Imagine um pássaro com quase 1,5 metro de altura, olhar penetrante e um bico tão largo quanto a cabeça de um crocodilo. Acrescente a isso movimentos calculados, silêncio absoluto e uma habilidade de caça que deixaria muitos felinos com inveja. Esse é o shoebill, ou bico-de-tamanco — uma das aves mais enigmáticas e fascinantes da vida selvagem africana.
Habitante dos pântanos do Sudão do Sul, Uganda e Zâmbia, esse pássaro pré-histórico parece saído de um filme de ficção científica. Ele mistura características de cegonha, pelicano e até dinossauro. Não é à toa que viraliza nas redes sociais sempre que aparece em vídeo, encarando humanos como um guardião de templos antigos.
Apesar da aparência imponente, o shoebill é incrivelmente discreto. Ele permanece imóvel por longos períodos, à espreita de suas presas — geralmente peixes, enguias e até pequenos jacarés. Quando ataca, faz isso com precisão cirúrgica e uma força impressionante.
Ao contrário de outras aves aquáticas que mergulham ou correm atrás de suas vítimas, o shoebill adota a tática do caçador furtivo. Ele espera, imóvel, por minutos ou até horas, até que um movimento na água denuncie a presença de um peixe. Então, com um único golpe de seu poderoso bico, captura a presa.
Esse bico, que lembra um tamanco de madeira (daí o nome), tem bordas afiadas e é suficientemente forte para decapitar peixes maiores ou esmagar crânios. Um ataque de shoebill raramente falha.
Além do visual pré-histórico, estudos mostram que o shoebill pertence a uma linhagem evolutiva muito antiga, com pouca variação genética em relação a fósseis encontrados. Ele é considerado uma relíquia viva de tempos mais primitivos da história das aves.
Seu voo é lento, mas firme, e seu comportamento social é minimalista: são aves solitárias, que só se reúnem para reprodução. Filhotes nascem frágeis e muitas vezes apenas um sobrevive — o que dificulta ainda mais a recuperação populacional.
O bico-de-tamanco está classificado como vulnerável na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A destruição dos pântanos, caça ilegal e comércio de animais exóticos colocam a espécie em risco.
Apesar disso, é pouco estudado, justamente por viver em áreas remotas e de difícil acesso. Isso contribui para o mistério que envolve a ave — e para a urgência em protegê-la antes que desapareça.
O shoebill não canta, não corre, não foge. Ele observa. Com olhos fixos, quase humanos, e uma presença que impõe respeito, é um lembrete de que a natureza ainda guarda criaturas que desafiam nossa imaginação — e que merecem existir por muitos séculos mais.
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter