Na véspera da cimeira do G-8 na Escócia, que irá debater entre outros o problema do clima, os cientistas russos fizeram uma surpresa: a expedição russa recém-regressada da Antárctida transmitiu à Academia das Ciências da Rússia dados que confirmam os processos de arrefecimento do clima na zona da calota polar. De acordo com o director do Instituto de Problemas Climáticos e Ecológicos, Yuri Izrael, este facto atesta mais uma vez que os prognósticos sobre mudança do clima continuam a ser pouco precisos. A mudança do clima está à vista, mas a ciência ainda é incapaz de estabelecer as suas causas e tendências.
Respondendo à pergunta se é possível predizer as condições do tempo nos dias da cimeira, o académico respondeu sorrindo: "Claro que é possível. No Turcomentistão haverá calor! No que se refere à Escócia, pergunte-me um dia antes da cimeira, vou responder com uma probabilidade de 92 por cento".
A climatologia é uma ciência ainda muito jovem. O desequilíbrio dos processos climatéricos torna pouco seguras mesmo as previsões para o dia de amanhã, sem já falar de um período a médio prazo. "Ainda há pouco o limite de previsão era de duas semanas, sendo hoje apenas de dez dias. O clima é uma matéria bastante complexa, existindo uma série de factores praticamente imprevisíveis" - adianta o académico. - "Um turbilhão inesperado pode provocar uma avalancha ou desviar os ventos numa outra direcção".
As mudanças do clima preocupam-nos cada vez mais. O primeiro sinal de alarme foi registado na década de 1980 na Rússia, quando o cientista de Leninegrado Mikhail Budyga, anunciou pela primeira vez e confirmou cientificamente as mudanças do clima. A sua descoberta não foi reconhecida a nível mundial, enquanto ele próprio não conseguiu ser eleito duas vezes para a Academia das Ciências da Rússia, continuando mesmo assim a insistir na sua descoberta, segundo a qual o clima está em activa mudança. Para prová-lo basta hoje olhar pela janela. O problema é óbvio para todos e figura entre as ameaças globais à escala mundial. Os efeitos lamentáveis das surpresas do clima são dezenas de milhares de vidas humanas perdidas e enormes prejuízos económicos pelo mundo fora, estimados em biliões de dólares.
Estamos acostumados a viver na sucessão tradicional das quatro estações do ano. Mas quando em Janeiro na região de Moscovo aparece a erva e em Julho é impossível sair à rua sem um casaco tudo isto já provoca certos receios. Por causa das chuvas e das temperaturas baixas na Rússia as áreas agrícolas começam a apodrecer, enquanto em Portugal e na Bélgica as altas temperaturas queimam os campos, deixando os agricultores face ao problema de como alimentar o gado.
"Se os actuais ritmos de aumento da temperatura à escala global continuarem, será impossível predizer as escalas da mudança do clima" - afirma o responsável do Serviço Federal de Meteorologia e Monitoramento do Meio Ambiente, presidente da Organização Meteorológica Mundial, Aleksandr Bedritski. - "Nestas condições, uma das principais tarefas da Humanidade é a adaptação ao clima em mudança". Entre os eventuais males com que a Rússia irá deparar há que destacar o eventual derretimento das terras eternamente geladas do Norte por causa do aumento das temperaturas no Inverno. "É quase impossível calcular o volume de meios a serem investidos para proteger as infra-estruturas básicas nestas regiões", adiantou Bedritski.
Na opinião do académico Yuri Izrael, a primeira medida importante deve ser um significativo financiamento das ciências do clima. Por exemplo, são necessários meios avultados para a criação de modelos climatéricos de nova geração, visto que os existentes não garantem uma previsão mais ou menos segura das mudanças de toda uma série de fenómenos meteorológicos de carácter extraordinário (trata-se em primeiro lugar das tempestades nas latitudes médias). Sem já falar de tais fenómenos do clima como trovoadas, tornados, relâmpagos, granizo, etc., os quais simplesmente não são modeláveis pelos meios técnicos actuais. Podem também ser consideradas como preliminares as avaliações sobre as características futuras do El-Niño. Hoje em dia entre os cientistas e os políticos existe um fosso que não contribui em nada para a causa comum, argumenta o cientista. No seu ver, o G-8 deve dar ouvidos à voz dos cientistas.
Actualmente os cientistas na área de climatologia dividem-se em pessimistas e optimistas quanto às previsões sobre as mudanças do clima. De acordo com vários modelos de avaliações, no período entre 1990 e 2100 a temperatura média global pode vir a subir em 1,4-5,8ºC. "No meu entender estes valores não representam qualquer ameaça para a humanidade", afirma Yuri Izrael. A esperada subida do oceano mundial em 47 centímetros ao longo de um século também não é nenhuma catástrofe, adianta o cientista. Na pior das hipóteses, existirá perigo para os portos, os quais terão que adaptar-se às novas condições. A Rússia já possui esta experiência. Ao se adaptar às marés de cerca de 8 metros, o porto de Magadan (Extremo Oriente) construiu uma série de pontes-cais. De acordo com a modelação matemática, a Rússia nos meados do século XXI irá registar o aumento significativo das temperaturas médias do ar em 3-4ºC na Sibéria Ocidental e em 2-3ºC no Norte da parte Europeia da Rússia, na Yakútia e na costa árctica. As precipitações podem vir a aumentar em 10-20 por cento. Os cientistas apelam aos políticos a tirar já hoje as necessárias conclusões, uma vez que as mudanças do clima irão ter significativos efeitos naturais, económicos e sociais para o país.
É paradoxal mas o aquecimento global pode provocar um arrefecimento catastrófico. O derretimento dos gelos árcticos poderá fazer diminuir a temperatura das águas do Atlântico Norte, o que por sua vez fará mudar o clima na Europa. Uma variante extrema desta mudança é a paragem dos correntes quentes, por exemplo, da Corrente do Golfo. Há quem considere que a Corrente do Golfo já começou a arrefecer. Trata-se em geral de um sintoma do período glaciar. Verdade seja dita que tudo isso não irá ocorrer já amanhã. Mas quem sabe?
Tatiana Sinitsina comentarista RIA "Novosti"
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