30 anos sendo vigiado: Uruguai fala sobre espionagem massiva da CIA em seu território
Um sistema de espionagem massivo com a participação da CIA operou por pelo menos 30 anos no Uruguai. O deputado Gerardo Núñez, presidente da comissão parlamentar que investiga o caso, explicou à Sputnik Mundo os detalhes sobre estes vazamentos sistemáticos de informação.
A reforma do sistema de inteligência se tornou foco da discussão parlamentar no Uruguai logo após ter sido revelado um arquivo de três milhões de páginas, que demonstrou o poder das Forças Armadas no Uruguai entre 1985 e 2004. A informação revelou um sistema de espionagem em partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais.O parlamentar Gerardo Núñez, presidente da Comissão de Investigação sobre a espionagem Militar em Democracia da Câmara de Deputados do Uruguai, explicou em entrevista à Sputnik Mundo os mecanismos de realização destes vazamentos.
Uma série de documentos secretos sugere que, além de agentes diretos, muitas pessoas eram remuneradas não apenas com dinheiro, "mas também com viagens ao exterior, férias para o informante e sua família ou compra de casas", entre outros incentivos, disse Núñez ao programa Telescopio.
Segundo documentos encontrados no arquivo, a agência de inteligência norte-americana teria dado pelo menos 37 propinas para obter informações dos Ministérios do Interior e das Relações Exteriores do Uruguai.A Comissão Investigadora, liderada por Núñez, enviou à chancelaria uruguaia uma carta pra que esta avalie se é possível convocar a embaixadora dos EUA, Kelly Keiderling, para pedir explicações sobre o assunto.
Os três milhões de páginas foram encontrados a partir de 2005, com a chegada da Frente Ampla (Frente Amplio, em espanhol), o partido no poder desde então.
"A documentação existente é muitíssima, mas não sabemos por que foi obtida. Sabemos a metodologia conforme a qual foram realizadas essas práticas, mas gostaríamos de saber as bases sólidas que motivaram o desencadeamento de um trabalho tão sistemático, planejado e organizado", disse o parlamentar.
Os agentes e informantes muitas vezes eram militares que recebiam dados nas organizações sociais, enquanto outros até pertenciam a estas. Segundo Núñez, alguns, além de passar informações, também "destruíam-na" de dentro de suas instituições, por exemplo, causando distúrbios e manifestações.
Os documentos também mencionam buscas ilegais, efetuadas por pessoas que se disfarçavam de funcionários de empresa de águas para entrarem nas casas de membros partidários ou de organizações. Em outros casos, espiões entravam para fazer estudos técnicos de edifícios "certamente para avançar com outras operações contra a inteligência".
As investigações da Comissão continuarão ao menos até dezembro de 2017, mas dado o enorme volume de documentos, é possível que se estenda por um prazo maior, afirmou Núñez ao Telescopio.
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