Fundação Calouste Gulbenkian foi «o mais extraordinário golpe de sorte» da história de Portugal, afirmou hoje o sociólogo António Barreto, na sessão solene que assinalou os 50 anos da instituição. «A verdade - disse - é que esta fundação com o seu património é o mais extraordinário golpe de sorte da nossa história. Muitos foram os êxitos dos portugueses durante séculos, mas sofridos, e resultado de esforço, por vezes sobre-humano. Com esta fundação, estamos perante aquele que é um dos mistérios da história: a sorte».
António Barreto, coordenador de um livro sobre o meio século da Gulbenkian e o seu impacto da sociedade portuguesa, a lançar no Outono, foi o orador convidado da sessão solene, que contou com a presença do Presidente da República e reuniu centenas de convidados na fundação.
Segundo o investigador, nunca se saberá o principal motivo que levou o milionário de origem arménia Calouste Gulbenkian a deixar a Portugal a sua colecção de arte e a sua fortuna, dando origem à fundação com o seu nome, cujos estatutos foram aprovados faz hoje 50 anos. Com a Gulbenkian, considerou o sociólogo, «a sociedade não ficou aberta. A vigilância e a censura não terminaram. Mas entraram o ar e a luz. Mais que isso, ideias. E saíram pessoas, foi possível falar e ver. Sem essa janela teríamos vivido pior».
Mas o principal factor de sucesso da fundação é, para António Barreto, a sua independência. «Em Portugal, mesmo depois de fundado o Estado democrático, é difícil ser-se independente. Num país marcado pela omnipresença do Estado, por uma economia oligárquica, por uma igreja hegemónica, por partidos políticos inseguros e por umas classes médias com pouca história e parcos meios, a independência é um bem raro», destacou.
Barreto afirmou ainda que os que discutem a fundação «debatem sempre a questão do seu elitismo». «Os que condenam o elitismo - disse a concluir - confundem elites sociais com elites científicas e culturais. Não são a mesma coisa. Nas sociedades fechadas, coincidem em grande parte. Nas sociedades abertas, não necessariamente. Umas podem transformar-se noutras. Se a fundação trabalhar só com elites sociais, falha a sua missão. Se trabalhar para promover elites científicas, profissionais e culturais, então triunfa».
Segundo "Portugal Diário"
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