Cerca de 60 mil manifestantes de diversos Estados dos EUA protestaram na pequena localidade de Jena, Louisiana, contra o racismo provocado por uma briga entre seis estudantes negros e um branco de uma escola da região. O caso ganhou o nome de "Jena 6" ou os "Seis de Jena", segundo as informações da Folha OnLine. A polícia se recusou a fornecer uma estimativa do número de participantes, mas a Reuters e a Associated Press informaram que milhares participaram dos protestos.
O presidente dos EUA, George W.Bush, disse hoje na Casa Branca que compreendia a comoção sobre o caso e afirmou que o FBI monitorava a situação. "Os acontecimentos em Louisiana me entristeceram. Todos nós nos Estados Unidos queremos justiça", disse Bush.
Em agosto de 2006, um estudante negro perguntou em uma assembléia de alunos na escola de Jena se os negros poderiam sentar debaixo da sombra feita por uma árvore. O local era um ponto de encontro para os alunos brancos. A resposta da assembléia foi que sim.
No dia seguinte, apareceram três nós pendurados na árvore --uma alusão a enforcamentos com motivação racial ocorridos durante o período de leis segregacionistas em certos Estados americanos o final da década de 60. Os responsáveis pelo caso foram identificados, mas não processados criminalmente, pois, segundo o responsável pelo caso, eram todos menores pelas leis do Estado da Louisiana.
O episódio dos nós iniciou uma série de brigas entre negros e brancos na escola. O conflito culminou no espancamento de um garoto branco, Justin Barker, por seis jovens negros. Após a agressão, Barker ficou inconsciente, com o rosto inchado, mas conseguiu ir à aula no mesmo dia do ocorrido.
Em dezembro de 2006, o grupo de jovens negros foi acusado de agressão, que evoluiu para tentativa de assassinato. Posteriormente, as acusações contra o grupo de jovens foram amenizadas.
Dos seis envolvidos no espancamento, o menor envolvido no caso, Mychel Bell, teve como acusação agressão de segundo grau e pena de 15 anos de prisão, mas uma decisão na última semana anulou a sentença ao dizer que ele não deveria ter sido julgado como um adulto.
Sean Gardner/Reuters
Protesto tomou as ruas da pequena cidade; manifestantes vieram de diversos Estados
Bell continua na prisão enquanto seus advogados preparam um apelo. Ele não conseguiu reunir dinheiro para pagar a fiança.
O promotor Reed Walter, que decidiu processar os jovens, negou nesta quarta-feira que fosse motivado por racismo.
"Não foi nem nunca vai ser sobre raça. É sobre encontrar justiça para uma vítima inocente e responsabilizar pessoas por seus atos", disse Walter.
Jena
Os organizadores da manifestação pediram que os participantes não comprassem nada na cidade, para que seus habitantes não se beneficiassem do protesto. O comércio local permaneceu fechado.
Jena é uma cidade de maioria branca de 3.000 habitantes. Seus moradores consideraram que o caso dá uma fama injusta de racista à localidade.
"Eu acredito em gente que luta pelo que é certo. O que me incomoda é que a cidade está sendo rotulada como racista. Eu não sou racista", disse o morador Ricky Coleman, 46, que é branco.
Líderes da comunidade negra local afirmaram que o caso era um exemplo de problemas maiores enfrentados no local. Eles afirmaram que a cidade é efetivamente segregada e que há menos oportunidades para os negros, após cerca de 40 anos do fim das leis segregacionistas.
"Os negros moram de um lado da cidade. Os brancos moram no outro. Nós vivemos uma cidade segregada por toda nossa vida. Não é algo que desejemos, mas não podemos fazer nada sobre isso", disse B.L. Moran, um pastor local.
Protesto
A multidão entoava "Libertem os seis de Jena", enquanto o reverendo Al Sharpton --um conhecido ativista pelos direitos dos afro-americanos-- chegava ao local com as famílias dos adolescentes.
Sharpton disse que irá, juntamente a três legisladores democratas, pressionar na próxima semana o Comitê de Justiça da Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) para que convoque o responsável pelo caso para explicar seus atos diante do Congresso.
"O que nós precisamos é intervenção federal para proteger as pessoas da injustiça sulista", disse Sharpton à Associated Press.
Para Sharpton a concentração em Jena pode ser o início de um novo movimento pelos direitos civis, do século 21. Ele afirmou que planeja organizar uma marcha para a capital dos EUA, Washington, em novembro.
O movimento dos direitos civis consiste uma série de protestos e medidas que culminaram por derrubar leis segregacionistas que vigoravam em Estados americanos nas décadas de 50 e 60.
Martin Luther King 3, filho do líder do movimento pelos direitos civis Martin Luther King (morto em 1968), disse que a cena do protesto de hoje era comparável às primeiras manifestações do movimento dos anos 50 e 60.
Ele afirmou que alguma punição deve ser dado aos seis acusados, mas "o sistema de Justiça não é aplicado da mesma forma para todos os crimes e pessoas".
"Nós temos pessoas na família na idade destes garotos. Nós queremos fazer alguma coisa", disse Angela Merrick, 36, que veio com três amigas de Atlanta, no Estado americano da Georgia, para protestar em Jena.
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