Dança contemporânea no TCSB, na abertura do Citemor
A Escola da Noite acolhe no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, a abertura do 38.º Citemor - Festival de Montemor-o-Velho. Dinis Machado e Tiago Cadete são os artistas convidados pelo Festival e apresentam na sexta-feira e no sábado, respectivamente, os espectáculos "Paradigma" e "Alla Prima". Os bilhetes custam o que os espectadores quiserem pagar e já podem ser reservados, pelos contactos habituais do Teatro.
O Citemor - Festival de Montemor-o-Velho continua a dar provas de vitalidade e de capacidade de resistência. De acordo com os próprios organizadores, a edição deste ano foi confirmada "in extremis": as condições mínimas para que pudesse realizar-se foram garantidas há poucas semanas. Consegue-se assim evitar a interrupção do percurso a todos os títulos notável deste projecto tão singular no panorama das artes performativas em Portugal.
A Escola da Noite associa-se à boa notícia e tem uma vez mais o prazer e o privilégio de colaborar, este ano com a honra acrescida de receber os dois espectáculos de abertura: os solos de Dinis Machado e Tiago Cadete, ambos a actuar pela primeira vez no palco do TCSB. A parceria entre A Escola da Noite e o Citemor vem de longe e tem assumido diversas formas ao longo dos anos. Desde que o grupo de Coimbra assumiu a programação do Teatro da Cerca de São Bernardo, esta sala tem podido receber várias das propostas do Festival, em particular na área da dança contemporânea. Entre as características que tornam o Citemor um projecto tão especial no nosso país, A Escola da Noite salienta o lugar conferido à criação artística e o apoio e o acompanhamento que o Festival presta aos artistas, através de residências e de co-produções. Anos de prática continuada neste sentido têm contribuído de forma muito significativa para o desenvolvimento do repertório nacional contemporâneo no domínio das artes performativas. Ao mesmo tempo, o Citemor tem sido um palco privilegiado para a internacionalização de dezenas de artistas portugueses, graças às relações que o Festival mantém com parceiros de outros países, com destaque para Espanha. Por outro lado ainda, o Citemor tem sido a primeira porta de entrada em Portugal de artistas hoje consagrados, também graças a quem, como este Festival, soube acreditar e apostar neles no tempo certo. Angelica Liddell, Olga Mesa e Rodrigo García são apenas alguns dos mais elucidativos exemplos deste insubstituível papel desempenhado pelo Citemor.
Paradigma, de Dinis Machado
O espectáculo de abertura da edição deste ano terá lugar na sexta-feira, dia 5 de Agosto, pelas 21h30. Nas palavras do próprio autor/intérprete, "Paradigma" é "uma dança de um exotismo de lado nenhum", "um reclamar ritualista de diferença e cidadania", construído a partir de "referências paradoxais", vindas "dos lugares onde nascemos, dos lugares onde vivemos, de lugares onde nunca estivemos e sobretudo de lugares ficcionais".
O espectáculo reflecte sobre a noção de "corpo", enquanto "uma peça mecânica de um corpo orgânico maior - o próprio palco. Este corpo move-se como se estivesse a manobrar algo cujas consequências nunca são directas ou evidentes". Um corpo "que, através desta prática, entra num processo de abstracção, tentando fugir do seu próprio antropomorfismo" e "distante da busca por uma qualquer essência". "Paradigma" - sintetiza - é "uma cerimónia vinda de um tempo antes da divisão entre arquiteto e construtor, onde se produzem símbolos abstractos com materiais complexos e uma engenharia caseira".
Dinis Machado nasceu em 1987 e é formado em Dança e Artes Visuais. Radicado em Estocolmo desde 2012, trabalha como intérprete desde 2005 e como coreógrafo dos seus próprios trabalhos desde 2007.
Alla Prima, de Tiago Cadete
"Alla Prima", estreado já em 2016 em Lisboa, no âmbito do Festival Temps d'Images, aborda os clichês e os lugares comuns sobre "o Brasil, os brasileiros e a brasilidade". Numa entrevista recente, Tiago Cadete salientava a forma como "a identidade do corpo brasileiro está ainda tão marcada pelo olhar do outro: do europeu, do colonizador".
O título do espectáculo vem das artes visuais e em particular da pintura: "Alla prima" é uma técnica em que o artista aplica várias camadas de tinta umas sobre as outras, sem esperar que sequem, sobrepondo cores e imagens. Neste trabalho de Tiago Cadete, explica Raphael Fonseca, consultor de História da Arte, é o corpo do artista que "responde directamente a uma série de descrições sobre o que poderiam ser estes 'corpos brasileiros'. Para além da narrativa histórica eurocêntrica que criou a teoria das três raças no Brasil - onde as populações africanas, europeias e indígenas seriam ingredientes deste caldeirão cultural -, sua anatomia se transforma num receptáculo de múltiplos criadores, culturas, etnias e proposições plásticas".
Tiago Cadete vive entre Portugal e o Brasil, onde frequenta o Mestrado em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. De acordo com o próprio, o seu trabalho situa-se na fronteira entre o Teatro, a Dança e as Artes Visuais. É artista associado da estrutura EIRA. Pela primeira vez no TCSB, Tiago Cadete apresenta "Alla Prima" a 6 de Agosto, sábado, pelas 21h30.
Como tem sido habitual nas mais recentes edições do Citemor, é o espectador que define o preço do bilhete que quer pagar. É igualmente possível efectuar reserva de bilhetes, junto do Citemor (926 962 795 / [email protected]) ou directamente para o Teatro (239 718 238 / 966 302 488 / [email protected]).
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
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