O "combate à burocracia" tem sido o tema central da oposição russa, desde o partido "Yabloko" aos comunistas. Na sua presente mensagem, o Presidente Putin deixou bem claro que, para ele, a "ofensiva da burocracia contra as liberdades individuais civis, económicas e sociais" não é uma imagem de retórica, mas um grande problema interno, tendo, possivelmente, assim apoiado os deputados da bancada "Rússia Unida" que sugeriram, na semana passada, promover uma discussão dentro do partido sobre a problemática da burocracia, liberdades civis e os valores democráticos.
Todavia, Putin não deixou espaço para a discussão. O seu diagnóstico é bem claro: "A nossa burocracia representa, em grande medida, uma casta fechada e arrogante, entendendo os interesses nacionais como uma das formas de negócio". A atitude do Presidente para com a casta burocrática é unívoca. "Não temos a intenção de entregar o País à burocracia corrupta e ineficaz" - disse Vladimir Putin.
Esta frase do Presidente russo pode ser interpretada como resposta indirecta a numerosas perguntas sobre a passagem da direcção em 2008, a hipótese de terceiro mandato presidencial de Putin, o seu sucessor e eventuais emendas à Constituição.
A reforma administrativa iniciada por Vladimir Putin em 2000 levou inevitavelmente ao reforço da burocracia russa e, num sentido mais amplo, de toda a classe de gestores, sejam administrativos, partidários ou corporativos. A rigor, eles, desde já, são muito influentes e tornar-se-ão ainda mais fortes e influentes em 2008. De qualquer maneira, é, desde já, óbvio que o futuro Presidente do país será um deles. Daí, os futuros riscos mencionados por Putin, ou seja, a escolha entre o "salto" e a "estagnação". No entanto, Putin não teria conseguido reforçar o Estado nem a economia sem reforçar a burocracia. Por outro lado, a actual qualidade da burocracia não é do seu agrado nem da maioria da sociedade russa. Claro que Putin não poderá nem quererá passar o poder a uma burocracia como esta.
A questão mais importante é como acabar com a corrupção e ineficácia da actual burocracia. Muitos prefeririam não respondê-la nem levantá-la. Mas terão de fazer o primeiro e o segundo. Um dos instrumentos será a concorrência entre os partidos políticos implantada actualmente na Rússia. Como disse Vladimir Putin, é preciso conceder aos partidos políticos, que vencerem as eleições regionais, o direito de propor ao Presidente uma candidatura a governador regional. Por outras palavras, uma campanha bem sucedida permitirá aos partidos vencedores formar, de acordo com o seu procedimento democrático interno, um corpo de gestores regionais próprio e, depois, sob o controlo da oposição, provar aos eleitores a sua honestidade e eficácia. Seria lógico, neste contexto, avaliar a actuação das autoridades do ponto de vista das liberdades civis e valores democráticos.
Com o tempo, esta experiência poderia ser estendida aos escalões federais do poder com vista à formação do governo do país. Claro que a corrupção, escândalos e outros fenómenos negativos atingem igualmente os partidos políticos. Mas tal esquema é de qualquer maneira melhor do que a luta selvagem pelo poder que marcava a época anterior da nova política russa.
Hoje em dia, a selecção deve ser civilizada e racional. Esta poderá ser a principal meta da reforma administrativa de Vladimir Putin.
Yuri Filippov observador político RIA "Novosti"
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter