Rio - Presente nas mesas da alta sociedade e da classe média, nas tardes festivas de escolas de samba e favelas, o feijão, estrela da culinária brasileira, já foi esnobado pelas elites. Demorou para o grão passar pela goela dos mais ricos, que chegaram a comê-lo escondido por ser considerado comida de pobre.
A elite mudou de roupa, copiando o francês, mas não mudou o gosto alimentar. Foi a vitória da feijoada!, exalta o pesquisador visitante do Departamento de Geografia da UFF, Almir Chaiban, que fez pesquisa sobre a história do grão desde 1808 até hoje, com apoio da Faperj.
Atualmente, a mistura de feijão com carnes, especialidade carioca, freqüenta todas as mesas. Sexta-feira, é difícil encontrar em restaurantes, chiques ou ralés, quem resista ao cheirinho do caldo negro fumegante.
Para o cozinheiro Rodrigo Mota Adão, 35 anos, o sucesso da comida vem de véspera.
A boa feijoada começa a ser preparada um dia antes, com o corte certo dos miúdos e retirada da quantidade exata de sal da carne seca, ensina o mestre-cuca do restaurante Bandeira F.C., na Praça da Bandeira, onde os amantes do prato fazem fila até a calçada.
Mas nem sempre a feijoada saboreou tanta popularidade. Chaiban diz que no início do século 19, com a chegada da Família Real Portuguesa ao Rio, a nobreza começou a comer a iguaria de forma velada. Só pobre era visto degustando o prato. O pintor francês Jean-Baptiste Debret descreveu, em relatos de viagem ao Brasil, que comerciantes comiam feijão com carne seca e farinha, ardendo de pimenta, escondidos no fundo de seus estabelecimentos.
Gradativamente, a feijoada passou dos fundos da cozinha para a sala de jantar. Em 1830, já estava na mesa de ricos e pobres todos os dias. E ganhou o mundo. Mas há quem diga que nada supera a receita carioca.
A feijoada de São Paulo não é a mesma coisa. Alguém do Rio tinha que ensinar a eles, provoca o gerente comercial Carlos Alberto Corrêia, 57.
Feijoada surgiu entre ricos
O historiador Chaiban derruba a lenda de que foi nas senzalas que a feijoada nasceu, feita por escravos com restos de carnes desprezados na Casa Grande. Surgiu nas famílias ricas, porque os miúdos eram valorizados pelas elites. Eles comiam uma feijoada mais incrementada e os pobres, feijão ralo, com pequenos pedaços de carne seca ou toicinho, explica.
Nessa semana, outro estudo sobre o grão, feito pelo Instituto de Defesa do Consumidor, mostrou má qualidade do feijão brasileiro. Insetos e larvas vivas foram encontrados em 20% das amostras avaliadas.
Fonte: Dia
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