia, apesar da ambição, está incapaz de reivindicar o papel de patrocínio completo", comentou.
"Esperámos por 25 anos, até que o nosso líder pronunciasse estas palavras em público" — disse, Alexander Dugin, o líder do movimento a apoio da UEA.
Mas o Ocidente reagiu de outra maneira. "Putin tem despertado o temor do ressurgimento da União Soviética", diz o Daily Mail. Putin negou que é uma tentativa de reviver o "velho império comunista da Rússia". "No entanto, garantias de Putin não são susceptíveis de convencer alguns ex-repúblicas soviéticas. Muitos deles se mostram suspeitosos em relação às intenções do Kremlin," — dispara o jornal.
Segundo o Daily Mail, alguns potenciais parceiros vão resistir: em setembro o presidente da Ucrânia Viktor Yanukovych reclamou o Kremlin ter feito a Ucrânia se juntar à União Aduaneira. A Belarus também se opõe à transferência de uma grande proporção de seus ativos industriais.
Mas a realidade é que a infra-estrutura comum, a língua comunicativa, os laços econômicos e nostalgia dos povos da ex-URSS estão pressionando para criação de uma nova união que não seria federal, mas parecida com a da Europa, e idealmente confederativa.
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