Os percevejos, parasitas noturnos conhecidos por infestar camas e causar incômodo a milhões de pessoas, podem ter se tornado uma praga global não por acaso, mas como resultado direto do estilo de vida urbano adotado pelas primeiras civilizações. Essa é a conclusão surpreendente de um novo estudo conduzido por cientistas especializados em arqueoentomologia e história ambiental.
A pesquisa analisou fósseis de percevejos e seus traços genéticos preservados em sítios arqueológicos datados de até 3 mil anos, localizados no Oriente Médio e em partes da Ásia Central. Os dados mostram que a explosão populacional desses insetos coincidiu com o surgimento das primeiras cidades permanentes. Em outras palavras, ao abandonar a vida nômade e se concentrar em aglomerados urbanos, os seres humanos criaram o ambiente ideal para a proliferação dos percevejos. Os detalhes foram publicados em uma matéria do jornal britânico The Guardian.
De acordo com os cientistas, a densidade populacional das cidades antigas, aliada a estruturas arquitetônicas com múltiplos cômodos, tecidos e camas compartilhadas, proporcionou abrigo, alimento e estabilidade térmica para esses insetos se reproduzirem em escala sem precedentes. A presença contínua de humanos em ambientes fechados criou uma relação parasitária constante, permitindo que os percevejos evoluíssem para se especializar exclusivamente em sangue humano.
Além disso, os pesquisadores destacam que os registros fósseis mostram uma clara diferenciação entre linhagens de percevejos pré-urbanos e aqueles associados a áreas urbanizadas. Os primeiros eram mais esparsos e menos adaptados ao convívio humano, enquanto os percevejos urbanos modernos apresentaram adaptações genéticas específicas para localizar e sobreviver perto de hospedeiros humanos, incluindo resistência a temperaturas extremas e a certas substâncias químicas.
Curiosamente, a transição para estruturas sociais mais organizadas também teve um papel importante. Com a formação de cidades-estado, fortalezas e comércio inter-regional, os percevejos passaram a viajar com mercadorias, roupas e até tropas militares, expandindo seu território geográfico em sincronia com as rotas humanas. Dessa forma, o processo de urbanização, frequentemente celebrado como avanço civilizacional, também pavimentou o caminho para a ascensão global desses parasitas.
O estudo levanta ainda questões atuais sobre a resistência crescente dos percevejos modernos a inseticidas e medidas de controle tradicionais. Os autores apontam que o histórico evolutivo do inseto mostra uma notável capacidade de adaptação, o que torna difícil erradicá-lo por completo. Eles sugerem que compreender os padrões históricos de expansão pode oferecer pistas sobre novas formas de combate mais eficazes.
Para os cientistas, a lição principal é que o comportamento humano, mesmo quando motivado por progresso, pode ter consequências ecológicas inesperadas. O caso dos percevejos serve como exemplo de como a domesticação de espaços e a criação de ambientes urbanos não apenas moldam a vida humana, mas também a evolução de espécies que vivem à nossa sombra.
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