Com a morte de Eduardo Campos, ficou de pronto aberta uma ferida no Partido Socialista. Campos adotava um socialismo bastante liberal e democrático, mas muito sério.
O partido reagiu rápido. Com a indicação da própria viúva do candidato, o nome Marina Silva surgiu no cenário com velocidade. A convenção confirmou e a ex-ministra do Meio Ambiente, nos primeiros anos do mandato Lula, foi anunciada como sucessora de Campos.
Marina não é nada desconhecida do eleitor brasileiro. Companheira de Chico Mendes, assassinado pela sua intransigente defesa do meio ambiente, foi figura destacada no primeiro governo petista. Desentendeu-se com Dilma Rousseff e terminou por pedir demissão do ministério, aceita pelo presidente que sempre afirmou ser a acreana da sua mais absoluta preferência e confiança. O fato causou constrangimento, mas substituição de ministros é coisa comum em qualquer governo.
A aparente frágil Marina Silva, intoxicada pelo mercúrio usado na exploração de metais preciosos e poluidor das águas do seu estado natal, o Acre, sobreviveu não só ao mal físico como ao desgaste sofrido politicamente. Em pouco tempo era candidata à presidência da República e foi muitíssimo bem votada. Agora, em semanas, surgiu na pesquisa eleitoral como verdadeiro fenômeno, bastante próxima de Dilma e superando Aécio Neves, do PSDB, duas vezes governador de Minas Gerais e agora senador da República.
O fato não ficou nestes termos, assustou a muitos, quando foi anunciado que em segundo turno bate fácil a atual presidente da República. Alguns analistas ousam afirmar que a vitória será imediata, descartando outra votação. O fato se explica.
Marina tem o perfil do povo brasileiro. Fala bem, tem ideias bastante coerentes e se identifica com a massa. Sobre a sua cabeça não pesa acusação de qualquer falcatrua, ou seja, para o brasileiro que está se acostumando a vida que leva, que melhorou bastante, é o nome que interessa a ricos, remediados e pobres, que veem surgir ameaças diárias na economia brasileira. O governo Dilma não agrada mais ao povo como antes, por medo do futuro incerto: inflação, descaso com a saúde, a educação, a segurança e o saneamento, fantasmas que assombram qualquer governo ou povo.
Assim pensa o cidadão. Se vence Dilma, ele está arriscado a perder o que conquistou. Com Marina, determinada e até mesmo exagerada nos bons propósitos, o homem se sente seguro. Medo da candidata por qual motivo, se ela representa o socialismo existente hoje na França e na Alemanha?
Não será surpresa alguma se não existir segundo turno. Sua vitória é inevitável, segundo tudo indica e o número crescente de adesões diárias ao nome Marina Silva.
Jorge Cortás Sader Filho é escritor
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