Vergonha na cara

O historiador Capistrano de Abreu (1853-1927) é um respeitado intelectual brasileiro. É dele a frase "Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por:  Artigo único - Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara."  Não estava brincando; foi um desabafo do conhecedor das raízes brasileiras. 

Nossa história começa no descalabro.  As Capitanias Hereditárias, plano português para colonizar o Brasil, não deram certo.  Foram criadas em 1534, e dividiam o Brasil em faixas, a serem governadas por nobres protegidos pela coroa de Portugal.  O objetivo era a colonização, o desenvolvimento e a defesa contra invasores estrangeiros no território.

Entre outros direitos e privilégios, podiam os donatários, nome dado aos governadores das capitanias, explorar terras, julgar cidadãos, criar cartórios, receber percentual sobre riquezas minerais encontradas, geralmente ouro e pedras preciosas e mais um sem número de benefícios.  Não deram certo e foram extintas em 28 de fevereiro de 1821.

Parece que em pleno século XXI ainda vivemos sob o domínio dos Governadores-Gerais e donatários.  O interesse particular continua dominando nosso país.  Este interesse não é de países estranhos ou grandes companhias mundiais.  É feito única e exclusivamente pelos poderes da nação - leia-se executivo e legislativo.  O país atravessa uma grande crise financeira, e, sobretudo moral.  O desvio da coisa pública, como está provado no rombo que sofreu nossa maior empresa, a Petrobras.  O balanço foi publicado em 22 de abril deste ano, quando fizemos 515 anos de descobertos.  O desvio foi de 6,2 bilhões de reais, segundo a empresa.  Sem discussões, portanto.

Que faz o Congresso Nacional?  Aprova um aumento de três vezes o fundo eleitoral dos partidos.  Nunca foi pequeno, muito menos desprezível.  E a Senhora Presidente da República, atualmente sem o menor apoio político legislativo, aprova a medida para agradar aos parlamentares.  A questão não é de partido isolado.  Todos os existentes no país foram beneficiados.

Ao que tudo indica, nunca foi mais verdadeira a afirmação de Capistrano.        

Jorge Cortás Sader Filho é escritor

 

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