Pesquisadores descobriram pistas surpreendentes sobre a trajetória evolutiva dos neandertais ao analisar uma parte pouco explorada do corpo: o ouvido interno. Segundo um estudo recente, mudanças estruturais nessa região anatômica sugerem que a espécie passou por um evento catastrófico de redução populacional há dezenas de milhares de anos. Essa descoberta pode alterar significativamente o que se sabe sobre a extinção dos neandertais e seu lugar na história da humanidade.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe internacional de antropólogos e paleogeneticistas, que utilizaram imagens de tomografia computadorizada para estudar fósseis de neandertais encontrados em diferentes regiões da Europa. As variações anatômicas identificadas nos canais semicirculares do ouvido interno indicam um estreitamento genético associado a um declínio drástico no número de indivíduos. As conclusões foram divulgadas no site científico Earth.com.
De acordo com os autores do estudo, as alterações no ouvido interno são consistentes com o que seria esperado após um gargalo genético, ou seja, um momento em que a diversidade genética de uma população se reduz drasticamente devido à perda de muitos indivíduos. Esse tipo de evento pode deixar marcas visíveis em características anatômicas herdadas, como é o caso das estruturas vestibulares responsáveis pelo equilíbrio e orientação espacial.
O estudo aponta que esse colapso populacional provavelmente ocorreu entre 100 mil e 70 mil anos atrás, coincidindo com um período de grandes mudanças climáticas na Eurásia. Oscilações extremas de temperatura, escassez de alimentos e competição com outras espécies humanas, como os denisovanos e os primeiros Homo sapiens, podem ter sido fatores cruciais para esse declínio acentuado.
Um dos aspectos mais inovadores da pesquisa é a utilização do ouvido interno como marcador populacional. Diferente de ossos mais expostos e suscetíveis a variações ambientais e desgaste, o ouvido interno é protegido pelo osso temporal e tende a preservar suas características originais por milhares de anos. Isso o torna uma fonte confiável de informação sobre a biologia evolutiva de espécies extintas.
Os dados também sugerem que os neandertais, embora tivessem se espalhado por vastas áreas da Europa e do Oriente Médio, mantinham uma população relativamente pequena e fragmentada. Essa vulnerabilidade demográfica os teria deixado especialmente suscetíveis a eventos de extinção local e à perda irreversível de diversidade genética — fatores que contribuem para a extinção completa de uma linhagem ao longo do tempo.
Os pesquisadores planejam aplicar a mesma metodologia em fósseis de outras populações humanas arcaicas para investigar se padrões similares de colapso demográfico podem ter ocorrido em paralelo. O objetivo é traçar um panorama mais completo das forças que moldaram a história evolutiva da humanidade.
Para a comunidade científica, esse estudo reforça a importância de métodos multidisciplinares e da microanatomia na paleontologia. E para o público em geral, oferece um vislumbre emocionante — e um tanto melancólico — de como mesmo os grupos humanos mais adaptados podem sucumbir às pressões do ambiente e do tempo.
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